Marrocos viola o cessar-fogo no Saara Ocidental e situação deteriora

O porta-voz do governo da República Árabe Saarauí Democrática (RASD) Hamada Selma informou nesta sexta-feira (13) que as forças marroquinas abriram três brechas a leste do muro que o Marrocos construiu no território ocupado do Saara Ocidental, em flagrante violação do cessar-fogo em vigor desde 1991.

Há dias vários civis saarauís têm protestado contra a situação no local, Guergarat; Marrocos enviou tropas e o passo foi correspondido pelo governo saarauí.

De acordo com fontes saarauís, pode estar iminente uma confrontação, caso a comunidade internacional não assuma a sua responsabilidade pelo fim da ocupação e colonização do Saara Ocidental pelo Marrocos. Na mídia local, autoridades têm sido citadas denunciando a provocação marroquina, que atravessa a zona tampão criada pelo acordo de cessar-fogo para exportar produtos, muitos advindos da pilhagem dos recursos saarauís. Já houve outros episódios de tensão no local, em anos recentes.

“Nas primeiras horas desta manhã, as forças de ocupação marroquinas abriram três brechas a leste do muro da vergonha, em clara violação do acordo de cessar-fogo. Por isso, o governo saarauí considera que essa violação prejudica a situação de cessar-fogo entre as duas partes no conflito”, disse Selma nesta sexta (13), citado pelo Sahara Press Service (SPS).

O Exército Popular de Libertação Saarauí respondeu para proteger os civis e o território liberado do Saara Ocidental, de acordo com a agência de notícias. Ainda não há mais informações sobre a resposta e os próximos movimentos. Durante a última semana, entidades e partidos progressistas de diversos países, inclusive França e Espanha, denunciaram as provocações dos marroquinos e a responsabilidade destes dois países europeus pela deterioração da situação.

Manifestantes saarauís do território liberado protestam contra a travessia dos marroquinos por Gargarat, na zona tampão, o que é violação do cessar-fogo

França é aliada do Marrocos e o protege de ações no Conselho de Segurança da ONU; Espanha é a potência colonial e administradora que deixou o Saara Ocidental em 1975, entregando o território de forma clandestina ao reino marroquino, à revelia do direito do povo saarauí à autodeterminação através da descolonização. Os saarauís proclamaram a RASD, que é reconhecida por cerca de 80 países e membro da União Africana, em 1976, mas a maior porção do seu território segue ocupada pelo Marrocos.

De 1975 a 1991 a Frente Popular para a Libertação de Saguía el-Hamra e Rio de Ouro (Polisario) combateu as forças marroquinas e recuperou uma porção do Saara Ocidental, que agora busca proteger da invasão marroquina. Há uma zona tampão que, segundo o acordo de cessar-fogo de 1991, deveria estar sob o monitoramento da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (Minurso), criada naquele ano com o mandato de realizar a consulta pela autodeterminação dos saarauís. Entretanto, a zona é reiteradamente atravessada pelos marroquinos.

Vários civis saarauís têm protestado pacificamente no local desde 21 de outubro, ao que Marrocos passou a responder enviando tropas e abrindo passo em outros pontos para reprimir os manifestantes, uma grave violação do cessar-fogo. Segundo fontes locais, os civis estão sendo retirados do local pelas forças saarauís para a sua proteção.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, presidente da União Africana, instou a RASD e o Marrocos a retomarem a calma e a implementar o Plano de Acordo de 1991 da UA e da ONU, que deve culminar na realização do referendo. Em declaração oficial, Ramaphosa sublinhou que está acompanhando a situação em Guergarat e pediu o retorno às negociações para que o povo saarauí possa exercer seu direito à autodeterminação. Também instou o Secretário-Geral da ONU a urgentemente nomear um Enviado Especial para o Saara Ocidental para que se resolvam as causas das tensões e para facilitar uma solução para uma paz duradoura.

Na quinta-feira (12), dezenas de saarauís protestaram diante do recinto da MINURSO contra o prolongamento da situação. Há três décadas a missão tem sido incapaz de implementar o seu mandato de realizar o referendo de autodeterminação. Há quase 200 mil saarauís vivendo em campos de refugiados na vizinha Argélia e outros milhares sob ocupação marroquina, no Saara Ocidental, desde 1975.

Os saarauís demandam a independência do Saara Ocidental e a vida em liberdade, afirma a SPS. Os manifestantes responsabilizam a ONU pela leniência com relação à ocupação marroquina, exigem o fim do suplício do povo saarauí e a realização do referendo que determinará o seu destino, salientando que a negligência da ONU frente à obstrução do processo pelo ocupante marroquino não pode mais ser tolerado.

Fonte: Cebrapaz