Não é só mais um negro que morre

Que mais esta morte absurda não seja apenas mais uma. Que não seja esquecida, que não seja mais uma banalidade.

Domingo: Porto Alegre elege cinco vereadores negros, uma delas a mais votada da cidade. Cinco entre 36 vagas, numa cidade onde seguramente metade da população é negra.

Segunda-feira: Um candidato a prefeito confirma autoria de um áudio onde reclama da eleição de cinco negros, segundo ele, desqualificados para exercera vereança. Negros.

Quinta-feira: Um homem negro é assassinado a chutes e socos na frente da companheira depois de discutir no caixa de um supermercado.

Os fatos acima tiveram grande destaque na mídia, nas redes, mensagens de aplicativos. Infelizmente o massacre e extermínio da juventude negra é cotidiano. Também a discriminação ostensiva, a desigualdade, a pobreza, as mazelas. São os negros que sofrem a mais abjeta perseguição e intolerância religiosa. Negros são os mais atingidos pela pandemia, negros são a imensa maioria da miséria, do desemprego, das vítimas da violência policial. Mulheres negras são as maiores vítimas de abusos, de violência obstétrica, do subemprego, do trabalho precário e insalubre. Negros são sete entre dez aprisionados. Nossa língua é racista: As coisas são pretas quando estão ruins, explicar/resolver uma situação é esclarecer. Trabalho que pede boa aparência quer é branquitude. Num país que tem mais da metade da população preta ainda se classifica o moreninho, o mulato, o pardo, o preto e o tinto. Neste país gerado por ventes pretos e indígenas seus descendentes ainda não compreenderam sua origem.

Mas o destaque é fugaz no país de negros que elegeu um presidente racista.

Muitos brancos (a minoria da população) ainda não compreenderam que a luta contra o racismo é a luta pela justiça. Ainda não romperam com a herança cultural da escravização de um povo que construiu o Brasil sem ser contemplado nesta construção. Que um povo escravizado, massacrado, oprimido, um povo que saiu da senzala para a favela, sem nenhuma reparação, jogado à própria sorte, tem, sim, todo o direito à vida, à liberdade, tem direito de buscar suas raízes, mas acima de tudo, direito ao respeito e à dignidade.

Que mais esta morte absurda não seja apenas mais uma. Que não seja esquecida, que não seja mais uma banalidade. Não é só mais um número, é uma vida, um ser humano, uma trajetória, uma história, uma família. Justiça para Beto e sua família. De forma alguma podemos permitir que este crime repugnante seja banalizado. Que todos os racistas sejam punidos, e com rigor. Viva Zumbi, viva a consciência e a trajetória do povo negro, viva a igualdade!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *