Em São Paulo, start-up de ajuda a refugiados precisa continuar

O Projeto Open Taste é um restaurante delivery de gastronomia de diferentes povos, que precisa cumprir uma meta até o final da semana para continuar. Conheça a cultura alimentar dos refugiados acolhidos em São Paulo.

É possível experimentar comidas e ouvir músicas da Síria, da Venezuela, do Congo, do México, da Bolívia e da Colômbia.

Quem for de São Paulo pode impedir que um importante projeto de apoio a refugiados acabe, durante a pandemia. O Open Taste é um restaurante delivery de apoio a vários chefes de diferentes países, que tem sofrido as dificuldades que a Covid-19 impôs a muitos negócios.

O projeto nasceu para ajudar famílias de refugiados e imigrantes em São Paulo. Todo dia uma família de um país diferente cozinha e gera renda, oferecendo a experiência para os clientes de experimentar a comida do seu país, ouvindo uma playlist com músicas típicas e um cartãozinho de obrigada no seu idioma.

Agora eles precisam de apoio, pois são financiados por uma aceleradora de empreendimentos que estabeleceu uma meta de vendas para atingir até o final dessa semana. Assim, pedem ajuda na divulgação para os amigos e até comprar os produtos.

Conheça mais sobre o projeto aqui: opentastebrasil.org

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Leia mais sobre o projeto e veja o vídeo:

https://www.facebook.com/ONUBrasil/videos/452925881799540

Joanna Ibrahim, idealizadora da start-up Bab Sharki e do projeto Open Taste, servindo os clientes do restaurante compartilhado. ©ACNUR/Dalia McGill

Forçada a fugir da violência que tomou conta da Síria, Joanna Ibrahim chegou no Brasil em 2015. “Quando a guerra começou a aumentar, não existia mais segurança. Passei por algumas situações muito perigosas”, conta. “Lá, não tem como viver, nem esperança tem”. Joanna escolheu vir para o Brasil por considera-lo um país receptivo, pensando em ter um futuro aqui. E teve.

Com um pai cabelereiro, um irmão chef de cozinha, e um tio gerente de restaurante, empreendedorismo não é algo desconhecido para Joanna. Então, quando chegou em São Paulo após viver em outras cidades brasileiras, ela decidiu desenvolver o seu próprio negócio, a start-up Bab Sharki – uma referência ao Portão do Sol, um dos setes portões da cidade antiga de Damasco, na Síria.

Bab Sharki tornou-se uma plataforma de negócios compartilhados com outras pessoas refugiadas que vivem em São Paulo para viabilizar a venda de produtos e serviços, gerar visibilidade para seus empreendimentos e criar oportunidades para uma nova vida com dignidade. “Entendo que os refugiados têm talento e muita experiência boa. Mas nem sempre conseguem fazer tudo sozinhos”, diz Joanna. “A gente tem que dar o braço de um lado para eles darem o braço do outro.”

A mais nova iniciativa da Bab Sharki é o projeto Open Taste, onde pessoas refugiadas podem divulgar seus negócios, vender seus produtos e ao mesmo tempo, compartilhar sua cultura com os paulistas por meio da gastronomia. Toda semana, um refugiado é convidado para preparar e vender comidas típicas de seu país em um restaurante no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

“A gente não quer só mostrar a comida, mas também a cultura das pessoas”, diz Joanna, que aliou a curiosidade do brasileiro sobre histórias de refugiados a um espaço que propicia esta troca de cultura. “O cliente quer saber de onde veio a comida, de onde veio a pessoa e qual é a história dela. Queremos ajudar a contar essa história”, afirma Joanna, que também ajuda os demais refugiados servindo os clientes do restaurante. Ela também já preparou comida síria e compartilhou as iguarias com o público brasileiro.

A Bab Sharki, que é financiada por uma aceleradora de start-ups com foco em impacto social, aluga o espaço do restaurante toda semana e ajuda os empreendedores refugiados com os custos de produção das refeições. Levando em consideração a situação de vulnerabilidade de muitos refugiados, Joanna acredita que é importante eles evitarem riscos financeiros ao iniciar um negócio. “E se eles comprarem o produto e sobrar? O que vai acontecer?” A Bab Sharki então se responsabiliza pelos custos do investimento inicial.

Evodie, refugiada do Congo, é uma das empreendedoras participantes do Open Taste. “O projeto é muito bom porque está ajudando refugiados e migrantes a abrir seus próprios negócios. As pessoas podem conhecer nossa comida, e muitas pessoas estão gostando”, diz.

“Uma coisa que eu gosto muito aqui no Brasil, em São Paulo, onde moro, é que as pessoas gostam de descobrir a cultura dos outros. ”

Morando no Brasil há dois anos, Evodie conta que cozinhava no Congo quando viva em seu país. “Minha mãe me ensinou a cozinhar, e eu cozinhava para minha família toda. Mas se você cozinha mal, todo mundo fala mal de você”, ela diz, brincando. A refugiada nunca pensou que ganharia seu sustento cozinhando, mas a curiosidade do público brasileiro por outras culturas está tornando esta oportunidade real.

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Evodie, empreendedora do Congo, e Geraldo, parceiro do projeto Open Taste, na cozinha do Open Taste, um projeto da start-up Bab Sharki. ©ACNUR/Dalia McGill

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Evodie preparando um prato típico do Congo para o projeto Open Taste. ©ACNUR/Dalia McGill

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Paulistas curtindo a comida típica do Congo em São Paulo. ©ACNUR/Dalia McGill

“Uma coisa que eu gosto muito aqui no Brasil, em São Paulo, onde moro, é que as pessoas gostam de descobrir a cultura dos outros. É por isso que o negócio da comida está dando certo, porque as pessoas gostam de comer comida de diversas culturas. ”

Recém-iniciado, o Open Taste já tem vários fãs entre os paulistanos. Para Dayara, uma cliente habitual do restaurante, a iniciativa é “sensacional” “porque dá a oportunidade de conhecer pratos tradicionais de diversos países num lugar só”. Joanna está muito contente de saber que o projeto tem o apoio do público. “As pessoas estão amando o conceito, estão amando ajudar a gente, tem muita gente chegando e perguntando como podem ajudar mais. ”

“Todo mundo quer ter um futuro bom, ele quer sonhar e estruturar sua vida de uma forma digna, uma forma viável e boa. ”

De acordo com Joanna, as iniciativas da Bab Sharki impactaram 105 pessoas em 2018, entre os refugiados e seus familiares. E a disposição é de crescer. “Todo mundo quer ter um futuro bom, quer sonhar e estruturar sua vida de uma forma digna, viável e boa”, diz Joanna, que entende a dificuldade que refugiados passam quando chegam em um novo país, e também as esperanças que trazem consigo.

Com a Bab Sharki e o projeto Open Taste, Joanna está ajudando outros empreendedores refugiados, criando uma oportunidade para eles recomeçaram suas vidas e, ao mesmo tempo, contribuírem para a economia do Brasil. “Quando pessoas estão trabalhando, eles estão pagando impostos, eles estão gerando recursos. E quando compram material, estão comprando de quem? Do brasileiro. Então eles estão gerando uma economia, eles estão desenvolvendo a economia do Brasil mesmo, não só a deles. ”

Reportagem da Acnur

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