Ex-ministros da Saúde recomendam lockdown para evitar colapso do País

Para Serra, Temporão, Padilha e Mandetta, é necessário fechar estabelecimentos comerciais, ao menos nas próximas semanas, para evitar um aumento descontrolado no número de internações e óbitos

Quatro ex-ministros da Saúde – José Serra (1998-2002), José Gomes Temporão (2007-2011), Alexandre Padilha (2011-2014) e Luiz Henrique Mandetta (2019-2020) – concordam que o Brasil pode entrar em um colapso diante da escalada da Covid-19. Em um ano, mais 250 mil brasileiros morreram em decorrência do novo coronavírus – mas o governo Jair Bolsonaro insiste numa postura negligente e irresponsável diante da crise sanitária.

Para os ex-ministros, é necessário voltar a divulgar medidas de distanciamento social e fechar estabelecimentos comerciais, ao menos nas próximas semanas, para evitar um aumento descontrolado no número de internações e óbitos. Em entrevista ao jornal O Globo, eles também condenam tanto Bolsonaro quanto o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por não contestar os desmandos do Planalto e falhar na logística da campanha de imunização.

“O mais importante é acelerar a vacinação. Não faz sentido que no Brasil, com esse número de mortes e o sistema de saúde privado e público colapsado, o governo federal não esteja acelerando as vacinas”, analisa Padilha. Ex-ministro do governo Dilma, ele defende a criação de um “gabinete de crise”, a ser convocado pelo Congresso, “com secretarias municipais, estaduais e o governo federal”. Além de técnicos, o grupo deve contar com “equipes de saúde da família, que têm sido desprezadas pelo governo.”

A seu ver, o Ministério da Saúde deve “coordenar as restrições” de acordo com as “realidades regionais” – as saídas não podem ser uniformes. “Não dá para adotar uma decisão única de fechamento num país heterogêneo assim. Mas, em algumas regiões, ou se faz lockdown, ou será insustentável o colapso do sistema de saúde em duas semanas”, diz Padilha. “É preciso ter uniformidade nas decisões, mas reconhecidas as diferenças regionais. É necessária participação do Judiciário, porque vão chegar ações contra o lockdown. Tem que haver mobilização nacional pela vida.”

Para Serra, o Ministério da Saúde está “distante e perdido”. Cabe à pasta um papel “muito mais ativo, com campanhas de conscientização, alertando a população 24 horas por dia a respeito do momento crítico e de altíssimo risco para todos”. Do contrário, será inevitável “um lockdown total de 14 dias, ao menos, para que se avalie, a partir daí, os resultados”.

A vacinação, segundo o ex- ministro tucano, será decisiva. “Precisaríamos de mudança radical na posição do governo federal, que deve buscar comprar vacinas sem criar entraves burocráticos. Só a vacina nos tirará desse caos”, comenta. “Já são mais de 250 mil brasileiros mortos. O governo não pode continuar indiferente.”

Temporão descreve o cenário adverso: “As próximas semanas serão terríveis”, adverte. “As pessoas não estão se protegendo, o distanciamento caiu drasticamente, novas cepas surgiram, as pessoas não usam máscara e se aglomeram, autoridades se omitem e a capacidade de atendimento é limitada”. Para combater a o vírus, ele também recomenda o lockdown – mas por três semanas.

“Restringir horários não adianta. Todas as medidas têm que ser cumpridas – lockdown, máscara, higiene das mãos e vacinação, ampliar drasticamente o ritmo”, diz Temporão. “Tudo teria que vir acompanhado de uma campanha de comunicação, porque as pessoas estão perdidas.” Em sua opinião, “as próximas semanas serão terríveis. Vai ter que vacinar 80% da população brasileira. São necessárias 352 milhões de doses de vacina. O cenário é o pior possível, e não vamos dispor disso em prazo curto”.

Mandetta prevê “60, 90 dias extremamente duros, uma megaepidemia de Norte a Sul”, que exigirá “lockdown absoluto mesmo” em algumas regiões. “Tinha que fazer uma campanha transparente: temos uma ameaça nova, não aglomere, use máscara, o sistema de saúde não aguenta. Tinha que ter uma fala do presidente, do ministro propaganda nacional, com mea culpa”, afirma.

De acordo com a estimativa do ex-ministro do governo Bolsonaro, o Brasil, no ritmo atual, precisará de pelo menos seis meses para imunizar uma parte relevante da população. “Estamos vacinando aos soluços porque a estratégia foi errada. Só em agosto vamos ter boa quantidade de vacina”, diz Mandetta. “O vírus está de Ferrari, e nós, de carroça. Em junho, teremos um Fusca.”

Com informações do O Globo