A equação da vitória de Boulos

No primeiro turno o eleitor vota. No segundo turno o eleitor veta

Boulos e Erundina disputam o segundo turno da eleição em São Paulo l Foto: Divulgação

Se você fosse Bolsonarista, votaria em quem em São Paulo? No Tucano aliado de Doria ou no “comunista” Boulos? A política não é uma linha reta. Para virar o jogo, frieza e leitura estratégica da realidade podem ajudar bastante.

Para onde irão os 13,64% de Márcio França? O socialista se declarou neutro no segundo turno. França tenta ser uma alternativa à polarização PSDB x esquerda na maior cidade do país. Resolveu subir no muro. Este foi um dos motivos de seu naufrágio. Renegou a esquerda. Foi renegado por Bolsonaro. Sobrou muito pouco.

A tendência é que os eleitores do candidato do PSB se dividam. A parte mais tucana deve ficar com Covas. A parte mais progressista, puxada pelo PDT, deve ir de Boulos.

E os 10,5% de Russomano? Para Bolsonaro, o que é melhor? Fortalecer Doria, um adversário direto de campo político ou ajudar a eleger Boulos, do PSOL, um partido que pode ajudar a embaralhar o jogo na esquerda? Ajudar a fortalecer o império tucano ou apostar numa gestão desastrosa do líder dos sem-teto? O que você faria?

Logo em seguida ficou o folclórico Arthur do Val Mamãe Falei, com surpreendentes 9,78%. A tendência é o eleitor do candidato do MBL migrar para Covas. Seria uma surpresa um liberal votar num “comunista”.

Jilmar Tatto foi o sexto colocado com 8,65% dos votos. Uma parte de seus votos é da militância petista mais fiel, apesar do abandono de Lula no dia da eleição. A outra parte, sem base ideológica, vem da famosa Tatolândia, região da periferia onde a família Tatto é muito forte. O PT vai de Boulos. Tatto entrará de cabeça na campanha?

Considerando os principais candidatos, é razoável imaginar o eleitorado de França se dividindo, os eleitores do PT e do PCdoB migrando automaticamente para Boulos e, com Tatto, anulando os votos que migrarão de Mamãe Falei para Covas.

Quem decide a eleição? Para onde irão os votos de Russomano?

No primeiro turno o eleitor vota. No segundo turno o eleitor veta. Para onde vai o eleitor Bolsonarista? Doria vive brigando com Bolsonaro. Trocando tapas em praça pública. Vai colar jogar Bolsonaro no colo de Covas? Improvável.

O que pode unir o eleitorado de esquerda e o eleitor de Bolsonaro? Bater em Doria, um governador mal avaliado e com rejeição elevada. A fadiga de material do longo reinado dos tucanos é um flanco real.

Na política e na guerra, a regra é sempre a mesma. Um inimigo de cada vez. E cada um na sua hora. Explorar sempre as contradições dos adversários. Estabelecer alianças tácitas e táticas para continuar avançando.

Os Tucanos estão alarmados. É um bom sinal. Boulos tem chance. Mas não pode criar desavença com o eleitor errado. Precisa mirar no alvo certo. Uma briga de cada vez.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho

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Um comentario para "A equação da vitória de Boulos"

  1. Samuel de Albuquerque Carvalho disse:

    Tatto foi o primeiro a declarar apoio ao Boulos assim que terminou o primeiro turno, além de terem feito uma campanha exemplar no primeiro turno, Tatto e Boulos, ao não caírem na armadilha da direita de jogarem um contra o outro (obviamente nem sempre pode-se dizer o mesmo da militância mais raivosa tanto de um lado como de outro);
    Mas a relação entre Tatto e Boulos sempre foi e continua muito boa.
    Então a dubiedade que o autor sugere sobre o apoio de Tatto a Boulos é desonesta.

    E Boulos sabe muito bem que precisa do apoio de Tatto e do PT não apenas para levar os votos da “tattolândia” na Zona Sul (mais um ataque totalmente desnecessário do autor ao candidato do PT numa conjuntura dessas), mas no eleitorado das periferias em todas as regiões da cidade, onde a campanha de Tatto e do PT foram muito boas e só não tiveram mais votos porque boa parte dos eleitores optou por não arriscar um segundo turno sem Boulos nem Tatto.

    Apesar do jogo contra e do fogo “amigo” de boa parte da esquerda, PT e PSOL nunca estiveram tão próximos. Ainda não foi dessa vez que sairam em chapa unificada em São Paulo em Rio, mas em ambas as cidades se vislumbrou a possibilidade e o potencial dessa aliança em uma coligação já no primeiro é cada vez mais forte.
    Tenho certeza de que o PCdoB também sabe de que lado está, embora uma ou outra liderança e um punhado de militantes vez ou outra caia no jogo da discórdia, assim como também acontece do PT e no PSOL, o que é natural do ser humano até!
    E espero que PSB e PDT superem as arestas um pouco mais difíceis que ainda dificultam a relação desses partidos com uma unidade cada vez mais necessária no enfrentamento da direita (e não apenas da extrema-direita fascista e bolsonarista, que já bateu no teto e deve se esfacelar nos próximos 2 anos).

    O desafio é grande, e o que está em jogo é a vida do povo mais sofrido desse país, os direitos sociais, e as políticas públicas que garantem o acesso a esses direitos e a um desenvolvimento mais justo, igualitário e socio-ambientalmente sustentável para o nosso país!

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