Prefeitos de 1.300 cidades indicam falta iminente de medicamentos

“Kit intubação” deve acabar nos próximos dias e o oxigênio também está com estoque reduzido em 709 cidades, segundo Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios.

Medicamentos necessários ao procedimento de intubação em estoque crítico nos hospitais | Foto: Itamar Aguiar/Fotos Públicas

O recorde de 3.650 mortes por Covid-19 desta sexta-feira (26) pode piorar nos próximos dias se o estoque de medicamentos para tratamento de casos graves da doença não for reabastecido. Mais de 1.300 prefeitos alegaram que os hospitais de suas regiões não conseguirão manter os atendimentos pela falta do “kit intubação”. O número representa 23% dos municípios do país. O desabastecimento de oxigênio também é um problema para 719 cidades.

Nas últimas semanas, o aumento de internações elevou a demanda por analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares usados na intubação de pacientes com Covid-19 internados em UTIs.   

Os dados são da pesquisa realizada pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios) junto aos prefeitos. O levantamento foi feito por telefone entre os dias 23 e 25 de março. Dos 5.568 municípios do país, 46,9% atenderam a pesquisa, que deve ser feita semanalmente segundo a CNM.

Entre os 2.611 prefeitos entrevistados, 82% disseram que ainda não receberam suprimentos de oxigênio nesta semana. A grande maioria restringiu o funcionamento de atividades aos finais de semana (88,4%) e paralisou as aulas presenciais (89%).

O lockdown foi implementado por 983 cidades e 2.127 determinaram toque de recolher à noite.

Nesta quinta-feira (25), as medidas restritivas foram criticadas mais uma vez pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso durante cerimônia de anúncio de apoio financeiro a Santas Casas. O presidente da República também distorceu fala da Chanceler da Alemanha Angela Merkel para argumentar contra o lockdown. Nas duas ocasiões, Bolsonaro colocou o desemprego e o fechamento de empresas como produto direto das medidas restritivas.

Investigação por cancelamento de compra

No início da semana, o subprocurador-geral da República, Lucas Rocha Furtado, entrou com uma representação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que o órgão investigue os motivos do Ministério da Saúde ter cancelado a compra de medicamentos do kit intubação, em agosto de 2020.

“[O TCU] decida pela adoção das medidas necessárias a apurar por que o Ministério da Saúde, negligenciando orientações técnicas do Conselho Nacional de Saúde, cancelou, em agosto de 2020, compra internacional de medicamentos do kit intubação, usado no tratamento da Covid-19, sendo que, atualmente, com o agravamento da pandemia, as reservas desses medicamentos estão no fim, obrigando médicos a recorrerem a drogas de terceira linha ou a sobrecarga de sedativos”, diz um trecho do documento enviado pelo Ministério Público Federal.

Abastecimento

O governo federal se reuniu com representantes da indústria farmacêutica nos dias 22 e 23 março. Na quarta-feira (24), foi anunciada a compra de 2,8 milhões de unidades de medicamentos que compõem o kit intubação utilizado no tratamento de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

“Os medicamentos começaram a ser distribuídos pelo Ministério da Saúde para todo o Brasil, em parceria com três empresas fabricantes”, disse o governo, em nota.

Segundo a pasta, os dados de consumo médio mensal recebidos do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) são enviados para as indústrias para equalizar os estoques.

O governo afirma o prazo máximo estipulado para que os medicamentos cheguem aos hospitais é de 72h. A pesquisa da CNM da próxima semana deve mensurar o impacto da compra no estoque dos hospitais.

Com informações de Folha de S.Paulo e CNN