O duro legado republicano que Biden terá de enfrentar

Novo presidente dos Estados Unidos terá grandes obstáculos políticos e econômicos.

A administração de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos terá de enfrentar um duro legado de Donald Trump. É o que diz o economista Paul Krugman em sua coluna no jornal The New York Times. Com o agravante de um provável domínio dos republicanos no Senado, que sabotará o novo governo de todas as maneiras possíveis.

Novo presidente dos Estados Unidos terá grandes obstáculos políticos e econômicos.

Paul Krugman lembra que no governo do presidente democrata Barack Obama a obstrução do Partido Republicano causou muitos danos. “Os republicanos usaram táticas duras, incluindo ameaças de causar um calote na dívida nacional, para forçar uma retirada prematura do apoio fiscal que desacelerou o ritmo da recuperação econômica”, escreveu.

Segundo o colunista, sem essa sabotagem a taxa de desemprego em 2014 poderia ter sido cerca de dois pontos percentuais menor do que realmente era. E a necessidade de mais gastos é ainda mais aguda agora do que em 2011, quando os republicanos assumiram o controle da Câmara dos Deputados.

Paul Krugman lembra que outro agravante é o coronavírus, que está se espalhando, com novos casos excedendo cem mil por dia e aumentando rapidamente. Isso vai afetar fortemente a economia, mesmo que os governos estaduais e locais não imponham novos bloqueios. “Precisamos desesperadamente de uma nova rodada de gastos federais com saúde, ajuda aos desempregados e empresas, e apoio para governos estaduais e locais em dificuldades”, afirma.

De acordo com o colunista, estimativas razoáveis sugerem que o Estado deve gastar US$ 200 bilhões ou mais a cada mês até que uma vacina ponha fim à pandemia. “Eu ficaria chocado se um Senado ainda controlado por Mitch McConnell concordasse com algo assim”, escreve. “Mesmo depois que a pandemia acabar, é provável que enfrentemos uma persistente fraqueza econômica e uma necessidade desesperada de mais investimentos públicos”, destaca.

Krugman lembra que McConnell bloqueou efetivamente os gastos com infraestrutura, mesmo com Donald Trump na Casa Branca. “Por que ele se tornaria mais receptivo com Biden no cargo?”, indaga. “Agora, gastar não é a única forma de política. Normalmente, há muitas coisas que um presidente pode alcançar para o bem (Obama) ou mal (Trump) por meio de ações executivas. Na verdade, durante o verão uma força-tarefa democrata identificou centenas de coisas que um governo Biden poderia fazer sem ter que passar pelo Congresso”, detalha.

Mas aí entra o papel de uma Suprema Corte, fortemente partidária – uma corte moldada pelo comportamento violador de normas de McConnell, incluindo a confirmação apressada de Amy Coney Barrett poucos dias antes da eleição, cita o colunista.

“Seis dos nove juízes foram escolhidos por um partido que ganhou o voto popular apenas uma vez nas últimas oito eleições. E eu acho que há uma chance substancial de que este tribunal possa se comportar como a Suprema Corte dos anos 1930, que manteve bloqueando os programas do New Deal até que (o então presidente) Franklin Delano Roosevelt ameaçou adicionar cadeiras – algo que Biden não seria capaz de fazer com um Senado controlado pelos republicanos”, afirmou.

A derrota do atual presidente, segundo Krugman, significa que o país evitou um mergulho no autoritarismo, não apenas por causa de quem é Trump, mas também porque o Partido Republicano moderno é extremista e antidemocrático. “Mas nosso sistema eleitoral distorcido significa que o partido de Trump ainda está em uma posição de prejudicar, talvez paralisar, a capacidade do próximo presidente de lidar com os enormes problemas epidemiológicos, econômicos e ambientais que enfrentamos”, afirma.

De acordo com o colunista, um outro país com o nível de disfunção política do dos Estados Unidos provavelmente seria considerado à beira de se tornar um Estado falido, cujo governo não seria mais capaz de exercer controle efetivo. Se o predomínio republicano no Senado se confirmar, diz Krugman, Biden terá enormes dificuldades pela frente. “Apesar de sua aparente vitória, a República continua em grande perigo”, conclui.