Sobre Hipátia de Alexandria, primeira matemática da humanidade

Conheça histórias de mulheres que, pelos séculos, estudam os astros. Apesar dos percalços, mulheres deixam suas marcas no estudo dos astros

Elas amam as estrelas e estão ligadas ao universo, seja pela astronomia ou por áreas ligadas à ciência que estuda os astros – como a física, a matemática, a engenharia ou até mesmo a filosofia.

Desde que o mundo é mundo e que olhar para o céu também passou a ser um questionamento da dinâmica dos sistemas, as mulheres estão presentes nos debates e nos achados astronômicos.

Passaram, ao longo da história, por percalços que as colocaram em situação de desigualdade, como preconceitos e normas que as deixavam de fora da jogada. Caminham ainda. Mas, desbravadoras que são, enfrentaram, quebraram regras, construíram novos paradigmas para ter o direito de estudar, pesquisar, descobrir e grifar seus nomes nas estrelas.

Falamos aqui de Marias, Maries ou Marys, de mulheres do mundo todo. Falamos aqui de Hipátia ou Hipátia de Alexandria. Nascida no Egito, no século 4, por volta do ano de 355, que à frente do seu tempo se lançou aos cálculos matemáticos e pesquisas astronômicas, o que custou a sua própria vida, segundo relatos históricos.

Foi assassinada por defender o racionalismo científico grego (a do raciocínio como lógica de pensamento). Hoje, Hipátia é considerada a primeira mulher matemática que a humanidade tem registros.

Hipátia teve como inspiração o pai, Theon, que era matemático, filósofo, astrônomo e um dos últimos diretores do Museu de Alexandria. ela decidiu seguir os caminhos do pai em busca do conhecimento. Segundo conta a história, foi por incentivo dele que decidiu estudar e mais à frente lecionar. Deu aula em diversas áreas, como filosofia e matemática, até ocupar a direção da Academia de Alexandria, um cargo não conferido às mulheres do seu tempo.

Na astronomia, há relatos de que estudou a órbita dos planetas e até teria participado do projeto para a construção de um astrolábio, uma espécie de calculadora astronômica usada como instrumento naval. Um de seus alunos, Sinésio de Cirene, declarou que ela construiu ainda um hidrômetro e um higroscópico (material que absorve água). Poucas contribuições de Hipátia foram preservadas, pois muitos de seus projetos foram perdidos durante a destruição da Biblioteca de Alexandria, que teria ocorrido no século 6. 

Hipátia também foi professora de matemática para aristocratas pagãos e cristãos. O livro brasileiro A História de Hipátia e de Muitas Outras Matemáticas, descreve que sua inteligência a levou a ser conselheira de Orestes, que fora seu aluno e depois foi prefeito do Império Romano no Oriente. “A natureza especial de Hipátia, tratando todos os seus alunos igualmente, sendo educada, tolerante e racional, desencadeou uma série de ciúmes que resultaram em inimizades”, aponta a obra. 

Por defender o racionalismo científico, a matemática foi acusada de blasfêmia e sentimentos anticristãos. Ela, no entanto, nunca declarou ser aversa ao cristianismo.  

Uma emboscada tirou a sua vida. Há diferentes versões que contam seu assassinato; a mais aceita é a do historiador inglês Edward Gibbon na obra O Declínio e a Queda do Império Romano, publicada em seis volumes entre 1776 e 1778. Ele narra que, em uma manhã da Quaresma em 415, Hipátia foi atacada na rua. Ela estava voltando para casa em uma carruagem e pessoas lhe arrancaram os cabelos, as roupas, os braços e as pernas. Depois, o resto de seu corpo foi queimado. A violência de sua morte foi tratada como o fim de um ciclo na matemática e no conhecimento científico da Antiguidade.

Representação da morte de Hipátia de Alexandria; (Foto: Autor desconhecido/Reprodução Wikimedia Commons/Public Domain)

Hipátia é considerada a primeira matemática da humanidade e foi pelo ato de ensinar que teve seu nome ventilado ao longo dos séculos.

Ela ganhou um filme para contar a sua história: Alexandria, que estreou em 2009. A produção espanhola tem a atriz Rachel Weisz no papel de Hipátia. Assista ao trailer

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