Após intimação de Felipe Neto, milhares taxam Bolsonaro de genocida

O termo foi utilizado pelos internautas para protestar contra o governo federal, tanto pela condução da pandemia quanto por tentativas de silenciar críticas com base na Lei de Segurança Nacional

Foto: Reprodução Twitter/@fabiomalini

Na segunda-feira (15), após chamar o presidente Jair Bolsonaro de “genocida” nas redes sociais, o youtuber Felipe Neto foi intimado a depor na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática do Rio de Janeiro (DRCI) sob o argumento de crime contra segurança nacional. As redes sociais reagiram ao ato – definido como “tentativa de silenciamento” pelo influenciador digital – e ecoaram as críticas ao governante.

O analista de redes sociais Pedro Barciela, fez um levantamento da expressão “Bolsonaro genocida” no Twitter. No domingo (14), o mote foi repetido 3.073 vezes. No dia seguinte, com a intimação de Felipe Neto, esse número foi sete vezes maior. No total, foram 21.806 citações.

“Houve movimento em defesa de Felipe Neto, uma mobilização significativa”, explicou Barciela. “É gente não necessariamente ligada ao debate político, mas também muitos antibolsonaristas que entraram nessa onda de solidariedade ao youtuber”, afirmou o analista.

O professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Fabio Malini, especialista em redes sociais e big data, fez uma pesquisa isolada sobre o termo genocida. Em 24h, a palavra foi usada em 330 mil tuítes, de 115 mil perfis mobilizados, com mais de 2 mil hashtags geradas.

Apesar de admitir medo pela intimação, Felipe Neto manteve a sua avaliação acerca do governo Bolsonaro, especialmente no combate à pandemia. Em uma série de postagens no Twitter, o youtuber justificou a alcunha atribuída à Bolsonaro pela “ausência de política de saúde pública”, relembrou o arquivamento de caso similar pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e mandou um recado contra o autoritarismo praticado pelos bolsonaristas. A Polícia Civil do Rio foi acionada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.

 “Eles querem que eu tenha medo, que eu tema o poder dos governantes. Já disse e repito: um governo deve temer seu povo, NUNCA o contrário. Carlos Bolsonaro, você não me assusta com seu autoritarismo. Não vai me calar.”

A investigação sobre o influenciador digital apura o crime de calúnia com base em lei redigida durante a ditadura militar, a Lei de Segurança Nacional. Nela, está prevista reclusão para quem “caluniar ou difamar o presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação”.

Em um vídeo, Felipe Neto reiterou as críticas da atuação do governo federal durante a pandemia e comentou a denúncia feita por Carlos Bolsonaro.

Repercussão

O assunto reverberou na internet e parlamentares, celebridades e até figuras que anteriormente eram simpáticas ao governo se manifestaram no Twitter.

Artistas gráficos também expressaram as críticas por meio de arte.

Tentativas de silenciamento

Felipe Neto relembrou que o delegado da DRCI é o mesmo que o indiciou por corrupção de menores em novembro de 2020. Na época, o Delegado de Polícia Pablo Dacosta Sartori indicou que Felipe Neto não teria limitado a classificação etária dos vídeos que teriam “conteúdo e linguajar inapropriado para menores”.

Desta vez, o delegado citou a Lei de Segurança Nacional (LSN) e o “o entendimento mais recente do STF [Supremo Tribunal Federal]” como justificativa para o andamento do procedimento.

“E está lá, especificamente: ofender o presidente da República. Então, tem o enquadramento na Lei de Segurança Nacional esse crime, quando você ofende o presidente da República, que é o caso que foi investigado”, afirmou.

A LSN trata de crimes que têm, entre outras vítimas, a democracia, a soberania nacional e a pessoa do presidente da República. Alguns casos estão enquadrados no artigo 26, que fala dos crimes de calúnia ou difamação contra o presidente da República e outras autoridades.

Nesta terça-feira (16), o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Daniel Cara, teve a sua conta suspensa no Twitter após mencionar a gestão genocida do governo.

O epidemiologista, professor e ex-reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), Pedro Hallal, foi O ex-reitor foi alvo de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) após se manifestar contra o presidente Jair Bolsonaro em uma transmissão ao vivo nas redes sociais da UFPel em janeiro deste ano.

Nesta segunda (15), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Hallal afirmou que vai continuar manifestando sua opinião sobre a condução da pandemia de covid-19 por parte do governo federal. “Eu me lembro de ouvir do meu pai e da minha mãe que teve uma época no Brasil em que não se podia criticar o governo. A única coisa que espero é que nunca volte esse momento”, afirmou Pedro em referência à ditadura militar.

O jornalista Hélio Schwartsman, em julho do ano passado, também foi ameaçado com a Lei de Segurança Nacional após escrever uma matéria na Folha de S.Paulo com o título “Por que eu torço para que Bolsonaro morra”. O ministro da Justiça, André Mendonça, moveu uma ação contra o jornalista. 

O criminalista Marcelo Feller também foi investigado em julho do ano passado após usar termos como “genocida, politicamente falando”, “criminoso” e “omisso” para se referir ao presidente no programa da CNN, “O Grande Debate”.

O advogado comentava a fala do ministro Gilmar Mendes, que na época havia associado o Exército a um “genocídio”. Antes de se referir especificamente ao presidente, Feller citou um estudo que estimava que a estratégia do governo de combate à pandemia até então tinha causado a morte de 10% a mais de pessoas.

Com informações de UOL, G1, Carta Capital

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