Pfizer apresenta remédio oral preventivo contra o coronavírus

A farmacêutica Pfizer revelou o seu candidato clínico antiviral oral anticovid-19 PF-07321332 na terça-feira na reunião da American Chemical Society Spring 2021. A empresa já fabrica uma das vacinas contra a covid-19 que vem sendo usada em vários países. Dafydd Owen, diretor de química medicinal da Pfizer, apresentou o composto nesta terça (6) em um simpósio da Divisão de Química Medicinal Americana.

O medicamento já demonstrou em estudos in vitro, segundo a farmacêutica, ser um “potente inibidor de proteases com atividade antiviral contra o (vírus) Sars-CoV-2” e outros coronavírus, o que sugere seu “potencial” para o tratamento da covid-19 e outras “ameaças”.

“Desenvolvemos o PF-07321332 como uma potencial terapia oral que poderia ser receitada com o primeiro sinal de infecção, sem exigir que os pacientes sejam hospitalizados ou fiquem em terapia intensiva”, disse o cientista-chefe da empresa, Mikael Dolsten. “Dada a forma como o Sars-CoV-2 está em mutação e o impacto global contínuo da covid-19, parece provável que o acesso a opções terapêuticas, tanto agora como depois da pandemia, será essencial.”

Os inibidores de protease são um grupo de medicamentos que inibem as enzimas que um vírus necessita para se replicar em células humanas, e têm sido utilizados para tratar outros patógenos virais como o HIV e o vírus da hepatite C.

O composto é o primeiro administrado por via oral na clínica que tem como alvo a protease principal (também chamada de protease 3CL) de SARS-CoV-2, o vírus que causa covid-19. Ao inibir a protease principal, o PF-07321332 impede o vírus de clivar longas cadeias de proteínas nas partes de que necessita para se reproduzir. 

De acordo com a Pfizer, o ensaio clínico do medicamento oral, na sua fase inicial, foi testado com doses únicas e está agora “progredindo para múltiplas doses ascendentes” em adultos saudáveis para testar a sua “segurança e tolerabilidade”.

No ano passado, a Pfizer relatou o PF-07304814 , um inibidor de molécula pequena diferente da principal protease da SARS-CoV-2. O trabalho para desenvolver esse composto começou durante o surto 2002-2003 de SARS-CoV, síndrome respiratória aguda grave. Mas essa molécula só pode ser administrada por via intravenosa, o que limita seu uso a ambientes hospitalares.

Como o PF-07321332 pode ser tomado por via oral, como um comprimido ou cápsula, ele pode ser administrado fora dos hospitais se for seguro e eficaz. Pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2 podem tomá-lo como medida preventiva, por exemplo.

“Em um futuro próximo, esperamos ver surtos contínuos de covid-19. E, portanto, como acontece com todas as pandemias virais, é importante termos uma caixa de ferramentas completa sobre como lidar com isso ”, disse Charlotte Allerton, chefe de design de medicamentos da Pfizer, à C&EN.

PF-07321332 foi desenvolvido do zero durante a atual pandemia. É um inibidor covalente reversível que reage com um dos principais resíduos de cisteína da protease. Owen também discutiu a química envolvida na ampliação do composto. Os primeiros 7 mg do composto foram sintetizados no final de julho de 2020. Encorajada pelos primeiros dados biológicos, a equipe da Pfizer teve como objetivo aumentar a síntese. No final de outubro, eles haviam feito 100 g do composto. Apenas duas semanas depois, os químicos aumentaram a síntese para mais de 1 kg. Owen disse que 210 pesquisadores trabalharam no projeto.

Ana Martinez, que estuda os tratamentos covid-19 no CSIC do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha e também apresentou durante o simpósio, disse à C&EN que ter um antiviral covid-19 é de importância crítica. Ela antecipa ansiosamente os dados de segurança e eficácia dos ensaios de PF-07321332. “Esperamos ter um novo medicamento para lutar contra a covid-19”, disse Martinez. E como a molécula tem como alvo a protease principal, ela disse que pode ser útil para combater outros coronavírus e prevenir futuras pandemias.