Thiago de Mello, 95 anos: A poesia de um mestre, por Gilberto Freyre

Para sociólogo, “o poeta Thiago dá aos poetas novos do Brasil um bom exemplo que é o de não ser complacente consigo mesmo”

O poeta amazonense Thiago de Mello completa 95 anos nesta terça-feira (30). Para celebrar a data, o Prosa, Poesia e Arte, seção cultural do Portal Vermelho, publica, a cada dia, poemas de sua autoria, entrevistas com o autor ou ensaios sobre sua obra. É o caso deste texto do sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987), publicado na revista O Cruzeiro. Confira.

O sociólogo Gilberto Freyre e o poeta Thiago de Mello

A POESIA DE UM MESTRE

Por Gilberto Freyre

O poeta Thiago de Mello toma tão de assalto o seu lugar entre os melhores poetas do Brasil, que parece um salteador ou um ladrão. Mas é simplesmente um poeta que fez o seu aprendizado em silêncio. Que aguardou seus cadernos de caligrafia em vez de publicá-los. Que decidiu só aparecer com a letra já segura de um mestre.

Um jovem e admirável mestre é o que ele é. Seus versos têm um viço da de mocidade que não se deixa dominar de todo pela arte do tropical raro, desdenhoso de vitórias fáceis. Mas é uma mocidade concentrada e não derramada. Autocrítica e não encantada com todos os seus gestos, todas as suas palavras, todos os seus atrevimentos de ideia e de forma: complacência que caracteriza o mau narcisismo.

O poeta Thiago dá aos poetas novos do Brasil um bom exemplo que é o de não ser complacente consigo mesmo. O de só aparecer com versos que excedam o fácil lirismo de que é capaz quase todo moço, quase todo adolescente, quase todo brasileiro, em de efervescência sentimental.

Sua poesia excede de tal modo esse fácil lirismo que é a poesia de um mestre e não a de um principiante indeciso e cheio de dedos. Há nela uma segurança, uma força, um domínio sobre a palavra que não se confunde, entretanto, com a segurança ou a força ou o domínio sobre a palavra, dos lógicos.

Seu grande poder é o poético. Daí o mistério em que se alongam, em seus versos, palavras que tomam um novo sentido, nova cor, nova vibração, ao lado daquelas que, por convenção ou rotina, são suas inimigas.

O poeta aproxima-as com uma audácia lírica de que resultam novas e fortes sugestões poéticas, novos e provocantes mistérios para a imaginação, novas aventuras para os olhos e os ouvidos de quem lê em voz alta versos que chegam a ser pouco brasileiros pela sua densidade e concentração.

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