Sociedade Brasileira da História da Ciência lamenta a morte de seu sócio fundador

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Shozo Motoyama (1940-2021) era filho de imigrantes japoneses estabelecidos no interior paulista. Seu pai, professor de matemática, lhe incutiu o gosto pelas ciências naturais, o que o levou a fazer a graduação em física na USP, que concluiu em 1967. Inicialmente pensava em se especializar em astrofísica, mas seu doutorado (concluído em 1971) foi sobre a lógica da pesquisa em Galileu, orientado pelo historiador Eurípedes Simões de Paula. Isto lhe valeu o convite, juntamente com sua colega da Física, Maria Amélia Dantes, para se integrarem ao corpo docente de História na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Nesta nova carreira, Motoyama pôde em breve começar a orientar de forma pioneira a pós-graduação em história da ciência. Havia iniciativas isoladas na USP e em outras universidades nessa área, mas institucionalmente foi a primeira vez que surgiu em nosso país uma linha de pesquisa inteiramente dedicada à história da ciência e da tecnologia. Iniciou assim a formação de um rol de mestres e doutores, incluindo nomes bem conhecidos como Ruy Gama, Olival Freire Jr., Carlos Maia, Francisco Assis de Queiroz, Ulisses Capozoli e muitos outros. Em 1990 tornou-se o primeiro professor titular em História da Ciência, título inédito não apenas na USP, mas em termos brasileiros.

Shozo Motoyama conheceu no Japão e difundiu entre nós as teorias dialéticas sobre o funcionamento da ciência elaboradas pelo físico marxista Mituo Taketani. Depois de seu pós-doutorado no Japão, foi coordenador do Núcleo de História da Ciência e Tecnologia no Brasil, com apoio da UNESCO (1980-1983), além de ter recebido diversos auxílios da FAPESP. Por sua facilidade em estabelecer contatos com pesquisadores de diferentes linhas de pensamento, Motoyama foi pessoa essencial para a fundação em São Paulo, no final de 1983 da SBHC (Sociedade Brasileira de História da Ciência), da qual foi secretário por vários anos. Por meio de sua gestão acadêmica, em 1988 criou o CHC (Centro Interunidades de História da Ciência) na USP, que logo se tornou um polo agregador para professores de várias unidades que se interessavam pelo tema, tais como Milton Vargas, Júlio Katinsky, entre outros. Motoyama dirigiu o CHC até sua aposentadoria em 2009. Deve-se mencionar ainda os laços estreitos que estabeleceu com o Instituto Brasileiro de Filosofia, através de Miguel Reale. Devido à sua ascendência foi convidado e atuou por vários anos como diretor do Museu Histórico de Imigração Japonesa no Brasil, situado no bairro da Liberdade, em São Paulo.

A produção bibliográfica de Motoyama se intensificou a partir da coordenação conjunta com Mário Ferri da obra em três volumes, História das Ciências no Brasil (1979-1981), que tomou como modelo aquela de As ciências no Brasil (organizada por Fernando de Azevedo). A esta vieram se somar diversas pesquisas realizadas no CHC, tais como a coletânea por ele dirigida Tecnologia e industrialização no Brasil: Uma perspectiva histórica (1994) e O almirante e o novo Prometeu: Álvaro Alberto e a C&T (1996, em conjunto com João Carlos Vitor Garcia) e uma série de histórias institucionais por ele organizadas, incluindo Educação técnica e tecnológica em questão: 25 anos do Ceeteps – Uma história vivida(1995), Fapesp: Uma história de política cientifica e tecnológica (1999), Usp 70 Anos (2006), Fuvest 30 Anos(2007, com Marilda Nagamini), SEADE. Uma História Exemplar(2007), Memorial da América Latina 21 Anos(2010), Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da USP e suas contribuições para a Sociedade (2014, com Marilda Nagamini).

As gerações mais novas da História na USDP têm tido contato com a obra de Motoyama por meio da importante coletânea por ele organizada, Prelúdio para uma História. Ciência e Tecnologia no Brasil(2004).

Shozo Motoyama se despediu de nós no último dia 26 de janeiro da maneira característica de sua personalidade tranquila: calmamente, enquanto descansava.

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