Conselho Mundial da Paz América impulsiona luta anti-imperialista

Entidades filiadas ao Conselho Mundial da Paz (CMP) que fazem parte da Regional América reuniram-se de forma virtual nesta quarta-feira (14), sob a coordenação do Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos (MovPaz), entidade presidida por Silvio Platero. Silvio Platero aproveitou a ocasião para agradecer ao CMP por ter feito uma indicação oficial ao Comitê Norueguês do Prêmio Nobel em favor das Brigadas Henry Reeve para o Nobel da Paz de 2021.

A presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, fez a intervenção de abertura, seguida por Iraklis Tsavdaridis, da Grécia, que é Secretário Executivo do CMP. Em sua fala (veja abaixo a íntegra), Socorro Gomes declarou que “foi uma honra para o Conselho Mundial da Paz ter se somado à campanha internacional pelo Prêmio Nobel da Paz a ser outorgado às brigadas médicas cubanas do Contingente Henry Reeve, enviando sua nomeação ao Comitê Norueguês. O trabalho internacionalista e o compromisso com a vida contribuem com a elevação da consciência dos povos“.

Representando o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) estiveram presentes Jamil Murad (presidente), Wevergton Brito (vice-presidente) e José Reinaldo (secretário-geral). Em sua fala (veja abaixo, a íntegra) Jamil alertou que “ampliam-se os conflitos internacionais (…) é exigência então do nosso tempo que as forças pacifistas e anti-imperialistas redobrem suas atividades. Esclareçam aos povos a ligação entre o que acontece no cenário internacional e sua vida cotidiana. Precisamos aumentar a massa dos que lutam pela paz, dos internacionalistas consequentes, só isso fará com que tenhamos capacidade de capitanear grandes mobilizações pelo mundo, em denúncia contra os Senhores da Guerra”.

Além de Cuba e Brasil, participaram representantes da Venezuela, República Dominicana, México, Argentina, Chile, Colômbia, Nicarágua, Canadá, Estados Unidos, Jamaica e Barbados. O MovPaz anunciou que nas próximas semanas irá divulgar uma revista eletrônica com as intervenções da reunião.


Conselho Mundial da Paz | Reunião da Região América
14 de outubro de 2020

Discurso da Presidenta do CMP Socorro Gomes

Estimados companheiros e companheiras do CMP,

Amigos do Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos, e seu presidente Silvio Platero, coordenador da Região América,

Quero saudá-los pelo compromisso que demonstram ao adotar esta alternativa virtual para manter nosso diálogo e nossa luta vivos. Quero ainda expressar meu desejo de que estejam todos bem, com saúde e com a mesma disposição de lutar, como sempre, para que possamos superar juntos o desafio de contribuir com a conquista de um mundo melhor para toda a humanidade.

Companheiros, a circunstância gravíssima que vivemos, quando estamos impossibilitados de nos encontrar fraternalmente, torna inevitável que comecemos nossa conversa tratando dos impactos da pandemia do novo coronavírus, agravados pelas políticas criminosas de muitos dos governos dos nossos países, não só relativas ao próprio desafio sanitário, já grave, como também às condições e ameaças acometendo os povos, agora reforçadas.

Falamos, assim, da crise econômica catalisada e agravada pela pandemia, do empobrecimento massivo, do aumento da miséria e do incremento do desemprego em muitos países. Cerca de 115 milhões de pessoas podem estar em um nível de pobreza extrema em 2020 devido à crise. Se prevê que em 2020 a pobreza extrema mundial aumentará pela primeira vez em mais de 20 anos, como resultado das perturbações ocasionadas pela pandemia de Covid-19, advertiu o Banco Mundial. No informe “Pobreza e prosperidade compartilhada em 2020”, a instituição indicou que esse aumento se deve principalmente aos sérios desafios —conflitos e alteração climática, além da pandemia— que todos os países enfrentam, mas particularmente aqueles com uma população pobre numerosa. Segundo o documento, na América Latina, onde vivem mais de 650 milhões de pessoas, a taxa de pobreza extrema passaria de 3,9% em 2017 a 4,4% no fim deste ano, alcançando 28,6 milhões de pessoas. Isso implica que, confirmada a previsão, a crise terá empurrado à pobreza extrema 4,7 milhões de latino-americanos em 2020.

Neste contexto, os governos antipopulares realizam políticas excepcionais e, sob o pretexto de combater os efeitos da pandemia, oprimem os povos e agravam as condições de precariedade e a superexploração dos trabalhadores. Além disso, o obscurantismo emergindo com o negacionismo acientífico nos choca num momento em que mais necessitamos de todo o conhecimento e capacidade disponíveis para proteger a vida. Da mesma forma, as mentiras e o cinismo expresso por alguns líderes na Assembleia Geral das Nações Unidas evidenciaram mais uma vez que classe de desafios persistentes enfrentamos. No 75º aniversário da entidade, a promoção da “paz e da segurança” e a defesa do direito internacional baseado nos princípios de autodeterminação, igualdade de soberania, não-ingerência e cooperação seguem longe da realidade, graças às políticas supremacistas do imperialismo e seus aliados.

Apesar da gravidade do momento, o que não se detém é a máquina imperialista.

O imperialismo estadunidense implementa políticas que afetam a soberania e os direitos dos povos, seja com a confrontação que o ocupante da Casa Branca impulsiona contra a China, com sua tentativa de tachar o mal que nos acomete de “vírus chinês” —enquanto o governo da República Popular oferece seu apoio técnico e econômico aos que necessitem; seja com a persistente promoção de golpes na Venezuela e Bolívia, tentando derrubar com o bloqueio a Revolução Cubana e o governo da Coreia Popular, e aliando-se a governos protofascistas como o do Brasil, belicosos e colonizadores como o de Israel, reacionários e cruentos como o saudita.

Em Nossa América, acompanhamos com empenho as lutas do povo venezuelano em defesa de sua soberania e autodeterminação; da Bolívia, pelo retorno à democracia após o golpe contra Evo Morales; do Equador, pelo fim da manipulação judicial pelo atual governo contra o ex-presidente Rafael Correa, para evitar seu retorno político e tentar prendê-lo, e o mesmo na Argentina, onde a oposição de direita tenta criminalizar a vice-presidenta Cristina Fernández. No Brasil, acontece o mesmo contra o ex-presidente Lula e as forças democráticas e progressistas.

As guerras híbridas do imperialismo estadunidense há muito envolvem as elites de nossos países para fazer seu trabalho sujo e, servindo também aos interesses delas, derrubar projetos populares e progressistas. Os meios mudam, mas a estratégia é a mesma.

Acompanhamos com preocupação os acontecimentos em Nagorno-Karabakh, onde o retorno a uma confrontação direta poderá precipitar uma guerra de maiores dimensões; na Síria, onde o valente povo segue resistindo após quase uma década de guerra imperialista e terrorista; na Palestina, onde os Estados Unidos, patrocinando a colonização sionista, faz de tudo para piorar a situação e levar o povo resistente ao limite; no Saara Ocidental, onde a pendência colonial, a negligência internacional e o recrudescimento da ocupação marroquina seguem empurrando os saarauís rumo à frustração; e na Bielorrússia, onde outra vez o império provoca a instabilidade e incita conflitos.

Estes são temos nos que a urgência de humanismo e solidariedade se evidencia. As guerras matando populações ou ameaças submetendo nações aos interesses do império já deveriam ter feito clara essa urgência, mas a pandemia agora afeta a todos, ainda que de maneiras desiguais, é claro.

Por isso, foi uma honra para o Conselho Mundial da Paz ter se somado à campanha internacional pelo Prêmio Nobel da Paz a ser outorgado às brigadas médicas cubanas do Contingente Henry Reeve, enviando sua nomeação ao Comitê Norueguês. O trabalho internacionalista e o compromisso com a vida contribuem com a elevação da consciência dos povos.

Como sabemos, os bravos e bravas profissionais da saúde no contingente criado pelo Comandante Fidel levam seu cuidado a vítimas de catástrofes e epidemias graves em todos os continentes, dedicando-se a salvar vidas enquanto o império dedica-se a salvar a si mesmo, agredindo quem for para salvaguardar seus interesses. Nem mesmo sua própria população está protegida: os Estados Unidos têm um número elevado e crescente de pessoas infectadas e vítimas fatais da política facínora de Trump. Por isso, expressamos nossa solidariedade com a população estadunidense, assim como aos demais povos vitimados por políticas similares, como Brasil e Índia, segundo e terceiro a nível global, e a tantos outros onde a dimensão do sofrimento e a pobreza se contrastam com o voraz aumento das fortunas dos mais ricos.

Por tudo isso, companheiros e companheiras, é de grande importância que nos mantenhamos ativos, em colaboração estreita entre as associações e comitês do continente e as dos outros continentes, contribuindo com a luta da qual o Conselho Mundial da Paz faz parte.

Os desafios que enfrentamos nesses 70 anos de existência do CMP persistem e se agravam nestes períodos de crise, sobretudo quando a humanidade se vê persistentemente, e agora de maneira ainda mais generalizada, confrontada com a urgência de proteger a vida.

Seguimos, assim, saudando os grandes exemplos de resistência e humanismo, solidariedade e fraternidade, que devemos valorizar em contraste com a política imperialista de ameaças, supremacismo, hegemonismo agressivo e dominação.

Seguimos lutando por um mundo de paz, uma ordem internacional democrática e equitativa, a soberania das nações e dos povos, a cooperação e a amizade, únicas saídas reais a esta crise pandêmica e à crise civilizatória que as forças do império nos impõem.

Pelo fim das guerras imperialistas, os bloqueios e as ameaças,
Pela Paz,
Juntos e juntas, venceremos!

Intervenção do Presidente do Cebrapaz – Jamil Murad

Estimados companheiros, estimadas companheiras,

É com muita alegria que o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz) participa desta reunião virtual, irmanado com as entidades que, em nosso continente, travam a luta anti-imperialista, em defesa da paz mundial.

Nossa saudação, portanto, ao MovPaz de Cuba, pela oportuna convocação.

Companheiros e companheiras, o mundo vive há alguns anos uma onda global reacionária e neofascista.

Seria fugir do tema proposto para este encontro, fazer uma digressão sobre as causas e características desta ofensiva, e suas particularidades brasileiras, mas é preciso situar que o golpe de estado contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e a prisão arbitrária do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2018, visando afastá-lo das eleições em que era o favorito, mergulharam o Brasil em uma grave crise institucional, abrindo caminho para que a extrema-direita, através de Jair Bolsonaro, até então um personagem do submundo da política, empolgasse o poder, elegendo-se presidente da República em outubro de 2018.

Jair Bolsonaro, um entusiasta da ditadura militar e de seus métodos, incluindo a tortura, vê o mundo da seguinte forma: de um lado estão os Estados Unidos da América, liderando uma coalização de países em defesa do ocidente judaico cristão e do outro lado estão os inimigos, ficando nesta condição de inimigos todos os que não se juntam a esta nova cruzada ou que não compartilham desta forma primária e esquemática de enxergar a geopolítica.

Bolsonaro proclama abertamente que em relação aos Estados Unidos a sua política é, abre aspas, “de alinhamento total”, fecha aspas. Assim, desde o início do seu mandato, Bolsonaro toma medidas que obedecem ao comando de Washington, com quem assinou convênios militares, obtendo em troca o status de “aliado preferencial extra OTAN”.

Para corresponder a este duvidoso privilégio, Bolsonaro não mede esforços.

Desde o início do governo, impulsionou o ataque à soberania da Venezuela, imiscuindo-se nos assuntos internos do país vizinho, inclusive reconhecendo o ilegítimo presidente autoproclamado Juan Guaidó.

Seguindo seu mestre, Donald Trump, Bolsonaro também anunciou a transferência da embaixada do Brasil em Israel, para Jerusalém, o que ainda não logrou concretizar.

Pela primeira vez em mais de duas décadas o Brasil rompe com sua tradição diplomática e passa a votar contra a resolução da Assembleia Geral da ONU que condena o bloqueio ilegal a Cuba.

Também em temas relacionados à defesa das mulheres, dos costumes e do meio ambiente, a política externa brasileira, sob comando da extrema-direita, passa a atuar nos organismos multilaterais seguindo a pauta do fundamentalismo religioso, para espanto da comunidade internacional.

Bolsonaro, retirou o país da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), reduziu a atuação no MERCOSUL e no Brics, enquanto aposta em articulações de caráter reacionário e pró-imperialista, como o chamado Grupo de Lima.

Recentemente, o governo brasileiro desceu ao ponto de ceder território nacional para um espetáculo de provocação de Mike Pompeo contra o povo venezuelano.

Tão descarada subserviência provocou amplo protesto, até mesmo de setores conservadores. Isso porque a política externa do Brasil tem seus princípios estabelecidos na própria Constituição da República, entre eles a autodeterminação dos povos, a não-intervenção em assuntos internos de nações soberanas, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz e a busca por solução pacífica dos conflitos entre nações.

Vejam, são justamente estes princípios constitucionais que Bolsonaro viola, incluindo um parágrafo que diz explicitamente que, abre aspas “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.  Fecha aspas. Repito, isto está na Constituição Brasileira aprovada em 1988 e em pleno vigor.

Companheiros e companheiras,

Durante a pandemia, Bolsonaro mais uma vez seguiu a mesma cartilha do seu ídolo, Donald Trump, negando a gravidade da pandemia, boicotando os governadores e prefeitos que tentavam tomar medidas preventivas e de fato negando-se a fazer um esforço coordenado nacionalmente para o combate ao Covid-19.

Resultado, o Brasil registrava, no início desta semana, mais de 5 milhões de casos e mais de 150 mil brasileiros mortos, o segundo maior número de mortos no planeta.

A pandemia do novo coronavírus é, sem dúvida, o maior acontecimento político desde o fim do campo socialista no leste europeu.

O desemprego, a miséria e a concentração de riqueza em um polo e pobreza em outro certamente se agudizarão. Em relação a América Latina e Caribe o quadro também é preocupante. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) revelou estudos apontando que depois da pandemia esta região viverá sua pior crise em um século, com mais de 96 milhões de pessoas sendo levadas à pobreza extrema.

A pandemia revelou com absoluta clareza o caráter anti-humano e predatório do imperialismo, que mesmo diante desta tragédia humanitária, persiste em sua trajetória de agressões, bloqueios, sansões e ameaças.

Na sessão comemorativa dos 75 anos da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma declaração impressionante. Dirigindo-se a um mundo enlutado pela perda de milhões de vidas durante a Pandemia, Trump vangloriou-se por ter gasto, nos últimos quatro anos, mais de 2,5 trilhões de dólares em armas, uma chantagem intolerável contra os povos do planeta.

Por outro lado, países como a República Popular da China e a nossa querida Cuba seguem um caminho diferente, um caminho de esperança.

Particularmente em relação a Cuba, faltam palavras para expressar o quanto à humanidade lhe deve, pelo exemplo de internacionalismo heroico, pelo humanismo permanente de sua atuação, que não só salva vidas, mas salva o futuro, nos fortalecendo a todos com a convicção de que existe sim alternativa à barbárie.

O Cebrapaz, nas difíceis condições em que nos encontramos no Brasil, seguimos firmes com a solidariedade à Venezuela, em relação a qual conseguimos articular com dezenas de importantes entidades do movimento social brasileiro uma campanha permanente de denúncia contra os planos de agressão, através de Comitês amplos e plurais, espalhados pelo país.

Também é nossa prioridade a solidariedade militante com Cuba. Estamos empenhando grandes esforços na campanha para o Nobel da Paz para as Brigadas Henry Reeve em 2021. Esta campanha, por si só, já tem o valioso mérito de desbastar mentiras e preconceitos contra Cuba, revelar a enormidade da injustiça que representa o bloqueio e uma eventual vitória, com a conquista do Nobel, seria de grande significado para a paz mundial.

Também não descuidamos em nenhum momento da causa palestina. O povo palestino segue sendo vítima do sionismo, cabeça de ponte do imperialismo estadunidense no Oriente Médio, e necessita cada vez mais de uma forte corrente de solidariedade. Da mesma forma a Coreia Popular, o Irã, a República Árabe Saarauí, a defesa das Malvinas argentinas, a independência de Porto Rico e todos os povos em luta que resistem e buscam resguardar suas soberanias contam com o apoio do Cebrapaz em suas atividades no Brasil. Não arrefecemos também na denúncia da máquina de guerra da Otan e da presença das bases militares estadunidenses em nosso continente.

Companheiros e companheiras,

A crise econômica mundial, iniciada em 2007, estava sem perspectiva de melhora antes da pandemia e depois da pandemia a situação ainda será pior, com implicações na esfera geopolítica. A perspectiva da China ocupar o proscênio no cenário mundial igualmente desperta poderosa reação. Ampliam-se os conflitos internacionais, sejam eles tecnológicos, comerciais, ambientais ou de outras naturezas. O neocolonialismo e agressões de novos tipos tendem a se tornar mais frequentes. É exigência então do nosso tempo que as forças pacifistas e anti-imperialistas redobrem suas atividades. Esclareçam aos povos a ligação entre o que acontece no cenário internacional e sua vida cotidiana.

Precisamos aumentar a massa dos que lutam pela paz, dos internacionalistas consequentes, só isso fará com que tenhamos capacidade de capitanear grandes mobilizações pelo mundo, em denúncia contra os Senhores da Guerra.

O Cebrapaz, dentro de suas modestas possibilidades, segue em frente, animado pela consciência de que na Venezuela, em Cuba, na China, na Palestina, na Síria, na Coreia, no Vietnã, e mesmo nos EUA e em todos os países do mundo, existem centenas de milhões de homens e mulheres que aspiram e sonham com a paz mundial.

Companheiros e companheiras, não estamos sozinhos, venceremos!

Obrigado.