Encontro sobre Questões Internacionais debate crise e multipolaridade

Voltado à atualização da militância e dos dirigentes comunistas acerca da conjuntura mundial, evento é promovido pela secretaria de Relações Internacionais do PCdoB e a Fundação Maurício Grabois.

Voltado ao debate e à atualização da militância e dos dirigentes comunistas acerca da conjuntura mundial, teve início, na manhã desta quinta-feira (8), o Encontro Nacional sobre Questões Internacionais, promovido pela secretaria de Relações Internacionais do PCdoB e a Fundação Maurício Grabois.

A abertura contou com as participações da presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos; do vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da legenda, Walter Sorrentino; do presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, além de Rosanita Campos, do Instituto Cláudio Campos, e Jamil Murad, presidente do Cebrapaz.

Em sua fala, Walter Sorrentino destacou a importância do encontro para a atualização política do PCdoB, que neste ano realizará seu 15º Congresso. Rosanita Campos discorreu sobre a importância e o crescimento da China hoje, lembrando da contribuição do dirigente Haroldo Lima — falecido no dia 24 de março, vítima da Covid-19 — nas formulações do partido no âmbito internacional e em especial sobre o país asiático.

Jamil Murad, presidente do Cebrapaz, destacou a importância do encontro para a formação da militância a partir de uma ótica anti-imperialista, de independência e soberania dos povos e emancipação dos trabalhadores.

Multipolaridade

Após também ressaltar o legado de Haroldo Lima, a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, abriu sua análise conjuntural destacando: “A luta pela multipolaridade é a marca principal da nossa época. É um momento disruptivo, ponto de inflexão internacional, com mudanças profundas e intensa luta entre velhas potências — sobretudo os EUA — e as nações da periferia e que buscam construir seu projeto soberano”.

A presidenta salientou que os países que procuram trilhar o seu próprio caminho têm o Estado cumprindo papel central em seu desenvolvimento interno e na reafirmação de sua soberania. Ela lembrou ainda que sob a presidência de Barack Obama, os Estados Unidos tiraram do seu foco de atuação a “guerra ao terror”, mas renovaram sua política hegemonista por outras vias, buscando cooptar países e conter outras potências, como a China e a Rússia.

Outro aspecto importante do atual cenário global apontado pela dirigente é a disputa pelos novos modelos científicos e tecnológicos em torno da inovação. Essas mudanças, pontuou, “produzem impactos profundos de largo alcance na área produtiva, interferindo diretamente no mundo do trabalho”.

Neste cenário, explicou, crescem as ameaças à paz e à soberania dos povos. “As potências imperialistas utilizam de todos os instrumentos para manter seu status quo. Mudam as técnicas, mas não há renúncia do uso da força e do intervencionismo, ao contrário”, disse. Ela citou, como exemplo, ações de desestabilização por meio de ataques cibernéticos, notícias falsas e disputas no âmbito da academia com ideias que visam fragmentar as nações.

Essas questões e a própria crise do capitalismo se refletem no plano da política com a emergência de forças obscurantistas e o fortalecimento da financeirização e do rentismo, resultando em maior concentração de riqueza e no recrudescimento da pobreza. Como reflexo, apontou, vemos o flerte inescrupuloso das elites com forças de extrema-direita com o objetivo de manter seus lucros e seu poder, como ocorre no Brasil com o apoio de setores econômicos diversos ao presidente Jair Bolsonaro, mesmo diante de toda a destruição e mortes causadas pelo seu governo. “O capitalismo é antagônico à democracia, por isso, é visível sua faceta obscurantista e autoritária”, disse Luciana.

Mesmo neste cenário de retrocessos, a dirigente do PCdoB avalia que os povos têm conseguido vitórias importantes contra a direita, como ocorreu na Argentina, na Bolívia e no Equador. “As derrotas da direita nos dão sinais de vigor”, pontuou, destacado que “vivemos um momento complexo da nossa soberania e precisamos derrotar Bolsonaro”. O presidente, disse Luciana, “destruiu uma construção democrática de décadas e rompeu com princípios da política externa. Nossa tradição é de relação fraterna e o país se posicionou como lacaio subserviente a Trump”.

A dirigente acrescentou ainda que o acúmulo do Brasil na área da saúde e da ciência poderia ter feito do país um exportador de vacina. “Mas, nos tornamos epicentro da maior pandemia mundial dos últimos 100 anos,  incubadores de variantes do vírus. Hoje, cerca de 40% dos óbitos do mundo ocorrem aqui, é uma morte a cada 20 segundos”.

Para reconstruir o Brasil, Luciana defendeu a necessidade de edificar um novo projeto nacional de desenvolvimento, o que depende, neste momento, da construção de convergências, como a frente ampla, em torno de marcos civilizacionais para que seja possível sair da crise atual.

Pandemia e crise

Na mesma linha, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, apontou que nessa conjuntura, “a pandemia provoca uma crise sanitária de vulto, revelando e acentuando as consequências danosas da financeirização global capitalista. Também põe em xeque o neoliberalismo e o austericídio econômico que afetam a grande maioria da população e países num momento de avanços tecnológicos que contribuem para o aumento da crise”. Tal desenvolvimento, agregou Renato, “não está voltado para avanço social”, tendo como efeito a elevação da crise social com degradação do trabalho, aumento sensível dos deserdados e da desigualdade e aguda disputa da elite com tendência crescente ao neofascismo.

Renato acrescentou ainda que a pandemia acirra a transição e a crise da hegemonia dos EUA, intensificando sua agressividade imperialista, com novas formas de colonização,  agravando tensões e instabilidades e aumentando a intervenção do imperialismo contra a multipolaridade.

Neste cenário, avalia, se impõe como desafio da contemporaneidade brasileira a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “O Brasil precisa criar condições para acordos de cooperação e pactos que levem em conta nossos interesses e as grandes transformações que estamos projetando e fazem parte do novo projeto nacional de desenvolvimento”. Neste sentido, colocou Renato, a China é um grande parceiro a partir de uma cooperação mútua e soberana. Mas, salientou, isso só será possível sem Bolsonaro no poder. “Estamos num grande buraco, é preciso ter plataforma para derrotá-lo, em defesa da vida, da democracia e pela retomada do desenvolvimento”.

Programação

O Encontro Nacional sobre Questões Internacionais continua na tarde desta quinta-feira (8) nas redes sociais do PCdoB, no Facebook e Youtube. Confira:

Face: https://www.facebook.com/203326359677581/posts/4179359672074210/

YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=zdfwanaGpHs

Na sexta-feira (9), o debate continua. Às 9h30 com a Mesa: Mundo em Transição – A luta anti-imperialista e pela paz hoje. Com as palestras de Mônica Valente (FSP), José Reinaldo (Secretário Geral do Cebrapaz), Bia Lopes (Oclae) e Raul Carrion (Executiva Nacional do Cebrapaz). Coordenado por Márcio Cabreira.

Veja a programação completa desta sexta:

9h30 – Mesa: Mundo em Transição – A luta anti-imperialista e pela paz hoje

Coordenador: Márcio Cabreira

Palestrantes: Mônica Valente (FSP), José Reinaldo (Secretário Geral do Cebrapaz), Bia Lopes (Oclae) e Raul Carrion (Executiva Nacional do Cebrapaz)

Mesas internas:

14h – Mesa 1: Ação Internacionalista do PCdoB

Comissão de Relações Internacionais – Fórum de Mulheres: Liège Rocha, André Tokarski, Socorro Gomes e Jamil Murad

16h – Mesa 2: A frente internacional em relação ao próximo Congresso e aos 100 anos do PCdoB: Walter Sorrentino, Wevergton Brito, Ana Prestes, Raul Carrión e José Reinaldo

18h – Encerramento com o secretário Walter Sorrentino e aprovação do documento do encontro.