Celso Amorim: Eleição na Bolívia “mostra a força das ideias”

Ex-ministro declara apoio a Benedita da Silva (PT) no Rio de Janeiro e a Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre

Três eleições estão no radar de Celso Amorim, que foi o ministro de Relações Exteriores na era Lula e ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff. Depois de celebrar, no último domingo (18), a vitória de Luiz Arce, do MAS (Movimento ao Socialismo), na Bolívia, Amorim agora observa a disputa à Casa Branca, nos Estados Unidos, e também as eleições municipais no Brasil.

O caso boliviano – em que o candidato apoiado pelo ex-presidente Evo Morales conquistou um êxito surpreendente, já no primeiro turno – enche de ânimo o ex-chanceler brasileiro. “A eleição presidencial deste mês teve um significado muito especial. A maioria do Arce foi mais ampla do que teria sido a do Morales no ano passado”, declara Amorim, em entrevista à edição desta semana da revista Época. “Isso mostra a força das ideias. É uma esperança de que a gente volte.”

Em 2019, depois de vencer mais uma vez a eleição à presidência, Evo foi derrubado do poder por um consórcio golpista, que envolveu as elites bolivianas, a direita, a grande mídia, a Igreja Católica e, claro, os Estados Unidos. “Foi um golpe total, com a participação da Organização dos Estados Americanos (OEA). Foi indecente”, enfatiza Celso Amorim.

Em sua opinião, o MAS, agora de volta ao poder, “deve escolher unir o país, deve estender a mão a todos, dentro do possível”. Se esta for a regra, pode haver exceções pontuais e necessárias. “O líder da região de Santa Cruz é de extrema-direita. Ele (Arce) vai ter de analisar (se é possível o diálogo).”

Da mesma maneira, Amorim crê que a volta de Evo Morales à Bolívia não deve tensionar o quadro político. “Os discursos de Morales antes da eleição foram muito pacíficos”, diz o diplomata brasileiro. “É uma situação difícil. A Bolívia teve inúmeras crises ao longo da história. Eles devem trabalhar pela estabilidade.”

Sobre as eleições nos Estados Unidos – onde o democrata Joe Biden tende a derrotar o presidente republicano e candidato à reeleição Donald Trump –, Amorim prevê impactos diplomáticos para o Brasil. Segundo ele, com Jair Bolsonaro na presidência, “não temos uma política externa” – mas, sim, “uma submissão total a Donald Trump”.

“O curioso é que o governo Bolsonaro não recebeu nada de Trump além de pedidos. Vão precisar fazer uma redefinição muito profunda”, afirma o ex-ministro. “Não acredito que Bolsonaro mudará seu conceito de soberania, que é sinônimo de poder queimar floresta. Mas talvez consiga temperar um pouco. Com Biden, vai ficar difícil.”

As relações entre Brasil e China, conforme Amorim, revelam o despreparo da gestão bolsonarista à frente do Itamaraty: “Não conheço nenhum país que briga abertamente com seu maior parceiro comercial, como estamos fazendo com a China. Os chineses são responsáveis por 70% do superávit comercial brasileiro. Ninguém entende como o governo consegue brigar com a China”.

Filiado ao PT, Amorim diz que a liderança do ex-presidente Lula ainda pode atrair votos para candidaturas petistas, mas não o suficiente para definir uma eleição. “Tem pandemia e há dificuldade de desenvolver a campanha. O apoio do Lula soma muito, mas também não pode fazer milagre, se a pessoa não é conhecida”, diz Amorim. “São coisas da vida. Se amanhã ou depois eu me candidatar a alguma coisa, não basta o Lula me apoiar para eu ser eleito”, agrega.

Amorim diz ser favorável a “fazer frentes progressistas”, que eleve as chances do campo democrático-progressista nas principais capitais. “No Rio de Janeiro, acho importante o apoio à Benedita da Silva, a candidata do PT. Unida, a esquerda no Rio estaria no segundo turno”, comenta. “Em Porto Alegre, apoio a Manuela D’Ávila, do PCdoB.”

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