Após atraso da AstraZeneca, UE ameaça impedir exportações de vacinas

Mesmo com compra e reserva de doses acima do necessário, países europeus pressionam empresa para suspender exportações enquanto contrato não for cumprido. Países emergentes protestam.

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A disputa por vacinas no mercado mundial é motivo de preocupação entre as autoridades. Na Europa, os governantes pressionam para a suspenção de exportações enquanto a AstraZeneca não entregar o lote de 100 milhões de vacinas, de acordo com o contrato firmado entre a empresa e a União Europeia (UE). Países em desenvolvimento, principal destino das remessas de imunizantes, protestam contra a ameaça feita pelo bloco. Até sexta-feira a UE deve ter uma posição consolidada quanto às exportações de vacinas.

A AstraZeneca tem acordos com diversos países, inclusive o Brasil. Por ser mais fácil de transportar e armazenar do que a vacina da Pfizer, por exemplo, o imunizante é mais propício para a vacinação em países com menos recursos. O valor da dose, considerado mais baixo do que outras vacinas, é outro motivo que torna o imunizante essencial para os países emergentes.

O posicionamento da UE casou temor na OMS, que possui países que contam com as remessas da AstraZeneca para imunizar a população. Na ONU (Organização das Nações Unidas), o aviso da UE ligou o alerta para possíveis desentendimentos comerciais e prejuízos nas relações internacionais.

O presidente da África do Sul e da União Africana, Cytil Ramaphosa, denunciou o “nacionalismo de vacinas” em seu discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial. Ele afirmou que os países ricos não devem segurar as vacinas.

“Precisamos que aqueles que acumularam as vacinas liberem as vacinas para que outros países possam tê-las”, disse Ramaphosa. “Os países ricos do mundo adquiriram grandes doses de vacinas dos fabricantes e alguns países foram além e adquiriram até quatro vezes mais do que sua população precisa”, denunciou.

Atraso nas entregas para a UE

O principal motivo para o alerta europeu foi o anúncio da empresa britânica que não seria possível cumprir o calendário de fornecimento. Do montante inicial, 100 milhões de doses, só será possível entregar metade aos países europeus ainda no primeiro trimestre. A empresa alega que precisou fazer modificações nas instalações para conseguir se adequar à demanda mundial, o que causou um atraso no cronograma inicial.

A tensão aumentou após a UE classificar a decisão como “inaceitável” e os governos europeus ficarem com uma imagem de egoístas na OMS. A preocupação já era grande na semana passada, quando o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que o mundo estava “à beira de uma catástrofe moral” em relação ao abastecimento de vacinas nos países mais pobres.

Pressionada pelos 27 países que compõem o bloco europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, justifica que é preciso um “mecanismo de transparência” para monitorar as exportações devido ao alto investimento.

“A UE ajudou com dinheiro no desenvolvimento da vacina. Muito foi investido. Investimos bilhões para a primeira vacina. Agora, as empresas precisam honrar seus compromissos”, disse.

O valor total investido, segundo a comissão, foi de 2,7 bilhões de euros em pesquisa e produção. A UE enviou uma carta para a empresa e Von der Leyen também cobrou a AstraZeneca em uma ligação telefônica.

Assim como o presidente da África do Sul, a chanceler alemã Angela Merkel também falou no Fórum Econômico Mundial. Merkel apontou para a decisão dos EUA de impedir a exportação de vacinas como o movimento inicial que desencadeou a pressão no continente europeu.

“Os EUA têm um ato de guerra em vigor sobre a exportação de vacinas e, em alguns casos, sobre suprimentos importantes para vacinas”, disse Merkel. “Isso desencadeará nossos instintos básicos na Europa para dizer: se você estiver faltando algo que precise em sua cadeia de fornecimento de medicamentos ou vacinas, você dará uma olhada em casa e se certificará de que você consiga resolver isso”, alertou.

Diante da pressão, a comissária de Saúde da UE, Stella Kyriakides, propôs que a empresa fosse transparente quanto ao destino das doses e prazos estabelecidos. O governo britânico, por sua vez, considerou a chantagem e a pressão sobre a AstraZeneca descabidas.

Reserva dos países ricos e distribuição de vacinas

O chefe da GAVI (Aliança Mundial de Vacinas), Seth Berkly, comentou que há um “pouco de pânico” no acesso às vacinas neste momento. Ele garantiu que a distribuição será justa e que países em desenvolvimento receberão 150 milhões de doses no primeiro trimestre do ano. Até o meio do ano, serão mais 500 milhões de doses e, até o final de 2021, 2 bilhões de doses da vacina.

Quanto à reserva dos países ricos, Berkly comentou que “são números surpreendentes”. Eles compraram ou reservaram 2,2 bilhões de doses a mais do que o necessário considerando diferentes opções, enquanto outros países ainda não conseguiram nenhuma garantia.

Com informações de UOL

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