João Ferreira: o candidato comunista à presidência de Portugal

Neste domingo (24) ocorrerá a eleição presidencial portuguesa. O Partido Comunista Português (PCP) apresenta o nome do eurodeputado João Ferreira.

No regime parlamentarista português o cargo político mais importante é o de primeiro-ministro, mas o presidente tem importantes atribuições. É o comandante das Forças Armadas, responsável pela política externa, etc.

O atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, é um político conservador, e apesar de filiado ao direitista PSD (Partido Social Democrata), Marcelo Rebelo se elegeu (em 2016) e concorre à reeleição como candidato independente.

O Presidente dos Afetos

Rebelo é franco favorito à reeleição, com algumas sondagens apontando inclusive a possibilidade de vitória já no primeiro turno (em 2016 foi eleito no primeiro turno). Parte de sua popularidade vem de uma imagem construída como um político afável, avesso à confrontos, tanto que sua campanha o intitula o “presidente dos afetos”. Sobre isso o candidato comunista, João Ferreira, comenta: “Os afetos de Marcelo Rebelo de Sousa são como a riqueza nacional, existem, mas estão muito mal distribuídos”.

João Ferreira vem fazendo uma campanha marcada pela assertividade e pelo alto nível de suas intervenções, enfrentando durante todo o tempo a indisfarçável má vontade da mídia hegemônica portuguesa com sua candidatura.

Uma das razões é que o candidato comunista coloca em debate questões delicadas que as elites preferiam não discutir, como o verdadeiro (e nefasto) papel da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) no estrangulamento cada vez maior da economia do país, a serviço, principalmente, do capital financeiro. O candidato à presidência do PCP apresentou propostas concretas apontando a viabilidade de uma alternativa “patriótica e de esquerda”, que coloque no centro das decisões os interesses dos trabalhadores e o desenvolvimento soberano de Portugal.

Defesa da Constituição

Um dos pontos nodais da candidatura comunista é a defesa da Constituição de Portugal, fruto da Revolução de abril de 1974. Apesar de sete reformas promovidas pela direita neoliberal, a Carta Magna portuguesa preserva, em sua essência, uma feição avançada e democrática, daí o ataque, quase uníssono, que une setores diversos – que vão da chamada esquerda moderada até a direita mais raivosa – unidos em torno do objetivo de mutilar o texto constitucional retirando garantias e conquistas sociais.

No último comício da campanha, na segunda-feira (18), na cidade de Marinha Grande, João Ferreira abordou o assunto:

O Presidente, para assumir verdadeiramente aquele juramento que faz de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, tem de usar todos os seus poderes para se colocar do lado de quem trabalha. Exatamente como faz a Constituição, que não é neutra, coloca-se do lado dos mais fracos e assume que aos trabalhadores são reconhecidos um conjunto de direitos. Nós precisamos de um presidente que, a partir dos seus poderes, não se canse de lutar, todos os dias, para que todos os trabalhadores, sem distinção de raça, sexo, território de origem, religião, convicções políticas e ideológicas, tenham direitos”.

Levar a luta ao voto, leva o voto à luta

Outro desconforto para as classes dominantes portuguesas é que a candidatura comunista não limita seu discurso à necessidade do voto nas eleições, mas faz uma ligação direta entre eleição e a mobilização cotidiana dos trabalhadores, que eleva a consciência popular e se reflete nas eleições e depois delas.

Esta é a candidatura de todos aqueles que reconhecem na Constituição da República portuguesa um projeto de desenvolvimento soberano e que, na sua concretização, assumem a luta pelo progresso social. Luta que é preciso levar ao voto, no próximo domingo, para que, passadas as eleições, se possa levar o voto à luta e, prosseguir os combates por uma vida melhor, pelos direitos que o grande capital todos os dias atropela ou esmaga, pela ruptura com a política de direita que submete o País às imposições da União Europeia e do euro e ao domínio do grande capital” (editorial do Avante!).

Além do atual presidente e de João Ferreira, disputam a presidência Ana Gomes (PS), André Ventura (Chega), Marisa Matias (Bloco de Esquerda), Tiago Mayan (Iniciativa Liberal) e Vitorino Silva (RIR – Reagir, Incluir, Reciclar).

Em meio a todos estes, João Ferreira tem tido um desempenho na campanha que chama a atenção. Jovem (41 anos), intelectual (autor do livro “A União Europeia não é a Europa”), formado em biologia, eurodeputado desde 2009 e Membro do Comitê Central do PCP, João Ferreira se destaca pela coerência e clareza de suas ideias, ditas sem meias palavras, “em nossa candidatura não procuramos o conforto da ambiguidade. Não procuramos navegar ao sabor do vento, para onde quer que sopre”, afirma.

Um horizonte de esperança

O principal slogan da campanha de João Ferreira é “Coragem e Confiança, um Horizonte de Esperança”. De fato, para quem tem objetivo estratégico, o horizonte sempre vai estar à vista, e por isso os comunistas portugueses, profundamente empenhados em assegurar uma votação expressiva para João Ferreira, sabem que depois das eleições a jornada continua.

Certo é que na segunda-feira e para lá dela, os ativistas e apoiantes da candidatura de João Ferreira continuarão a estar onde sempre estiveram: no exaltante e decisivo combate por um Portugal com futuro, justo, desenvolvido e soberano! Poderão outros dizer o mesmo?” (editorial do Avante!).

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