Sob panelaços, Bolsonaro se pronuncia por 3 minutos

Bolsonaro muda discurso sobre vacina e esconde denúncias contra o governo na falta de coordenação contra a pandemia.

Política externa do governo Bolsonaro despreza multilateralismo - Foto: Isac Nóbrega/PR

O presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (23) um pronunciamento em cadeia de rádio e TV em que afirmou que o país, em poucos meses, será autossuficiente na produção de vacinas contra a covid-19. Na tentativa de convencer que mudou de opinião em relação à vacinação contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) convocou o pronunciamento em cadeia nacional para a noite desta terça-feira (23).

Só neste mês, o presidente cancelou três discursos na TV, quando ia atacara o controle da pandemia pelos governadores. Na ocasião, ele foi convencido a recuar devido ao risco de manifestações em todo o país. Foi o que ocorreu, hoje, mesmo com a novidade da defesa da vacina.

O presidente desdisse tudo que vem dizendo e fazendo para sabotar a vacinação e o controle da circulação do vírus por prefeitos e governadores. No terceiro mês da pandemia, com mais de três mil pessoas morrendo por dia, tudo que se sabe é que Bolsonaro não fez nada para garantir vacinação para todos. Apesar disso, seu discurso tenta convencer do contrário.

“Não sabemos por quanto tempo teremos que enfrentar essa doença, mas a produção nacional vai garantir que possamos vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir”, disse o presidente.

Bolsonaro afirmou que até o fim do ano estarão disponíveis mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população que precisa ser imunizada no país. Segundo o Ministério da Saúde, esse público soma 170 milhões de pessoas.

“Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la”, afirmou.

O chamado “Plano Vacina” é uma estratégia do Palácio do Planalto, composta de várias ações, para reverter a queda drástica de popularidade de Bolsonaro, conforme a pandemia avança sem sinal de estancar a sangria de mortes, colapso do sistema hospitalar e anuncia colapso do sistema funerário. As ações preveem pronunciamentos como este, assim como nas redes sociais e campanha de vacinação na TV, troca do ministro da saúde, e supostos investimentos para a campanha de imunização.

Acredita-se que o personagem que ataca governadores e prefeitos por medidas restritivas nas cidades para conter o contágio, não seja abandonado por Bolsonaro. Apenas vai incorporar a ele a retórica de defesa da vacina.

Acordos e desacordos

O presidente voltou a afirmar que o país enfrenta dois grandes desafios,  o vírus e o desemprego. “Em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome”, ressaltou, ignorando todas as vezes em que se pronunciou contra a vacinação e todas as resoluções, decretos e medidas provisórias assinadas por ele contrários ao controle da pandemia. Em suas redes sociais, ele se esforça em mostrar que tudo não passava de mentira da imprensa e da oposição.

Bolsonaro destacou que o Brasil usaria qualquer vacina aprovada pelos órgãos competentes e falou sobre os contratos assinados ao longo de um ano para a produção de imunizantes. O presidente citou o contrato com a Universidade de Oxford para a produção, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca e o acordo com o consórcio Covax Facility para a produção de 42 milhões de doses. 

O presidente disse que intercedeu pessoalmente junto à fabricante Pfizer para a antecipação de 100 milhões de doses que serão entregues até setembro desde ano e também com a Janssen, garantindo 38 milhões de doses. Aqui ele omite as denúncias na imprensa de que o laboratório ofereceu milhões de doses em meados de 2020, que foram recusadas pelo governo. Foram várias ofertas recusadas, ao ponto do laboratório não ter mais possibilidades de atender o Brasil, neste início de ano, quando o Ministério da Saúde finalmente resolveu fechar o contrato.

“Quero destacar que hoje somos o quinto país que mais vacinou no mundo. Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da federação, graças às ações que tomamos logo no início da pandemia”, destacou Bolsonaro, ao citar a classificação do país levando em conta o número absolutos de doses aplicadas, omitindo que, em termos proporcionais, o Brasil está acima do 70o. lugar entre os países que mais vacinam.  

“Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal. Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em suas famílias. Que Deus conforte seus corações!”, disse Bolsonaro, referindo-se pela primeira vez ao luto das vítimas da covid. 

Íntegra

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento

Boa noite,

Estamos no momento de uma nova variante do coronavírus, que infelizmente tem tirado a vida de muitos brasileiros.

Desde o começo, eu disse que tínhamos dois grandes desafios: o vírus e o desemprego. E, em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome.

Quero destacar que hoje somos o quinto país que mais vacinou no mundo. Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da federação, graças às ações que tomamos logo no início da pandemia.

Em julho de 2020, assinamos um acordo com a Universidade de Oxford para a produção, na Fiocruz, de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca e liberamos, em agosto, 1,9 bilhão de reais.

Em setembro de 2020, assinamos um acordo com o consórcio Covax Facility para a produção de 42 milhões de doses. O primeiro lote chegou no domingo passado e já foi distribuído para os estados.

Em dezembro, liberamos mais 20 bilhões de reais, o que possibilitou a aquisição da Coronavac, através do acordo com o Instituto Butantan.

Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito.

Hoje, somos produtores de vacina em território nacional. Mais do que isso, fabricaremos o próprio insumo farmacêutico ativo, que é a matéria prima necessária. Em poucos meses, seremos autossuficientes na produção de vacinas. Não sabemos por quanto tempo teremos que enfrentar essa doença mas a produção nacional vai garantir que possamos vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir.

Neste mês, intercedi pessoalmente junto à fabricante Pfizer para a antecipação de 100 milhões de doses, que serão entregues até setembro de 2021. E também com a Janssen, garantindo 38 milhões de doses para este ano.

Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas.

Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal.

Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em sua família. Que Deus conforte seus corações!

Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros.

Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la.

Deus abençoe o nosso Brasil.

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