21 de março: Shaperville, Bolsonaro e a política de Estado que mata

O vice-presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro) comenta as similaridades entre o Estado do apartheid sul-africano, que promoveu o massacre de Shaperville contra a população negra daquela província, e a ação genocida do governo de Jair Bolsonaro na pandemia

Edson França crédito: Carlos Scaldaferri

“Eles só queriam andar livremente pelo seu país. Foram recebidos por bala, metralhadora, cartucho cheio, tiro”. A frase é de Edson França, vice-presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), definindo o massacre de Shaperville no dia 21 de março de 1960 na África do Sul do Apartheid. Após o massacre em que morreram 69 pessoas e 186 ficaram feridas, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.

“Foi uma chacina na África. Mais ou menos como está acontecendo no Brasil de hoje onde Bolsonaro nega o direito à vida”. A população negra da província de Shaperville protestava pacificamente contra a Lei do Passe quando foram atacados pela política.  “A contagem dos mortos e feridos foi feita pelo Estado sul-africano, mas a gente sabe que o Estado mente a seu favor”, completou.

Edson reitera que, no caso do Brasil atual, a lógica é a mesma do massacre de 21 de março de 1960 quando a máquina do Estado foi usada para impor a morte. “Assim foi Shaperville, foi o apartheid e é assim que tem sido a conduta do presidente brasileiro em relação à pandemia. Jair Bolsonaro diz não à vacina, diz não ao auxílio emergencial, diz não à vida”.

“A população negra é a mais vulnerável, que mais sofre com o desemprego e tem sido a principal vítima da pandemia. Quando se pensa no dia 21 de março rememoramos uma terrível experiência que o Brasil não precisa viver.”, afirmou Edson.

Na opinião dele, que também é Secretário Nacional Adjunto de Movimentos Sociais do PCdoB, a luta contra o racismo exige o impeachment de Bolsonaro. “Ele é a antítese de tudo que construímos. Cada vitória de Bolsonaro é uma derrota da luta antirracista no Brasil”, enfatizou Edson. “Haja visto o que está acontecendo na fundação Palmares. É uma tentativa de sufocar e negar a existência do movimento negro e da população negra, forma de agir da elite racista e escravocrata do século XIX”.

O dirigente enfatizou que o racismo é um pensamento de dominação hegemônico que tem sido denunciado há três décadas pela Unegro com contribuições em políticas estratégicas para a luta antirracista como nos diálogos das cotas, Estatuto da Igualdade Racial, conferências da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). “Não queremos holofote. Queremos expor nossas teses na luta contra o racismo e se forem assimiladas não importa quem as invocou”.

De acordo com Edson, o brasileiro reconhece a existência do racismo. “Uma pesquisa da Folha de São Paulo publicada no tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares em 1995 mostrou à época que, além de reconhecer o racismo, os entrevistados conheciam alguém próximo da família que é racista ou que sofreu na pele os efeitos da discriminação”.

E como superar o racismo? Como se engajar na luta antirracista? Edson responde que um primeiro passo é se indignar com qualquer forma de injustiça, entre elas o racismo, a violência de gênero, a exploração dos trabalhadores, a homofobia. “Qualquer que seja o nível de opressão e injustiça vai entrar em choque com a possiblidade de ser um militante contra o racismo. Existem muitas formas de resistência algumas ficam na relação interpessoal e outras formas, como o movimento negro organizado, atuam contra o sistema que gera o racismo”.

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