Chile faz balanço do plebiscito e olha para o futuro

“Guillermo Teillier, presidente do Partido Comunista, destacou que ‘esta vitória deve forçar a unidade política da oposição. Sabemos que temos pensamentos diferentes, mas em relação à Carta Magna temos a obrigação de avançar o mais possível nos acordos’”.

O Chile faz, nesta segunda-feira (26), um balanço da esmagadora vitória nas urnas no plebiscito de domingo, que marca o fim de uma etapa para o país e abre um caminho, nada rápido, para uma nova Constituição.

Em relação aos resultados, embora se esperasse uma vitória confortável para o “Aprovo”, o resultado de 78,3% contra 21,7% foi avassalador e surpreendeu até os adeptos dessa opção.

A grande vantagem se manifestou em todo o país, onde 15 das 16 regiões atingiram mais de 70% para o “Aprovo” e apenas La Araucanía, um baluarte tradicional da direita, ficou abaixo desse percentual, mas ainda assim com uma vantagem de mais de 33% em relação ao “Não Aprovo”.

Mas o mais impressionante foi o resultado relacionado com o mecanismo de elaboração da nova Constituição, que deu à Convenção Constitucional pura 79% contra apenas 21% da Convenção Mista.

Pesquisas e analistas previam que a diferença entre os dois mecanismos seria muito menor do que entre a Aprovação e a Rejeição, mas o resultado revelou o contrário.

Levando em consideração que o primeiro mecanismo (Convenção Constitucional pura) deve ter todos os seus membros eleitos pela população, enquanto o segundo seria composto em partes iguais por cidadãos eleitos e legisladores em exercício, a mensagem que o resultado envia para o mundo político parece ser clara.

A este respeito, a acadêmica do Instituto de Relações Públicas da Universidade do Chile, Mireya Dávila, resumiu que o público expressou consistentemente sua desconfiança em instituições como o parlamento e os partidos políticos em geral.

Outro resultado importante foi o notável comparecimento, em um país onde, desde que o voto obrigatório foi abolido, em 2012, a participação nas urnas nunca ultrapassou 50%.

No entanto, e apesar das campanhas que estimularam o medo da violência e do contágio pela Covid-19, mais de 7,5 milhões de eleitores compareceram a votar, 51% dos habilitados, superando as eleições presidenciais de 2017 em dois pontos, o que evidenciou a disposição dos cidadãos em participar do importante processo.

Para observadores, esse nível de assistência confirmou que o movimento popular que fermentava no país e se manifestava com enorme força nas ruas a partir de 18 de outubro de 2019, voltou à carga, desta vez nas urnas, para reiterar suas demandas por mudanças profundas que só podem ser incluídas em uma Constituição diferente daquela imposta pela ditadura de 1980.

Ainda que o presidente Sebastián Piñera tenha saído bem cedo para dizer que o resultado do plebiscito “foi um triunfo para todos”, é claro que a direita mais rançosa, que sempre optou pela rejeição, sofreu uma derrota esmagadora.

Mas com o plebiscito os desafios não acabaram. A próxima etapa do processo se dá com várias pontas soltas que devem ser amarradas muito antes de 11 de abril de 2021, quando é constituída a Convenção Constitucional, sendo importante alcançar a maior representatividade possível nesse órgão.

Resta saber o que o parlamento decidirá sobre como fica a representação dos povos indígenas, historicamente excluídos, embora representem quase 13% da população do Chile.

Igualmente pendente está a questão da participação de delegados independentes, cujas candidaturas até hoje aparecem em desvantagem em relação a representantes de partidos políticos, bem como os chilenos residentes no exterior, que puderam votar no plebiscito, mas até agora não está prevista que possam fazê-lo na eleição dos constituintes.

Além disso, existe o grande desafio para a oposição fragmentada alcançar uma coordenação suficiente para obter uma maioria suficiente na Convenção Constitucional para superar a barreira dos dois terços e ser capaz de traduzir as aspirações da população no texto.

A este respeito, Guillermo Teillier, presidente do Partido Comunista, destacou que “esta vitória deve forçar a unidade política da oposição. Sabemos que temos pensamentos diferentes, mas em relação à Carta Magna temos a obrigação de avançar o mais possível nos acordos”.

Por sua vez, Beatriz Sánchez, ex-candidata presidencial da Frente Ampla, disse que a votação representou “um sinal de responsabilidade para todas as organizações políticas, para trilhar um caminho das maiorias”.

Fonte: Prensa Latina, texto de Rafael Calcines Armas, tradução da Redação