Três anos sem Marielle. Até quando sem respostas?

A história e a luta de Marielle vivem e é por isso que seguiremos perguntando, quantos dias mais forem necessários: quem mandou matá-la e por quê?

Marielle Franco em agosto de 2016 | Foto: Wikimedia Commons

No dia 14 de março de 2021 completam três anos do assinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. As investigações sobre o crime vêm se arrastando lentamente ao longo desses 1.096 dias, apesar das cobranças da família, amigos, e colegas de partido, apoiados por vozes progressistas que se levantam em todo o mundo  exigindo justiça.

Os acusados pela execução do crime, Ronnie Lessa (sargento reformado da Polícia Militar) e Élcio Queirós (ex-PM) já foram presos, mas até hoje não se sabe quem foram os mandantes e as reais motivações do crime. O histórico da investigação envolve entre os suspeitos não apenas integrantes das milícias, mas também políticos do Estado do Rio de Janeiro.

Marielle era uma defensora dos direitos humanos, em especial dos negros e negras, mulheres, moradores de favelas, pessoas LGBTQIA+, uma população invisibilizada pelos preconceitos estruturais da sociedade brasileira. Seu assassinato, mais do que um ataque  a essa luta, foi uma grave amaeaça à democracia brasileira. Conforme coloca a deputada estadual Renata Souza, que era sua assessora quando ocorreu o crime, “Marielle encarnava várias das vulnerabilidades do corpo ‘matável’ da nossa sociedade, que é o da mulher preta, pobre, favelada, LGBT. Foi um feminicídio político”.

Nascida no Complexo da Maré, Marielle começou a trabalhar aos 11 anos. Frequentou a primeira turma do pré-vestibular comunitário da Maré e ingressou com bolsa integral no curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Cursou mestrado em Administração Pública, na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Sua trajetória é marcada pela combatividade, engajamento social e honestidade,  tendo inspirado, em vida e após a morte, mulheres pretas e pobres de todo o mundo a lutarem por espaço na política e pelos direitos que lhes têm sido negados há tanto tempo.

A história e a luta de Marielle vivem e é por isso que seguiremos perguntando, quantos dias mais forem necessários: quem mandou matá-la e por quê?

Linha do tempo das investigações do assassinato de Marielle e Anderson

2007

Marielle entra para a equipe do deputado estadual Marcelo Freixo, eleito pela primeira vez, com uma campanha focada na defesa dos direitos humanos. Em seguida, assume a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, responsável por receber denúncias contra policiais e pelo apoio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios, inclusive policiais vítimas.

2008

O então deputado estadual Marcelo Freixo conclui a CPI das Milícias, pedindo o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis. Em razão de ameaças sofridas, passa a viver sob a proteção de seguranças.

2016

Marielle Franco é  eleita a vereadora mulher mais bem votada do Rio de Janeiro e a segunda do país,  com 46.502 votos. Era sua primeira candidatura.

2018

14 março – Marielle Franco, aos 38 anos, e seu motorista, Anderson Gome, são  assassinados a tiros dentro do automóvel em que voltavam de um debate com jovens negras na Casa das Pretas, na Lapa, Rio de Janeiro.

Setembro – a juíza Marcia Correia Hollanda, da 47ª vara Cível do Rio de Janeiro/RJ condenou o Google a retirar da plataforma YouTube os vídeos com conteúdo difamatório contra Marielle Franco.

Dezembro – em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, o então secretário de Segurança do RJ, general Richard Nunes, afirmou que Marielle foi morta por milicianos que viam nela uma ameaça a negócios de grilagem de terras na Zona Oeste do Rio. A tese nunca foi comprovada.

2019

Janeiro – o major da Polícia Militar Ronald Pereira é preso por suspeita de envolvimento no crime. Ele vinha sendo investigado com base na suspeita de integrar a cúpula do chamado Escritório do Crime, um grupo de matadores de aluguel. Ronald foi denunciado à Justiça Criminal por comandar negócios ilegais, como grilagem de terra e agiotagem.

Março – são presos Ronnie Lessa, O sargento reformado da Polícia Militar (PM), e Élcio de Queiroz, ex-PM,  suspeitos de serem os executores diretos do assassinato. De acordo com as investigações, o crime foi planejado minuciosamente durante meses.

Maio – uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público, cujos alvos eram milicianos atuantes na cidade do Rio de Janeiro, prendeu dois homens, Rafael Guimarães e Eduardo Nunes, suspeitos de serem os responsáveis pela clonagem do carro Cobalt prata usado no assassinato da vereadora.

Junho –  a polícia e a Marinha realizam uma operação no mar da Barra da Tijuca à procura das armas utilizadas no crime. Segundo as investigações, Márcio Montavano teria retirado as armas de um esconderijo e as teria levado – com ajuda da mulher de Ronie Lessa, Elaine Lessa; do irmão dela,  Bruno Figueiredo; e de Josinaldo Freitas –  até o barco de uma  testemunha e as descartado próximo das Ilhas Tijucas. Elaine Lessa, também acusada de participar da milícia, está ligada à apreensão de 117 componentes de fuzil de uso restrito, uma das maiores já realizadas no Rio de Janeiro. Todos os citados foram presos em outubro de 2019.

2020

Fevereiro – um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra, onde morava Ronnie Lessa, afirma que Jair Bolsonaro, que também tem casa no condomínio, havia liberado a entrada de Élcio Queiroz no local no dia do crime. Bolsonaro era deputado federal à época e havia marcado presença na Câmara dos Deputados no dia. O porteiro, no entanto, voltou atrás e afirmou que errou ao dizer que havia falado com “seu Jair”. Um laudo assinado por peritos afirma que outro funcionário havia interfonado naquele dia para Lessa.

Março – a Justiça do Rio determina que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz sejam julgados por júri popular pelas mortes de Marielle e Anderson, previsto para o fim de 2021. Os dois respondem por duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas. Os advogados informam que vão recorrer.

Maio – o Superior Tribunal de Justiça (STJ) nega a federalização do caso, mantendo as investigações com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, como demandava a família da vereadora e o Ministério Público Estadual.

Junho – Maxwell Corrêa, sargento bombeiro, é preso, acusado de participar do planejamento do assassinato de Marielle e do descarte das armas do crime.

Junho – o delegado Daniel Rosa, responsável pela investigação, afirma que o Escritório do Crime não tem ligação com o atentado. Segundo ele, não há dados que provem que Ronnie Lessa integre o grupo.

2021

4 de março  – o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro cria uma força-tarefa para atuar na continuidade das investigações dos assassinatos de Marielle e Anderson.

Fonte: PSOL com informações publicadas nos sites da Anistia Internacional, G1 e UOL.