Família Bolsonaro usa dinheiro vivo para fazer campanhas eleitorais

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o uso frequente de dinheiro vivo no financiamento eleitoral repete hábito da família de pagar contas pessoais e até a quitação de imóveis em espécie, costume atualmente investigado no chamado caso das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio

(Foto: Reprodução)

Reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta-feira (23) revelou que Bolsonaro e seus filhos fizeram sucessivas doações em dinheiro vivo para irrigar suas campanhas eleitorais de 2008 a 2014. Segundo o jornal, o uso frequente de dinheiro vivo no financiamento eleitoral repete hábito da família de pagar contas pessoais e até a quitação de imóveis em espécie, costume atualmente investigado no chamado caso das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio.

O dinheiro foi usado nas campanhas de 2008 a 2014. “No total, foram injetados R$ 100 mil em espécie nesse período —corrigidos pela inflação, os valores chegam a R$ 163 mil. A prática funcionou por meio de autodoações em dinheiro vivo e de depósitos em espécie feitos por um membro da família em favor de outro. Em duas candidaturas, a utilização de cédulas foi responsável por cerca de 60% da arrecadação da campanha”, revelou.

O jornal destaca que transações em espécie não configuram crime, mas podem ter como objetivo dificultar o rastreamento da origem de valores obtidos ilegalmente. “Hoje em dia, esse tipo de movimentação é comunicada automaticamente ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) quando ultrapassa R$ 10 mil. Os depósitos em dinheiro vivo para o financiamento de campanha foram identificados pela Folha nos processos físicos das prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral”, diz um trecho da reportagem.

Foram analisados recursos recebidos desde 2000 pelas campanhas de Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos, Flávio (Republicanos-RJ), Carlos (Republicanos-RJ) e Eduardo (PSL-SP). Nas cinco campanhas em que a reportagem identificou pagamentos em espécie, o percentual de financiamento desse tipo em relação ao total de recursos arrecadados variou de 1% a 58%.

“Das 13 candidaturas analisadas, em 4 não houve depósitos em dinheiro vivo. Em outras 4, não foi possível confirmar pelas prestações se houve injeções em espécie. O elevado uso de dinheiro vivo nas campanhas destoa da prática de outras candidaturas bem-sucedidas naqueles anos. Reportagens e dados obtidos por órgãos de investigação mostraram que a família Bolsonaro, especialmente na figura do senador Flávio Bolsonaro, já movimentou mais de R$ 3 milhões em dinheiro vivo nos últimos 25 anos.”

A Folha destacou as operações em espécie para a compra de imóveis, a quitação de boletos de planos de saúde e da escola das filhas de Flávio, o pagamento de dívidas com uma corretora e depósitos nas contas da loja da Kopenhagen da qual o senador é dono. Lembrou ainda que o Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que o filho mais velho do presidente tenha utilizado recursos obtidos com o suposto esquema de devolução de salários em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa para permitir essas operações em benefício pessoal.

Mais doações

A reportagem também identificou outras doações recebidas pela família entre 2000 e 2014, no total de R$ 73.584, cujo meio da transação não foi possível confirmar nos processos físicos. É o caso de R$ 15 mil doados por Carlos à sua própria campanha em 2000, e R$ 6.584 injetados por Jair em sua campanha a deputado federal em 2002. Também é a situação da campanha de Jair quatro anos depois, quando ele e Jorge Francisco colocaram R$ 10 mil cada. Ainda em 2006, Jorge Francisco também doou R$ 4.000 a Flávio. O ex-assessor Telmo Broetto repassou R$ 9.000. O site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indica que em 2012 Carlos recebeu R$ 10 mil em espécie do Comitê Financeiro Municipal para Vereador do PP, mas na prestação física não consta o recibo para confirmação. Em 2014, Eduardo repassou R$ 9.000 para sua campanha a deputado federal. Segundo o registro online do tribunal, o valor foi depositado em espécie. Não foi possível confirmar no processo físico, no entanto, como a transação foi realizada.

O site do TSE também aponta, erroneamente, que Carlos depositou R$ 10 mil em dinheiro vivo para a campanha de Flávio em 2010. A prestação física mostra que, na verdade, o valor foi transferido entre as contas correntes dos irmãos.

Com informações do jornal Folha de S.Paulo

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