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França vive dia de protestos contra Macron

Um protesto que começou pacífico em Paris para denunciar a violência policial e a controversa Lei de Segurança Global do presidente Emmanuel Macron terminou em confronto. Manifestantes encapuzados lançaram projéteis contra a tropa de choque, quebraram vitrines, incendiaram carros e queimaram barricadas.

Ao menos seis carros e um caminhão estacionados ao longo de uma avenida do 20º distrito foram incendiados. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, e, em toda a França, 64 pessoas foram detidas, segundo o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin.

O protesto se repetiu em várias cidades francesas, como Lille, Marselha e Lyon. Em Paris, ele começou com milhares de pessoas marchando pacificamente pela capital, com faixas que diziam “França, terra dos direitos da polícia” e “Retirada da lei de segurança”. Mas depois se transformou em um confronto aberto entre a polícia e grupos de manifestantes, a maioria vestida de preto e com o rosto coberto. Alguns usaram martelos para quebrar pedras de pavimentação, que eram lançadas contra os policiais. Segundo a polícia, cerca de “500 desordeiros” se infiltraram na manifestação.

De acordo com o jornal Le Monde, as manifestações pelo país reuniram mais de 52 mill pessoas; na capital, o número de manifestantes era cerca de 5 mil. “Estamos caminhando para uma limitação cada vez mais significativa das liberdades. Não há justificativa”, disse Karine Shebabo, moradora de Paris. Outro manifestante, Xavier Molenat, disse que “a França tem o hábito de restringir as liberdades enquanto prega a importância desses mesmos direitos para os outros”.

A França foi atingida por uma onda de protestos nas ruas depois que o governo apresentou um projeto de lei de segurança no Parlamento que visava aumentar suas ferramentas de vigilância e restringir os direitos de circulação de imagens de policiais na mídia e on-line. O projeto é parte do esforço de Macron para endurecer a lei e a ordem antes das eleições de 2022. Seu governo também disse que a polícia precisava ser melhor protegida do ódio na internet.

Mas o espancamento de um homem negro, o produtor musical Michel Zecler, por policiais, no final de novembro, intensificou a ira pública. O incidente veio à tona depois que imagens de um circuito fechado de televisão e vídeos gravados com telefones celulares circularam pela internet. Os críticos disseram que o projeto de lei tornaria mais difícil responsabilizar a polícia em um país onde alguns grupos de direitos humanos alegam a existência de racismo sistêmico dentro das agências de aplicação da lei.

Este é o segundo final de semana consecutivo de protestos. Na semana passada, as manifestações aconteceram em mais de 70 cidades no país e houve confrontos violentos entre manifestantes e policiais. Em uma reviravolta no início desta semana, o partido do presidente Emmanuel Macron disse que iria reescrever parte do projeto de lei de segurança, depois que a proposta provocou uma forte reação entre o público e dirigentes políticos de esquerda.  Muitos opositores do projeto de lei dizem que ele vai longe demais, mesmo se for reescrito.

Na sexta-feira, Macron reconheceu que pessoas não brancas têm maior chance de serem revistadas. Ele também anunciou que a França vai lançar uma plataforma on-line no próximo ano para que as pessoas sinalizem qualquer abordagem desnecessária da polícia e que câmeras corporais para policiais serão amplamente utilizadas a partir de junho.

Os comentários do presidente lhe renderam críticas dos sindicatos policiais neste sábado. O sindicato independente da Polícia Nacional chamou os comentários de Macron de vergonhosos e negou que a corporação fosse racista. Já a Polícia Alternativa, outra força sindical da categoria, ameaçou suspender as revistas aleatórias.

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As informações são da agência Reuters