Maioria defende controle rigoroso da pandemia, revela pesquisa

Pesquisa da Febraban mostra que 74% dos entrevistados considera que a pandemia se agravou. Maioria já tem parentes ou amigos contaminados ou que morreram da doença

Vacinômetro permite acompanhar vacinação no DF Foto: Acácio Pinheiro / Agência Brasília

Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), revela que, para 74% dos brasileiros, a situação da pandemia de covid-19 no país está piorando. Para 16% das pessoas consultadas, não houve melhora nem piora e, para 9%, a situação está melhorando. O percentual dos que não souberam responder ficou em 1% .

Os dados, divulgados nesta terça-feira (16), são da 6ª edição do Observatório Febraban, pesquisa realizada de 1º a 7 de março, com 3 mil pessoas com mais de 18 anos das cinco regiões do país.

O isolamento social e as medidas adotadas para combater a Covid-19 já tiveram impacto profundo na vida e no sentimento dos brasileiros, depois de um ano de pandemia. O sentimento predominante é de que a situação atual está piorando e a doença se tornou uma realidade cotidiana: a maioria já tem parente ou amigo que morreu ou foi contaminado pela doença. Para a maior parte da população, ainda está distante o retorno à normalidade: a vacinação em massa – tida como a opção mais segura e eficaz para combater a pandemia – ocorrerá apenas no ano que vem.

De acordo com a consulta, a percepção sobre o agravamento da pandemia advém, além da exposição ao noticiário, da experiência pessoal com a covid-19: 55% dos entrevistados têm familiares que já se contaminaram com o novo coronavírus e 52% das pessoas ouvidas já perderam pessoas próximas.

“Pelos dados da pesquisa, esse grau muito elevado de pessimismo ou preocupação com a evolução da pandemia leva a uma compreensão melhor, por parte das pessoas, das iniciativas das autoridades sanitárias quanto às medidas de restrição”, destacou o sociólogo Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.

Apesar da experiência próxima com a doença, a maioria dos entrevistados (50%) disse que experimentou sentimentos positivos, como esperança, alegria e orgulho, na semana anterior ao levantamento. Para 46%, no entanto, os sentimentos lembrados foram negativos, como medo, tristeza e raiva, e 4% não souberam responder.

Lavareda avalia que alguns dos maiores impactos da pandemia se deram no campo das finanças e nas relações familiares e sociais. “Isso  explica o desejo prioritário – quando a maioria da população estiver imunizada – de encontrar os parentes que não têm visto por conta da Covid”, afirma.

Assista à apresentação completa da pesquisa Ipespe/Febraban

Para o médico, cientista e escritor Drauzio Varella, a percepção é de que a pandemia pode ir mais longe do que todos imaginávamos há um ano. Durante a live, Drauzio alertou para o colapso do sistema de saúde no país. “Pouca gente entende o que é o colapso, é colapso mesmo. Quem é atropelado não encontra vaga (em hospital), quem tem infarto não consegue fazer cateterismo. É situação dramática e sem perspectiva de solução, pelo menos a curto e médio prazo.”

Avaliação das ações

A maioria (55%) dos entrevistados considerou as ações governamentais estaduais e municipais para controlar as aglomerações abaixo do necessário; 36% afirmaram que o controle está na medida certa; e 7% disseram que ações são exageradas.

“Ao contrário do que o senso comum, às vezes, sugere, de que havia uma grande vocalização de oposição da população, e de muitos segmentos da sociedade às medidas tomadas por governadores e prefeitos, há, sobretudo, uma reclamação quanto à necessidade de medidas ainda mais duras, mais restritivas”, ressaltou o sociólogo.

No entanto, ele alerta que esses 7% que veem exagero nas ações significam 11,5 milhões de pessoas, no conjunto do país. “É um grupo dotado de grande capacidade de vocalização e que frequentemente tem constrangido autoridades municipais e estaduais.”

Vacinação

A desinformação é uma das preocupações. Lavareda lembra que 19%, ou praticamente 1 em cada 5 brasileiros, não confiam na vacina e não se sentem seguros. Segundo o especialista, o estudo fez um cruzamento de informações adicionais das fontes de informações usadas sobre a vacina, e a surpresa é que, no contingente de pessoas que se informam predominantemente por redes sociais, não há confiança na vacina e a disposição em não se vacinar é significantemente mais elevada.

Segundo a pesquisa, 77% dos brasileiros avaliaram a vacinação como única forma segura e eficaz de se proteger da doença; 19%, não confiam na segurança e na eficácia das vacinas, e 4% não souberam responder.

Para 81% dos entrevistados, o ritmo de vacinação é insatisfatório e lento porque deveria ter havido melhor planejamento. Para 16%,, no entanto, a velocidade é satisfatória e normal diante da oferta de vacinas.

Abaixo, seguem os principais resultados do levantamento:

Situação da pandemia no Brasil

Com um ano de isolamento social, a grande maioria dos brasileiros (74%) vê a situação piorando e 16% avaliam que ela está na mesma. O sentimento de que a situação está melhorando é residual: apenas 9% dos entrevistados.

Contato com mortos e doentes

A maior parte dos entrevistados tem algum amigo ou parente que foi contaminado (55%) pela Covid-19 ou que morreu pela doença (52%).

Sentimentos sobre a situação

O brasileiro ainda está dividido em relação aos sentimentos: 50% nutrem mais pensamentos positivos e 46% negativos sobre a atual situação da pandemia. O levantamento mostra que 35% dos brasileiros experimentaram recentemente sentimento de esperança, 13% alegria e 2% orgulho. Do lado negativo, 21% sentem medo, 20% tristeza e 5% raiva.

Volta à normalidade

A pandemia mudou a vida da maior parte da população. 73% dos entrevistados brasileiros afirmam que a vida está muito diferente do que era antes da doença. Para 20%, a vida já voltou em parte ao normal, sendo que 3% afirmam que nada mudou nesse período e outros 3% dizem que a vida já voltou totalmente ao normal.

Medidas contra aglomerações

Para a maioria da população são necessárias medidas mais restritivas contra as aglomerações. Para a maior parte dos ouvidos (55%), a fiscalização e controle dos Estados e municípios contra aglomerações ainda está abaixo do necessário. Os que avaliam que a repressão às aglomerações está na medida certa representam 36% dos ouvidos e apenas 7% avaliam que há exagero nestas ações.

Posição sobre a vacina

É majoritário (77% dos entrevistados) o entendimento de que as vacinas são a única forma segura e eficaz de se proteger do coronavírus. Apenas 19% não confiam na imunização.

Ritmo da vacinação

Maioria (81%) entende que o ritmo da vacinação no Brasil ainda é insatisfatório e lento. Menos de um quinto (16%) considera o ritmo satisfatório e normal, considerando a pouca disponibilidade da oferta dessas vacinas.

Tempo para vacinação

A perspectiva de alcance massivo da vacinação é de que ela acontecerá apenas em 2022 para 62% dos entrevistados, enquanto 29% esperam que isso deve acontecer no segundo semestre desse ano. Um percentual pequeno (5%) é mais otimista ao acreditar que a maior parte da população brasileira estará vacinada ainda nesse primeiro semestre de 2021.

Notícias sobre vacinação

A maior parte dos ouvidos (47%) vê as como positivas as notícias em torno da vacinação, sendo que 26% acham que são mais negativas e 24% nem positiva nem uma coisa nem outra. A televisão ainda é o meio sobre o qual a maior parte (82%) se informa sobre vacinas, seguida das redes sociais (56%). Jornais e revistas (17%) surgem em terceiro lugar e conversas com amigos (14%).

Hábitos que vieram para ficar

Dentre os hábitos que mais devem sofrer alterações, se destacam aqueles relacionados à higiene: lavar sempre as mãos e/ou passar álcool gel (91%), a higienização dos produtos comprados e embalagens antes de guardá-los (84%), não entrar em casa com sapatos (74%). Também há elevada expectativa de manutenção ou intensificação das compras online (74%), aulas/cursos online (63%), e trabalho homeoffice com reuniões por videoconferências (59%). Metade dos entrevistados irá manter ou aumentar o hábito de conversas e confraternizações com familiares por chamadas de vídeo (52%) e as consultas de telemedicina (50%).

Planos para depois da pandemia

As restrições ao contato social na pandemia constituíram uma das privações de maior repercussão emocional. “Encontrar os familiares que não têm visto” aparece no topo do ranking de coisas que as pessoas gostariam de fazer quando a população estiver imunizada (31%). Em segundo lugar, 19% preferem viajar. Na sequência, 11% dizem que querem encontrar amigos e 9% farão uma comemoração. Há também aqueles que querem prioritariamente voltar às aulas presenciais (7%); ir a shoppings, bares e restaurantes (4%) ou voltar ao trabalho presencial (4%).

Lições para o Brasil

Perguntados sobre com o que o Brasil deve se preocupar com o fim da pandemia, 56% elegeram o “investimento na educação da população mais pobre para a redução das desigualdades”. Na sequência aparece o “investimento para deixar o Brasil autossustentável na área de equipamentos médicos e vacinas”, com 45%; enquanto 27% defendem o “incentivo às áreas de tecnologia e inovação, no sentido de acelerar o desenvolvimento”. Abaixo do patamar de 20% são citados: a “reforma do serviço público, tornando-o mais digitalizado e eficiente” (18%); o “aumento da proteção das florestas e redução dos poluentes preservando o meio ambiente” (16%); e a “melhoria da infraestrutura do País, privatizando rodovias, portos, aeroportos e o sistema elétrico” (16%).

Mudanças causadas em sua vida

Depois de um ano de pandemia, várias mudanças ocorreram na vida das pessoas. Perguntados sobre as alterações ocorridas nesse período, 58% respondeu que foram em suas finanças e relações interpessoais Em seguida, vem a saúde mental e emocional (57%) e o ambiente de trabalho (53%). A forma de consumir também mudou e foi apontada por 38% das pessoas, assim como os estudos e a saúde física (ambas 35%). A fé e a espiritualidade foram as mais abaladas para 25%.

Comportamento na pandemia

A pesquisa mostrou que 93% dos brasileiros estão usando máscaras para sair de casa e que as pessoas mantiveram as atividades essenciais. Quase a totalidade sai de casa para ir ao supermercado: 26% vão sempre e 65% vão algumas vezes. Quase quatro em cada dez pessoas (39%) sempre saem para trabalhar e 20% se deslocam ao trabalho algumas vezes. Um terço (34%) não sai para trabalhar e 6% já não saíam antes da pandemia. Por outro lado, 72% deixaram de ir a restaurantes e bares e 77% não estão frequentando praias.

Educação em casa

Quanto às atividades educacionais, a grande maioria (71%) não está saindo (ou as pessoas da casa) para estudar, 7% saem algumas vezes e apenas 3% saem sempre. Entre os entrevistados, 42% têm filhos em idade escolar, dos quais 69% afirmam que as aulas ainda não são presenciais, enquanto 30% revelam que elas já foram normalizadas. Considerando aqueles cujos filhos estudam em escolas que já estão oferecendo aulas presenciais, 69% os estão enviando às aulas e 30% os mantêm em casa. Mesmo a maioria tendo optado pelas aulas presenciais, 57% se sentem inseguros com a ida dos filhos à escola e apenas 37% estão seguros. A maior parte dos pais que ainda não liberaram os filhos para as aulas presenciais, pretendem fazê-lo apenas quando a maioria da população estiver vacinada (39%). Outra parcela considerável, 28%, vai esperar que os próprios filhos estejam imunizados, e 26% dizem que os filhos frequentarão presencialmente quando declinar o número de casos de Covid-19.

Com informações Ipespe/Febraban