Milícias aumentam seu poder no Rio de Janeiro

A família presidencial, especialmente Bolsonaro e Flavio, têm laços de longa data com uma das mais cruéis “milícias” do Rio, o “Escritório do Crime”. B

Flávio Bolsonaro mantém relações próximas com milicianos

No domingo, 15 de novembro, os 5.570 municípios brasileiros vão eleger prefeitos e vereadores. Em grande parte deles, todos na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, um novo elemento político vem reforçando, com destaque, seu desempenho eleitoral. São os “milicianos”, como as gangues de pistoleiros, oriundas das polícias civil e militar.

Isso não é exatamente uma novidade no Brasil. Em 2018, as “milícias” desempenharam um papel importante ao lado dos eleitores de Jair Bolsonaro, seu filho mais velho, Flávio, que chegou ao Senado Federal e levou um juiz desconhecido, Wilson Witzel, ao governo do Rio (agora afastado pela Justiça, por corrupção).

A família presidencial, aliás, especialmente Bolsonaro e Flavio, têm laços de longa data com uma das mais cruéis “milícias” do Rio, o “Escritório do Crime”. Basta lembrar a proximidade do clã com um “miliciano” sanguinário, Adriano da Nóbrega, ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro , e o braço direito da família, o ex-sargento Fabricio de Queiróz. Nóbrega foi baleado em um esconderijo no interior da Bahia, e Queiróz está, junto com sua esposa, em prisão domiciliar.

O que impressiona neste ano é a forma aberta com que os “milicianos” alertam o eleitorado em amplas áreas tanto do Rio como de municípios vizinhos sobre as consequências da não eleição de seus candidatos. Eles são apresentados aos moradores das localidades pela “milícia”, tanto em reuniões convocadas em um bar, quanto nas residências das famílias previamente alertadas para a “visita”.

Tal ação, ampliada com base em experiências anteriores, se resume em monitorar de perto o resultado, examinando os registros eleitorais. Quando outro candidato não “indicado” aparece com mais votos, os eleitores da região são avisados ​​de que estão em perigo. Este ano o alerta veio com antecedência: os “cabos eleitorais”, encarregados de trabalhar para determinados candidatos, foram avisados ​​que em caso de derrota serão “alvejados”, ou seja, sujeitos a sofrer ataques violentos ou serem sumariamente fuzilados.

Outro método agora lançado é que os habitantes das regiões controladas apresentem o comprovante de voto para receber pequenas quantias em dinheiro. E ao mesmo tempo são avisados ​​que caso o candidato “certo” seja derrotado, haverá retaliação.

Para tudo isso, foi reforçado um hábito registrado em eleições anteriores: candidatos a qualquer cargo, tanto legislativo quanto executivo, não podem fazer campanha em áreas controladas sem autorização do comando da “milícia”. Pelo menos doze candidatos a vereador em cidades da região metropolitana do Rio foram assassinados durante a atual campanha, e mais de cinquenta foram ameaçados.

O sociólogo José Claudio Alves, que há vinte anos estuda as “milícias”, disse ao jornal Folha de São Paulo que as eleições de 2020 serão o momento de apoteose dos paramilitares. Alves entende que o discurso da extrema direita defendendo a eliminação sumária dos “bandidos” e que a população esteja armada, especialmente concentrada no atual presidente Bolsonaro , favorecerá a eleição de candidatos ligados às “milícias”. Outro fator, é claro, são as ameaças anteriores, renovadas a cada dia.

Surgidas há pouco mais de vinte anos, inicialmente as “milícias”  dedicavam a combater o tráfico de drogas nas áreas menos favorecidas do Rio e cidades vizinhas. Eles agiram fora da lei, sob a aprovação da Justiça e das forças de segurança.

Rapidamente eles aumentaram seu raio de ação e entraram em extorsão, vendendo de tudo, desde gás butano até serviço de televisão a cabo, dominando o transporte e, claro, oferecendo “planos de segurança”. Em várias partes da região metropolitana, eles se associaram aos traficantes de drogas e avançaram na invasão de áreas públicas com construções ilegais.

Com a chegada de Bolsonaro à presidência e o agora deposto Wilson Witzel ao governo estadual, as “milícias” descobriram novas fontes de renda. E desde o início da pandemia, eles aperfeiçoaram seus métodos: agora vendem vagas em hospitais públicos.

Diante da inércia geral, 57,5% do território da cidade do Rio está sob controle da “milícia”. Isso significa que pouco mais de um terço da população – quase 2,2 milhões de pessoas – vive nessas áreas. Existem 165 bairros na região metropolitana em disputa entre traficantes e paramilitares. Isso significa outras quase 2.700.000 pessoas. No Rio, apenas cinco bairros estão livres de “milicianos”.

Um número significativo de criminosos vai pular nas pesquisas de novembro. Eles vão legislar. E não há como evitá-lo.

Fonte: Pagina12

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