Desemprego afeta mais negros, mulheres e trabalhadores do Nordeste

Com o fim do auxílio emergencial, mais trabalhadores devem procurar empregos, sair do “desalento” e, assim, ampliar os números da desocupação

As desigualdades existentes no mercado de trabalho foram agravadas com a pandemia de Covid-19. É o que apontam os sociólogos Ian Prates e Rogério Barbosa, da Rede de Pesquisa Solidária Políticas Públicas & Sociedade. Em artigo na Folha de S.Paulo, neste sábado (24), eles afirmam que o desemprego recorde no Brasil hoje é uma “tragédia” que já “estava anunciada desde o início da pandemia”. Mas a alta nas taxas desocupação afeta, sobretudo, três segmentos: negros, mulheres e trabalhadores do Nordeste.

“A explicação reside em uma combinação de fatores”, escrevem Ian e Rogério. No caso dos negros, já existe, historicamente, uma “inserção mais frágil no mercado”, marcada pela informalidade. Somam-se aí, como causas do fenômeno, os “menores níveis de qualificação” e os “recorrentes mecanismos de discriminação” contra a população negra. “A informalidade impediu também que esses trabalhadores pudessem lançar mão de acordos de férias coletivas e de manutenção do emprego com redução de jornada.”

Para as trabalhadoras do sexo feminino, o desemprego mais acentuado se deve à “segregação ocupacional e setorial”, conforme o artigo: “Mulheres tipicamente estão alocadas em posições classificadas como não essenciais na pandemia: comércio, serviços domésticos remunerados, ocupações do cuidado e serviços pessoais – todos esses são, de longe, os setores mais afetados”. As mulheres negras, nesse sentido, sofrem ainda mais os impactos da crise.

Já em termos regionais, as regiões Norte e Nordeste – que já registravam índices maiores de desemprego no período pré-pandemia – viram as condições de trabalho piorarem. Os sociólogos da Rede de Pesquisa Solidária Políticas Públicas & Sociedade indicam, nesse recorte geográfico, o cruzamento de três fatores que prejudicam especialmente os trabalhadores nortistas e nordestinos: “mercado de trabalho com maiores taxas de informalidade, estrutura produtiva menos complexa e força de trabalho menos qualificada”.

Com o fim do auxílio emergencial, previsto para dezembro, mais trabalhadores devem procurar empregos, sair do “desalento” e, assim, ampliar os números da desocupação. “Grande número de micro e pequenas empresas foram fechadas. Noutras palavras, não há postos para os quais retornar.”

O que se pode fazer? “Não basta esperar que uma eventual onda (ou marolinha) de crescimento levante todos os barcos. Milhões continuarão a nadar com a água no pescoço”, analisam Ian e Rogério. “É urgente retomar a agenda de combate às várias formas de desigualdade como política de Estado.”​

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