Paulo Guedes culpa população por inflação dos alimentos e construção

Segundo ministro da Economia do governo Bolsonaro, auxílio emergencial de R$ 600 causou “enxurrada de dinheiro”.

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro - Foto: Marcos Corrêa/PR

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já descobriu o culpado pela alta no preço do arroz: a culpa é da população. Segundo ele, a inflação dos alimentos e da construção tem relação com uma suposta melhora na condição de vida dos mais pobres devido ao auxílio emergencial.

Guedes chamou de “enxurrada de dinheiro” o auxílio, que impediu que famílias caíssem na miséria e enfrentassem a fome durante a pandemia. Para evitar essa “melhora de vida” da população, o governo já editou medida provisória reduzindo o auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300.

“Os mais pobres estão comprando, estão indo no supermercado, estão comprando material de construção. Então, na verdade, isso é um sinal de que eles estão melhorando a condição de vida. O preço do arroz está subindo porque eles estão comprando mais – está todo mundo comprando mais”, disse o ministro, nesta terça-feira (15), em videoconferência da Telecomunicações do Brasil.

Embora tenha dado destaque ao auxílio emergencial, Guedes também citou o dólar e as exportações, que vêm sendo apontados por especialistas como os principais fatores que contribuíram para a alta dos alimentos. Como o dólar está fortemente valorizado frente ao real, para os produtores compensa mais exportar do que vender no mercado interno.

Outra questão é a própria pandemia, que levou países como China e Tailândia a reforçarem estoques de alimentos e, consequentemente, importarem de países produtores de commodities como o Brasil.

Patrícia Costa, supervisora de preços do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), disse em entrevista recente ao Vermelho, que é difícil que o auxílio esteja sustentando alta no consumo a ponto de gerar inflação, uma vez que socorreu famílias em dificuldade extrema, que tiveram perda de renda e usaram o valor para comer e pagar as contas.

“O medo que dá é as pessoas começarem a fazer essa relação, de que o povo está comendo muito por causa do auxílio emergencial. Que bom que algumas pessoas conseguem comer. Mas, se olhar pontualmente para os produtos, vai ver que tem uma questão ali na oferta. Que bom que a gente exporta, a nossa carne é boa, de qualidade. Mas o brasileiro consegue comer uma carne de primeira?”, comentou.

Outra razão para a alimentação estar mais cara é a orientação econômica do governo, que prioriza o agronegócio exportador em detrimento da agricultura familiar, que produz alimentos para o mercado interno. Há um enfraquecimento das políticas para agricultores familiares, bem como da política de estoques reguladores, como explicou o economista Marco Rocha, da Unicamp.

“Foi uma opção feita a partir do governo Temer. Você vem de um desabastecimento [de arroz] provocado por sequência de safras muito ruins, e, a partir de 2016, se optou por não repor os estoques desfalcados pelas safras baixas”, afirma. Segundo ele, a decisão sobre os estoques está ligada ao ajuste fiscal.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), há cinco anos havia 115,12 mil toneladas de arroz nos estoques públicos. Este ano, são 21,6 mil toneladas, 81,2% menos. Além disso, a partir de 2016 começa uma redução substancial nos estoques do grão. Ao longo dos últimos cinco anos, os estoques reguladores só não apresentaram queda em 2018.

Entre 2015 e 2016, o volume dos estoques públicos despencou de 115,12 mil para 29,48 mil toneladas, tombo de 74%. Em 2017, os estoques reguladores voltaram a cair, para 22,3 mil toneladas, redução de 29%. Entre 2017 e 2018 houve crescimento de 11,3%, para 24,89 mil toneladas. Mas em 2019, nova queda, de 13,2%, para 21,59 mil toneladas. Em 2020, o volume dos estoques públicos manteve-se idêntico ao do ano passado.

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