Com sede penhorada, BDMG sofre novo golpe: lucro cai 70%

Imóvel serve como garantia em débitos com o Imposto de Renda, no valor de R$ 71,9 milhões

Vizinho à Praça da Liberdade, parte do prédio do BDMG já foi usado como gabinete dos vice-governadores de MG - Foto Aloísio Morais

Ao exercer seu mandato de forma atabalhoada, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo) – que ontem decretou a onda roxa no estado por 15 dias, a partir de amanhã, para combater a pandemia -, parece que entrou de vez num inferno astral neste início de ano. Além de enfrentar as investigações do Ministério Público e de uma CPI sobre o caso de 828 funcionários públicos acusados de furar a fila de vacinação, o chefe do Executivo mineiro tem mais uma dor de cabeça: o portentoso edifício-sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e seu anexo, BDMG Cultural, estão penhorados junto à Fazenda Nacional e, pra completar, a instituição registrou uma perda de 70% em seus ganhos, conforme o relatório anual divulgado neste mês.

Os imóveis servem como garantia em débitos contestados pelo banco referentes ao Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) relativos de 1997 e 1998. No final de 2020, os saldos dessas ações somavam de R$ 71,990 milhões. O banco optou por não realizar provisionamento contábil nem contratar garantias. A instituição tem 90,86 % do capital sob controle direto do Governo de Minas (Tesouro Estadual).

A diretoria informa que, para essas contestações no IRPJ, não realizou provisionamento contábil “em razão de sua perda estar avaliada como risco remoto”. Em imóveis em uso, a instituição possuía, em 31 de dezembro, R$ 43,881 milhões. Mas, aplicada a depreciação (R$ 28,585 milhões), o valor líquido era de R$ 15,296 milhões. Porém, incluindo outras imobilizações, tinham cobertura em apólice de seguro de R$ 51,7 milhões.

Lucro despencou 70,6%

Mesmo com o cenário da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), em 2020, o BDMG apurou R$ 726,857 milhões em receitas com as intermediações financeiras., conforme apurou o jornalista e blogueiro Nairo Almeri ao analisar as mais de 100 páginas do relatório anual. A alta nominal foi, portanto, de 18,66% sobre 2019. Do resultado, 86% com as operações de crédito. Porém, o resultado final exibiu uma queda espetacular de 70,6% no lucro líquido: R$ 84,1 milhões, em 2019, para R$ 25,5 milhões. Ou seja, de forma isolada, mal cobriria as provisões para ações judiciais com obrigações previstas, neste exercício, de R$ 25,158 milhões.

Instalado na Rua da Bahia, o prédio do BDMG é vizinho ao Palácio da Liberdade, que já foi a sede do governo mineiro – Foto de Aloísio Morais

Agronegócio lidera

O relatório anual da instituição mostra ainda quais setores são privilegiados pelo governo Zema. A agroindústria absorveu R$ 953 milhões das operações do BDMG – participação de 33% e 52% superiores a 2019. O Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), BNDES e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) responderam por 49% dos recursos oferecidos. Só o Funcafé levou R$ 453 milhões.

Capital irreal

Mesmo com a perda de lucro, o patrimônio líquido do BDMG cresceu 6,4%, para R$ 1,937 bilhão. Cabe observar, porém, que foi contabilizado abaixo do capital social, de R$ 2,111 bilhões. Ou seja, o banco fez deduções de prejuízos acumulados e outros resultados negativos – R$ 173 milhões – e manteve o capital inalterado, irreal. No ano passado, o Governo de Minas fez um aporte de capital de R$ 100 milhões.

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