A tragédia do fim do auxílio emergencial

O fim do auxílio emergencial sabotará o mercado interno de consumo e não há previsão de investimentos do setor privado – interno e externo.

Ilustração: Jorge Braga

“Em cenário considerado otimista, o Brasil ampliará em cerca de 16 milhões o total de pessoas consideradas pobres quando o auxílio emergencial pago aos mais vulneráveis terminar, no fim de 2020”, informa a Folha, com base em projeções da FGV-Social. A desgraceira social, porém, deverá ser ainda bem maior.

“Esse contingente de ‘novos pobres’ ampliará para quase um terço os brasileiros que passarão a viver com menos de R$ 522,50 ao mês. O valor representa menos de meio salário mínimo e cerca de US$ 3 ao dia”, aponta o jornal. Apesar da crônica da tragédia anunciada, Jair Bolsonaro já anunciou o fim do benefício.

Aprovado pelo Congresso Nacional a contragosto do abutre Paulo Guedes, o pagamento do auxílio emergencial para mais de 65 milhões de brasileiros reduziu de forma inédita e abrupta a pobreza no país, trazendo-a ao seu menor patamar. “O fim do benefício terá o efeito contrário – e rápido”, destaca o jornalão.

A visão “otimista” da Folha

Segundo projeções da FGV-Social, interrupção do auxílio aumentará o total de pobres de 23,6% (50,1 milhões de pessoas) para cerca de 31% (66,2 milhões). Isto na hipótese “mais otimista”, enfatiza a Folha – contando com uma rápida retomada do crescimento da economia e uma forte geração de empregos em 2021.

“Para que a pobreza não aumente tanto, a economia e o emprego teriam de passar por uma recuperação muito forte, com impactos positivos sobre a renda, algo fora da maioria das previsões”, argumenta a Folha, que registra números até adocicados para o Produto Interno Bruto (PIB) e para abertura de novas vagas.

“A expectativa do mercado é que o PIB em 2021 cresça 3,5%, numa recuperação que sequer compensará o tombo de 5% previstos para este ano. Já as previsões para o emprego são bastante pessimistas, com a taxa de desocupação oscilando entre 17% e 19% no início do ano que vem”, conclui a otimista Folha.

Entre economistas críticos da ortodoxia neoliberal não há motivos para acreditar em crescimento do PIB. O fim do auxílio emergencial sabotará o mercado interno de consumo e não há previsão de investimentos do setor privado – interno e externo. E o governo austericida já anunciou uma brutal retração no Orçamento. Quanto ao desemprego, já há quem afirme que a taxa vai superar rapidamente os 25% da força de trabalho.

Novos empregos e degradação do trabalho 

Para piorar, os empregos manterão a tendência da precarização. Como registrou o jornal Valor na sexta-feira (9), “quase a metade dos empregos existentes no país são de qualidade ruim, com salários baixos, instabilidade ou jornada excessiva, o correspondente a 40,8 milhões de ocupações (45,5% do total)”.

O próprio jornal voltado à cloaca burguesa reconhece que “o principal fator para a má qualidade do emprego no Brasil está no salário. O estudo mostra que 77,7% das ocupações remuneram insuficientemente… Logo após os salários, a falta de estabilidade pesa para a baixa qualidade das ocupações no país. Cerca de 40% dos trabalhadores estavam no emprego havia menos de 36 meses, o que evidenciaria a rotatividade excessiva”.

“Outro fator para a baixa qualidade do emprego é a seguridade. Do total de ocupados, 35,7% não contribuem para a Previdência Social, tornando-se desprotegidos de direitos trabalhistas, como os auxílios (doença, acidente e aposentadoria). Por fim, pesa negativamente a jornada de trabalho superior a 48 horas semanais, emprego sem carteira assinada ou trabalhador por conta própria sem ensino superior”.

Fortuna dos bilionários cresceu 39% na pandemia

Mas nem todos os brasileiros sofrem com as desgraceiras atuais e futuras ou estão preocupados com o fim do auxílio emergencial. Mesmo em meio à pandemia, a fortuna dos bilionários brasileiros cresceu 39% entre abril e julho de 2020, segundo relatório do banco suíço UBS e da PwC divulgado na semana passada.

O relatório mostra que a fortuna dos bilionários nativos somava US$ 176,1 bilhões ao fim de julho (R$ 983,3 bilhões), comparado a US$ 127,1 bilhões no início de abril deste ano e US$ 66,6 bilhões em 2009. Com esse valor, o Brasil ocupa a décima posição no ranking de países com maiores fortunas detidas pelos ricaços.

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