Vagas com carteira assinada crescem, mas desemprego continua em alta

Número de vagas criadas é insuficiente para absorver a quantidade cada vez maior de pessoas à procura de trabalho

O mês de novembro foi o quinto seguido a registrar saldo positivo de empregos com carteira assinada no Brasil. Ainda assim, o desemprego aumentou no trimestre de agosto a outubro, atingindo 14,1 milhões de trabalhadores brasileiros. Segundo economistas, o número de vagas criadas é insuficiente para absorver a quantidade cada vez maior de pessoas à procura de trabalho. Além disso, muitas pessoas que não estavam buscando ocupação passaram a ir atrás de uma, o que infla as estatísticas.

O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, tem registrado, mês a mês, o aumento do emprego com carteira assinada. A mesma tendência é apontada pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE, ainda que sejam pesquisas com metodologias diferentes. Por que, então, o desemprego segue em alta, quando são contabilizados os postos de trabalho formais e informais?

As estatísticas do IBGE consideram tanto empregado com carteira assinada quanto empregado sem carteira, na informalidade. Só que, para um trabalhador ser considerada desempregado pelo IBGE e entrar na estatística, não basta estar sem emprego. Ele também precisa ter procurado alguma vaga no período anterior à pesquisa. Se ele ficou parado mas, por algum motivo, não buscou trabalho, não é considerada desocupado.

A taxa de desemprego cresce não apenas por causa de pessoas que ficaram desocupadas no período da pandemia – mas também porque outras tantas, que estavam inativas, passaram a buscar emprego. “O desemprego vai inflando por causa desses dois movimentos: a perda de emprego das pessoas, mas também a saída das pessoas da inatividade”, explica a economista Solange Gonçalves, professora do Departamento de Economia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Fatores como a reabertura gradual da economia e a redução do auxílio emergencial levaram mais e mais pessoas a procurarem uma ocupação. Porém, o número de vagas abertas – com ou sem carteira assinada – não é suficiente para absorver a quantidade de pessoas que buscam se recolocar no mercado.

Segundo Solange, o número de pessoas fora do mercado de trabalho, na inatividade, já tinha aumentado em anos recentes, por causa da crise econômica. Mas o movimento foi intensificado na pandemia, já que muitas desistiram de procurar emprego, desanimadas com a baixa chance de sucesso ou por causa das orientações de distanciamento social.

Esse movimento dos primeiros meses da pandemia levou a um “desemprego oculto” – ou seja, um desemprego que não era visto nas estatísticas, conforme explica o economista Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Agora, porém, ocorre o inverso: “O desemprego oculto está se revelando. Pessoas que tinham deixado de procurar emprego estão voltando a fazê-lo”, afirma Duque.

Entre os trabalhadores que estão voltando a procurar emprego, há os desalentados, aqueles que tinham desistido temporariamente de obter uma ocupação por perder a esperança de encontrar algo. Há também pessoas que estavam inativas por opção, mas que foram forçadas a encontrar trabalho. “A morte de um membro da família faz com que outros, que estavam inativos por decisão, passem a buscar emprego”, exemplifica Solange. É o caso de jovens que, até a pandemia, estavam apenas estudando, mas passaram a procurar uma vaga quando alguém da família morreu ou perdeu emprego.

Apesar dos números recordes de desemprego no Brasil, o governo Jair Bolsonaro quer falsear a realidade e celebrar apenas os dados de empregos formais. Caso o País termine o ano com saldo positivo de vagas com carteira assinada, a ideia é realizar uma campanha publicitária exaltando os números, ainda que a maioria da população economicamente ativa esteja sem emprego ou na informalidade.

“Os dados do Caged estão um pouco descolados dos demais (dados) da atividade econômica”, afirma Daniel Duque, do Ibre/FGV. “O número de admissões, por exemplo, está 19% maior do que em novembro do ano passado. É um pouco estranho, porque isso significaria que a gente está em um nível de atividade bastante acima do nível de 2019, o que não é verdade.”

Na visão do economista, esse descolamento pode ser consequência de mudanças feitas pelo governo no Caged, que passaram a valer no início do ano. Para parte das empresas, o sistema eSocial passou a substituir a obrigação de prestar informações via Caged. “Resta a hipótese de que realmente houve uma quebra estrutural entre o novo Caged e o anterior. Pode ser que essa nova série tenha números sempre bem melhores do que os da antiga”, diz Duque.

Para Solange Gonçalves, é cedo para dizer que a economia está em recuperação, com base nos dados de emprego. Ainda são poucos os setores que estão mostrando sinais de recuperação. “O que a gente observa é uma criação de emprego informal mais forte (do que o formal), o que muitas vezes é uma falta de opção – e não exatamente um emprego que a gente possa comemorar”, diz ela. “Não se pode descartar a ameaça de uma nova paralisação de atividades com o crescimento de casos de Covid-19 no País.”

Com informações do UOL

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