Número de pessoas estimado na cracolândia sobe 47% em dois meses

População em situação de rua aumenta na região e é vítima de violência policial

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A estimativa de pessoas em cena aberta na cracolândia chegou a 581 no mês de março. Os números são calculados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) por meio de fotos aéreas e foram solicitadas pela agência de dados Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação.

Segundo os valores disponibilizados pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), a concentração de pessoas na cracolândia voltou a crescer a partir de dezembro do ano passado, quando havia 328 pessoas no local. Em janeiro deste ano já eram 394 e chegou a 581 em abril. É o maior número desde o início da pandemia de Covid-19.

As estimativas da Guarda Civil Metropolitana são realizadas a partir de fotos tomadas por naves não tripuladas todos os dias pelas manhãs, um processo conhecido como “Método de Jacobs”. A imagem permite o cálculo do “fator de densidade”, que indica quantas pessoas por m² estão no local. O público estimado é obtido pela divisão da área do local por fator de densidade. A GCM passou a estimar o número a partir de 2019.

O Brasil vive um momento econômico e social preocupante na pandemia. A demanda por doações voltou a crescer em 2021 e o ritmo das doações caiu em relação ao início da crise sanitária. Segundo pesquisa da Vox Populi, o ano passado terminou com 19 milhões de pessoas passando fome no país e 117 milhões de brasileiros com algum grau de insegurança alimentar.

Em abril, eram mais de 14 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados no Brasil. O auxílio emergencial esteve suspenso até o mês de abril e o retorno do benefício é bem inferior ao do ano passado, tanto em valor quanto em alcance.

Violência policial

A mesma Guarda Civil Metropolitana que estima o número de pessoas na cracolândia é acusada de violência contra a população em situação de rua. No dia 5 de abril, o dossiê Não é confronto, é massacre elaborado pela organização Craco Resiste revela o uso de força excessiva e desnecessária na região. Vídeos analisados pela equipe da Craco Resiste mostra ataques abruptos com spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo, além de socos e empurrões quando agentes de segurança pública não sabem que estão sendo filmados. Tudo isso enquanto as pessoas estão sentadas, distraídas ou apenas passando pela região.

Apenas no dia 8 de dezembro do ano passado, somando as balas de borracha e granadas despendidas pela GCM na região da Cracolândia, o custo atingiu R$ 14.201,28. Os valores foram solicitados pela organização, via Lei de Acesso à Informação, à Secretaria Municipal de Segurança Urbana.

A organização solicitou também o valor de munições por unidade. O preço da unidade da bala de borracha é R$ 31,32 e a granada de gás lacrimogêneo é comprada por R$ 356,20 a unidade. A Craco Resiste converteu o total de munições utilizados na região entre setembro de 2020 e março de 2021 em valores monetários, o que corresponde a pelo menos R$ 60.247,12. Com esse montante seria possível distribuir mais de 6 mil refeições durante a pandemia. Salários, gasolina das viaturas e revisão dos carros não entram na conta.

A prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, disse em nota que as imagens não permitem uma análise apropriada “porque não mostram toda a dinâmica das ocorrências, mas apenas um recorte da ação dos guardas”.

Com informações de Agência Brasil e Fiquem Sabendo

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