Entra ministro, sai ministro e o problema continua: Bolsonaro

Questionador da ciência e das orientações de saúde, Araújo impediu que o Brasil se unisse a outras nações que defenderam quebra de patente de vacinas na OMC

Ernesto Araújo - (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Depois de envergonhar seguidamente o Brasil, eis que Ernesto Araújo deu adeus ao posto de chanceler do país nesta segunda-feira (29). Foi embora sem nunca ter estado à altura da função que lhe competia no ministério das Relações Exteriores e da nação que representava. Foi tarde.

Expoente da ignorância bolsonarista em dois anos de atuação Araújo acumulou polêmicas e foi o principal cúmplice da desastrosa política externa de Jair Bolsonaro, que fez do Brasil pária internacional e o maior epicentro da pandemia da Covid-19. Foi graças à negligência e incompetência do olavista que o país perdeu a chance de comprar na China e em outros mercados doses suficientes para iniciarmos uma vacinação em massa contra a doença.

Diplomata de terceira linha, desde o início da crise sanitária Araújo colecionou declarações controversas, ao chamar de “projeto globalista” para um suposto “novo caminho do comunismo” o vírus que já tirou a vida de 312 mil pessoas e se disseminou entre mais de 12 milhões de brasileiros. Provocou mal-estar com a China, maior parceiro comercial do Brasil, ao envolver-se nas absurdas declarações proferidas pelo filho 03 do presidente, que imputou à China a responsabilidade pela epidemia global.

Questionador da ciência e das orientações de organizações internacionais de saúde, o Araújo impediu que o Brasil se unisse a outras nações que defenderam a quebra de patente de vacinas na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que permitiria o acesso facilitado aos imunizantes. Também criou atritos diplomáticos ao sugerir a mudança da embaixada em Israel para Jerusalém, escancarou preferências político-partidárias que deixaram o país ainda mais isolado internacionalmente, até mesmo de nações vizinhas, como a Argentina, e fez questão de alinhar-se ideologicamente ao derrotado Donald Trump até mesmo para questionar mudanças climáticas e justificar a lamentável gestão do meio ambiente do governo em ruínas.

Araújo cumpriu a própria promessa, feita em outubro do ano passado, de que se a nova política externa do Brasil “faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. Como resumiu uma integrante do ministério ao comentar a saída do vergonhoso chanceler, “Jair Bolsonaro prometeu uma diplomacia sem ideologia e, com Ernesto Araújo, entregou ideologia sem diplomacia”.

Ernesto Araújo é o segundo ministro de Jair Bolsonaro a cair, pressionado pela catastrófica gestão da maior crise sanitária, econômica, social e política do século. Depois do inepto general da ativa, Eduardo Pazuello, a queda do cúmplice do capitão Cloroquina dá a dimensão da incompetência generalizada de um governo sem rumo, sem prumo e sem condições de seguir.

Com secretarias de saúde estaduais e municipais reportando recordes diários de mortes, sistemas hospitalares em colapso, alto ritmo de contágio, novas variantes do vírus e lentidão no plano nacional de vacinação, além da iminência do caos funerário por falta de covas para enterrar vítimas da Covid-19, a saída de Araújo, no entanto, não nos consola. Entra ministro, sai ministro e o problema segue lá e se chama Jair Messias Bolsonaro.

Artigo originalmente publicado na Revista Fórum.

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