Crises sanitária e econômica abalam base de apoio a Bolsonaro

Hoje, é possível identificar três grupos que predominam no bloco de apoio popular ao presidente. Dois deles podem abandoná-lo nas eleições 2022

A tragédia em curso no Brasil demoliu parte considerável da base de apoio ao Jair Bolsonaro. Com uma combinação amarga de duas crises – a sanitária e a econômica –, o presidente é alvo de uma crescente rejeição popular. Conforme pesquisa Datafolha divulgada nesta semana, 54% afirmam que a gestão de Bolsonaro sobre a pandemia é péssima ou ruim.

Na opinião de cientistas políticos, a base bolsonarista se dispersou. Hoje, é possível identificar três grupos que predominam no bloco de apoio popular ao presidente da República.

O primeiro estrato, mais fiel, segundo o instituto, corresponde a 14% da população, e a 45% das avaliações positivas que ele recebe. Trata-se de um núcleo que confia em tudo que Bolsonaro fala, não tem medo da pandemia e é contra a vacina.

O segundo grupo, de acordo com a leitura da pesquisa, é formado por apoiadores não tão fiéis. São 21% da população e respondem por 31% de avaliação positiva do presidente. Esse segmento, apesar de ter votado em Bolsonaro, é a favor, por exemplo, do distanciamento social e da vacina.

Há ainda, um terceiro grupo, de menor renda e beneficiado pelo auxílio emergencial. Caso os efeitos da pandemia se agravem ainda mais ou o auxílio emergencial não seja suficiente, a forma como esses dois últimos grupos vão se posicionar pode influenciar as eleições de 2022, com chances efetivas de ambos abandonarem o presidente.

“Aqueles que prezam pelas normas sanitárias e elegeram Bolsonaro, mas não são tão fiéis, correm o risco de abandonar o barco. E quanto aos que se converteram devido ao auxílio emergencial, mas não votaram nele, o apoio é incerto”, diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV. Ele lembra que o auxílio “deve voltar com valor menor e por menos tempo”.

Na leitura do cientista político Eduardo Grin, o Datafolha aponta uma clara queda no número de apoiadores de Bolsonaro. Com o País no auge da pandemia, com recordes diários de novos casos e mortes por Covid-19, crescem “a rejeição e um sentimento de antibolsonarismo”, diz Grin. “O eleitor ‘pendular’, mais moderado, vê que do outro lado tem outros candidatos, como o Lula e outros nomes no campo do centro.”

O Datafolha também mostra que 50% da população é contra a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro. Outros 46% disseram ser a favor. O grupo contrário é formado, sobretudo, por moradores do Sul (59% deles são contra o impeachment), evangélicos (59%) e empresários (81%). O impeachment tem maior apoio entre mulheres (58% delas se declaram a favor da medida), quem ganha de 5 a10 salários mínimos (57%) e quem vive no Nordeste (56%).

A primeira parte da pesquisa mostrou que 54% da população avalia como ruim ou péssima a atuação do presidente na pandemia de Covid-19. Foi a primeira vez que mais da metade dos brasileiros declarou rejeitar a forma como Bolsonaro conduz o país durante crise, segundo a série histórica do Datafolha.

A avaliação negativa subiu seis pontos em relação a janeiro. A gestão da crise foi considerada regular por 24% e ótima ou boa por 22%. Os números foram revelados em um momento em que o país enfrenta picos não só no número de mortos – mas também na ocupação de UTIs hospitalares em todas as regiões.

Com informações do O Globo