Construir a frente ampla, explicar o comunismo: 2022 a partir de 2020

Base da frente ampla não é a ideologia política, mas o diálogo em busca de consensos

Vimos que o grande derrotado nestas eleições municipais foi o bolsonarismo. Os aliados do presidente Jair Bolsonaro foram derrotados de forma ampla e surpreendente, com exceções pontuais, como a vitória de Eduardo Bride em São Luís (MA). No segundo turno, ele enfrentou Duarte Júnior (Republicanos), que tinha o apoio majoritário – mas não integral – da base do governo Flávio Dino (PCdoB-MA).

“O nosso candidato (no segundo turno) fez 45% e o outro fez 55% (…). Por que ele fez 55%? Porque o PDT e o DEM foram apoiar o candidato da oposição”, lembrou Dino, em entrevista à CartaCapital. “Ou seja, criou-se uma frente ampla do lado de lá, (com) o bolsonarismo, o sarneysismo, o PDT e o DEM. Ganharam, claro. Juntou bolsonarismo, sarneysismo, PDT e DEM, nos derrotaram.”

O governador reafirmou que é com a ampla união de forças políticas que se consegue vencer uma eleição. Por regra, os êxitos nas eleições 2020 dependeram da aliança de diferentes e diversas forças políticas. No caso de São Luís, com forças à direita unidas com a centro-esquerda, houve a vitória por uma diferença de dez pontos percentuais, mesmo com o grande apoio popular do governador e das políticas implantadas pelo PCdoB e pela base de sustentação.

A base da frente ampla não é a ideologia política, mas o diálogo em busca de consensos. Para usarmos um termo do marketing digital, é preciso ampliar mais a “persona” – o tipo de eleitor – a que nos dirigimos. Quanto mais amplo o público-alvo, maior o alcance – mais pessoas podem se identificar e votar em nossos candidatos. Já no âmbito de governo, todas as partes terão de ceder em suas ideologias e intenções, para que haja uma ampla comunhão entre partidos e maneiras interligadas de ver a gestão.

Em São Luís, onde o candidato do PCdoB a prefeito, Rubens Júnior, não foi ao segundo turno, terá pesado o termo “comunista” de seu partido? E em São Paulo, com Orlando Silva? Se sim, nos próximos dois anos – até as eleições 2022 –, é papel do PCdoB se preparar para desmistificar eventuais preconceitos sobre o comunismo. É o que faz nas redes sociais Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), tanto no dia a dia quanto no período eleitoral, falando de modo simples e didático – e não de forma teórica ou acadêmica.

Devemos criar uma campanha que toque o coração dos eleitores, mostrando para eles – inclusive de forma sentimental – o que o comunismo pode ter de benéfico para suas vidas. Com cada vez mais pessoas desiludidas com o bolsonarismo, é fundamental se apresentar como uma alternativa consistente, que dê esperança e que, ao mesmo tempo, combata o discurso do ódio e a visão pejorativa do comunismo. Assim o PCdoB poderá ter protagonismo como cabeça de chapa na campanha presidencial.

Para além de derrotar de vez o bolsonarismo e a extrema-direita, temos de pensar em trazer uma perspectiva superior e coerente para o povo – propostas para enfrentar e superar também a “direita moderada”. Grande vitoriosa das eleições 2020 – com destaque para o DEM –, essa direita pode ter candidaturas mais competitivas em 2022. Cabe ao PCdoB e à esquerda fazer frente e reconquistar o protagonismo nas eleições presidenciais.

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