Arbix: Até quem diz respeitar a ciência, encurralou a pesquisa

Para o professor da USP, vacinas abrem novo capítulo, mas não encerram a luta contra a Covid-19.

A ciência correndo contra o tempo para combater o SarsCov2

Nesta segunda (14), alguns dos maiores especialistas da USP se reuniram para discutir os vários aspectos envolvendo a imunização da população brasileira contra o coronavírus, durante o evento Vacinas e Covid- 19: Uma visão multidisciplinar. O encontro tratou sobre a vacina que poderá inaugurar um capítulo menos trágico dela – são mais de 180 mil mortos pela doença até agora no País.

O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP Glauco Arbix também criticou o menosprezo à ciência pelas mais altas autoridades do País. “Mesmo governos que dizem respeitar a ciência, como o de São Paulo, continuam a encurralar a pesquisa científica.”

Para ele, a realidade das vacinas abre um novo capítulo na luta contra a pandemia sim, mas erram aqueles que pensam que os imunizantes representam o fim da covid. “O mais provável é que seja o fim do começo, pois uma nova etapa se abre, sem que possamos baixar a guarda de toda a prevenção necessária. Não há mágica ou solução salvadora.”

Glauco Arbix – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para as políticas públicas, afirma que é preciso garantir a compra das vacinas aprovadas pela Anvisa, seja qual for sua origem, com estratégia e critérios claros, ressaltando que o governo federal até agora foi incapaz de fazer isso. Outra proposta é que o Brasil passe a contar com um centro de prevenção de doenças: “Está mais do que na hora de abrir este debate, pois infelizmente novos eventos extremos como o atual virão”.

Arbix lembrou que a Universidade alertou a todo momento que o vírus está longe de ser democrático, pois os mais vulneráveis continuam sendo os mais atingidos. “Fazemos alertas, propostas e recomendações, porque essa é a nossa vocação. A pesquisa é imprescindível para salvar vidas. Sempre afirmamos a luta da ciência contra o obscurantismo e a solidariedade contra o egoísmo. É o que está no coração da nossa universidade”, finalizou.

O professor Guilherme Ari Plonsky, também do IEA e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, ressaltou o caráter de sofrimento e aprendizado da pandemia. “O sofrimento coletivo só não será em vão se tivermos aprendizados relevantes”, disse, enumerando algumas lições que ainda precisamos obter do tema, a começar sobre a falta de adesão à prevenção e ao desafio da hesitação vacinal. “Tivemos ao longo deste ano a experiência da limitação dos apelos à razão para medidas restritivas e cuidados básicos, mesmo quando as condições objetivas de moradia e sustento permitiam estes cuidados. Então temos que entender que outras formas testadas de estímulo a um comportamento pró-social – num ambiente democrático – se mostram eficazes.”

Outra pergunta importante a ser respondida, disse Plonsky, é como repactuar a relação delicada entre as esferas da ciência, do público e da política, após encontros duros durante a pandemia. “Mais do que a validade, o desafio é repensarmos a ‘valência’ da ciência, ou seja, sua capacidade de se ligar ao público mediante entrega, recebimento e compartilhamento de conhecimentos”, encerrou.

O evento foi organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, pelo Instituto de Estudos Avançados e pela Superintendência de Comunicação Social. 

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