“Segundo ano de pandemia será ainda pior para a economia”

Para o professor de economia Simão Silber, a negligência com que o governo brasileiro vem enfrentando a crise é a principal responsável pela situação. Por outro lado, vacinação e fim da pandemia não serão suficientes para ressuscitar uma economia sepultada.

Arte: Luana Franzão

Neste mês de março, completou-se um ano da pandemia do coronavírus. A crise sanitária, ao contrário do esperado, regrediu. Tratando de economia, então, será que o impacto pode ser ainda maior neste segundo ano? O professor Simão Silber, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, discute o tópico.

Segundo o professor, “o impacto na economia no segundo ano será diferenciado para pior, no Brasil”. A negligência com que o governo brasileiro vem enfrentando a crise é a principal responsável por isso tudo. “O governo brasileiro negligenciou dramaticamente, negou a importância da pandemia e isso foi fatal”.

Ele menciona um estudo, chegado por Michael Spence, realizado por técnicos do mundo todo em uma universidade chinesa em Wuhan, financiado pelo Ali Baba, que apontou que a mobilidade e a conectividade das diferentes atividades foram afetadas.

O estudo mostra 74% da recessão de 2020 foi explicado pela diminuição da mobilidade das pessoas, deixando de consumir e as empresas que deixaram de produzir por falta de demanda. Outras atividades ganharam pela conectividade que reduz a queda da atividade.

Silber destaca o “negacionismo brutal da ciência”, que atrapalha o processo de vacinação e contribui para o aumento no número de casos, contando com o surgimento de novas cepas que atingem principalmente a juventude. “A ciência tem teoria, tem prática e foi se consolidando ao longo do tempo. A prática do sanitarista é muito clara ao pedir para se isolar e vacina que se controla a pandemia”.

Todos esses fatores prejudicam muito a estabilidade brasileira e nos torna uma ameaça para o mundo.  “Nós estamos em uma situação, no Brasil, praticamente de párias no mundo, quando o resto do mundo começa a se recuperar e estamos imobilizados pela doença”, afirma.

O economista observa que o crescimento da economia brasileira será menor do que a queda do ano passado. “Se eu caí num buraco de 4,1% no ano passado e consigo crescer 3,2%, ainda estarei um metro abaixo do chão”, compara ele, referindo-se aos números e expectativas de economistas.

Um outro estudo mencionado por Silver é um tracking de celulares, medido por economistas da Universidade de Chicago, mostrando o nível de conectividade e mobilidade dos americanos durante a pandemia. Segundo esse estudo, nem foi o lockdown que imobilizou as pessoas, mas o medo do vírus, reduzindo a atividade econômica.

O economista ainda observa que muita gente se deslocou do mercado de trabalho e, dificilmente, voltará nas mesmas condições. Muitas empresas, “um milhão delas”, desapareceram e “não vão sair do túmulo” porque estamos vacinando. “Se milhares de agências fecham pela automação, esse bancário vai se tornar uber ou ifood, mas certamente não será mais bancário”, diz o professor, referindo-se ao retorno do mercado de trabalho em caso de fim desta pandemia.

“Nós vivemos três problemas. Nós temos um problema sanitário, muito mal encaminhado; temos o problema econômico, consequência do mau encaminhamento da crise sanitária; tem um problema social dramático. O Brasil já era desigual e ficou ainda mais. Todos aqueles que estavam no setor informal estão em uma situação absolutamente precária”, lembra.

Edição de entrevista à Rádio USP

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