Guedes diz a investidores que “acha” que não será demitido

Em conferência do Milken Institute, ministro da Economia tentou convencer participantes de que é o momento de investir no Brasil. País vive fuga de capital.

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes - Foto: Isac Nóbrega/PR

Em uma conferência com do Milken Institute em que tentou convencer investidores estrangeiros de que este é um bom momento para colocar dinheiro no Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse uma frase no mínimo estranha: “Não acho que vou ser demitido nos próximos meses”. Passa a impressão de que, se a hipótese não existisse, não seria necessário desmenti-la.

A fala surgiu em um contexto em que se falava sobre Dilson Funaro, ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, que foi demitido devido à situação de hiperinflação. Guedes disse que, na época, alertou os investidores estrangeiros sobre o que estava acontecendo. Questionado sobre o que prevê para o momento atual, o ministro afirmou: “O que eu posso dizer, não acho que vou ser demitido nos próximos meses, e agora é tempo de vir [investir] no Brasil”.

Para justificar a avaliação positiva do país, ele disse que o governo retomou a agenda de reformas econômicas e propôs um mecanismo de seguro cambial para proteger os investidores de perdas, devido ao patamar histórico de desvalorização do real. Pressionado ainda sobre a situação da Amazônia, Guedes afirmou que o governo é “mal interpretado” e há “exagero” na cobrança ambiental. Resta saber se convenceu investidores, pois o país vive uma fuga recorde de capitais.

Vale lembrar que Guedes já caiu no desagrado do chefe Jair Bolsonaro algumas vezes, devido ao dogmatismo com que se apega à política do gasto público mínimo. Saiu da berlinda devido ao apoio que tem junto ao mercado, que teme que o governo se torne “gastador” sem o ministro. Recentemente, Paulo Guedes tem recebido gestos públicos de apoio de Bolsonaro.

No entanto, para o economista Marco Rocha, professor da Unicamp, o prestígio de que Paulo Guedes gozava junto ao setor produtivo e ao mercado financeiro já não é o mesmo e a possibilidade de o atual ministro ser substituído não está descartada.

“O Guedes sempre foi o grande fiador do governo Bolsonaro para o empresariado brasileiro. Mas acho que, em tempos recentes, até o mercado está enxergando com certo criticismo a posição dele. Primeiro, porque ele dá sinais muito claros de incompetência, de não saber o que está fazendo, não ter um plano definido para a economia. Segundo, porque dá sinais de inabilidade política”, avalia.

O economista acredita que, caso Paulo Guedes caia, seu substituto não se afastará muito da agenda liberal do governo de Jair Bolsonaro. Rocha prevê um nome “ortodoxo, alinhado às expectativas do mercado, mas com perfil mais técnico”. Aposta, ainda, em alguém mais flexível do que Guedes e com maior habilidade de negociação junto ao Congresso Nacional.

Na visão de Rocha, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, desafeto de Guedes e cujo nome já foi apontado como possível substituto, seria um que manteria a agenda atual mas teria uma postura menos dogmática. Ele considera um mito a ideia de que Marinho e parte da ala militar do governo que o apoia têm um perfil “desenvolvimentista”.

“O governo Bolsonaro vendeu o Guedes como quadro técnico e boa parte da população comprou gato por lebre. Ele é um especulador sem nenhum conhecimento de como funciona a gestão pública. Acho que a fuga de investimento do país está relacionada, inclusive, com o risco Guedes”, conclui o economista.

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