Mulheres e jovens foram os mais afetados pela pandemia, diz OIT

Região perdeu ao menos 34 milhões de empregos em virtude da crise imposta pelo coronavírus

Vinicius Pinheiro, diretor da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para a América Latina e o Caribe (Foto: RFI)

O mercado de trabalho na América Latina, marcado pela elevada informalidade e pela precária proteção social, foi atingido em cheio pela pandemia do novo coronavírus. As mulheres e os jovens foram ainda mais prejudicados – e terão dificuldades extras para recuperar empregos e direitos. É o que avalia Vinicius Pinheiro, diretor da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para a América Latina e o Caribe.

Conforme o relatório “Panorama Laboral em tempos de Covid-19”, divulgado neste mês pela entidade, a região perdeu ao menos 34 milhões de empregos em virtude da crise imposta pela pandemia. Houve uma queda de 5,4 % na ocupação média dos trabalhadores latino-americanos – o que, segundo Vinícius, “exacerbou desigualdades”.

“A pandemia não pode ser uma desculpa para retroceder em relação a ganhos históricos, como a participação da mulher no mercado de trabalho, a redução do trabalho infantil, e direitos trabalhistas. É fundamental implantar políticas de preservação de avanços”, afirma o diretor da OIT, em entrevista à agência RFI. Confira trechos:

RFI: Por que a América Latina foi a região mais afetada nesta crise que é mundial?
Vinicius Pinheiro: Da mesma forma que a pandemia afeta pessoas que tinham condições pré-existentes menos favoráveis, na América Latina isso também acontece em relação a nossas condições socioeconômicas. As nossas condições pré-existentes, em comparação com países da África, da Ásia e da Europa, são muito desfavoráveis, em especial no que se refere ao mercado de trabalho.

A região tem um elevado grau de informalidade – e a informalidade tem sido um obstáculo para a implantação de políticas de confinamento. É também uma região com debilidades no sistema de proteção social, em especial à saúde. Esse quadro potencializou o impacto da crise.

RFI: O relatório aponta 34 milhões de desocupados na região. O IBGE indica 12,8 milhões só no Brasil. Este é o fundo do poço ou o número ainda pode crescer?
VP: Essas pessoas que saíram da força de trabalho vão querer regressar em algum momento. E isso vai ser uma enorme pressão sobre o mercado de trabalho. Por isso, é fundamental que se continuem políticas de reativação segura [da economia], que tenham como chave a segurança e a saúde do trabalho, com medidas protetivas e de proteção para a saúde do trabalhador.

Essa é a única forma de compatibilizar o objetivo econômico e de aumento do emprego com o objetivo sanitário de controle da pandemia. Não há uma dicotomia entre o emprego e a saúde. Ou ganhamos nas duas frentes, ou perdemos tudo.

RFI: Quais os grupos que serão mais afetados nessa retomada?
VP: A pandemia exacerbou desigualdades, inclusive no mercado de trabalho. Já sabemos que anos e anos de conquistas das mulheres no mercado de trabalho podem sofrer um retrocesso. Primeiro, porque a pandemia afetou de forma mais grave o setor de serviços, que é dominado por mulheres. Então foram as primeiras a perderem o emprego, ao lado dos mais jovens.

Também na recuperação econômica, já se nota que os setores que estão sendo reativados são os mais dominados pela força de trabalho masculina. Mulheres e jovens requerem uma atenção especial com políticas específicas, assim como o trabalhador informal.

Este é o momento de conter eventuais retrocessos, como a volta da pobreza e da fome. Em temas como o trabalho infantil, já havíamos evoluído bastante nas últimas décadas – mas agora , com uma interrupção no ensino combinada com problemas de renda, as famílias se veem encorajadas a enviar seus filhos e filhas ao mercado de trabalho de maneira precoce. Isso é um problema de curto prazo, mas também de destruição de formação de capital humano a longo prazo. Uma vez que eles entram no mercado de trabalho, é muito difícil que regressem à escola.

A pandemia não pode ser uma desculpa para retroceder em relação a ganhos históricos, como a participação da mulher no mercado de trabalho, o combate ao trabalho infantil, os direitos trabalhistas. É fundamental implantar políticas de preservação de avanços na área de direitos e do mercado de trabalho.

Com informações da RFI

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