Alunos mais ricos tiveram 1h30 a mais de atividades escolares por dia

Trabalho da FGV Social aponta que estudantes de classes mais altas tiveram cerca de 64% de tempo a mais dedicado aos estudos durante a pandemia.

Ilustração: Lézio Júnior

Durante a pandemia, alunos de 16 e 17 anos com perfil socioeconômico das classes A e B estudaram em média 3h20 por dia, enquanto estudantes da camada E tiveram média de 2h02 de tempo de estudo. Na classe C, a média foi 2h21 e na D foi de 2h02. O estudo é da FGV Social, conduzido pelos economistas Marcelo Neri e Manuel Camillo Osorio a partir de dados do IBGE.

O tempo de estudo durante a pandemia é inferior ao regime presencial em qualquer classe socioeconômica. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, aponta que o impacto é ainda maior nas classes mais baixas e que a pandemia interrompeu um ciclo de avanço tímido na área nas últimas décadas.

“O retrato da educação era e é muito ruim, mas o filme, não. Essa pesquisa é uma espécie de trailer de um filme de horror educacional”, afirma Neri. “As desigualdades educacionais que estavam caindo vão voltar a subir. E esse impacto vai perdurar para depois da pandemia.”

Os números utilizados no estudo foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Para criar as categorias foi utilizado o critério censitário: classe E, alunos cujas famílias receberam até R$ 245 per capita; classe D, de R$ 246 a R$ 511 per capita; classe C, de R$ 512 a R$ 2.202 per capita; e classe AB, com renda per capita de mais de R$ 2.203.

O foco nas classes AB e E deu-se pela proximidade em números absolutos de alunos e teve como objetivo evidenciar as diferenças no desempenho escolar entre os “extremos da distribuição de renda”.

A maioria dos fatores que justifica o maior tempo de atividades escolares nas classes AB está relacionada ao poder aquisitivo. A possibilidade de supervisão do responsável nas atividades escolares, a aquisição de novos recursos e serviços para o aprendizado remoto e um espaço físico mais adequado são alguns desses elementos.

Por unidade federativa

Segundo o estudo, Pará e Tocantins foram os estados com mais alunos sem atividade escolar atribuída. No Pará foram 45% dos estudantes e no Tocantins 41%. Os melhores estados nesse quesito foram São Paulo (5%) e Distrito Federal (4%).

Considerando o tempo de estudo, o Acre é o estado com pior desempenho, em que os alunos passam em média 1h17 min estudando por dia. A maior média é do Distrito Federal, com atividades diárias que acumulam 2h57min.

“De uma maneira geral, os dados mostram que alunos da região Norte não só ficaram mais excluídos, mas também menos se envolveram com as poucas atividades que receberam, fatos sugerem um agravamento nas desigualdades regionais educacionais do país no Brasil pós-pandemia”, afirma o estudo.

Os autores não se omitiram em atribuir a responsabilidade devida ao governo federal e ao Ministério da Educação (MEC), que “gastou substantivamente menos que outros ministérios estratégicos (como Cidadania, Saúde e Economia) já revela que a educação não foi vista como área prioritária nesse momento, mesmo com a criação do Comitê Operativo de Emergência e de medidas de apoio financeiro via MEC”.

Com informações de O Globo

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