Pesquisador diz que Brasil vive falsa sensação de controle da epidemia

Epidemiologista da Fiocruz diz que Bolsonaro contribui para esse clima quando fala sobre a não obrigatoriedade da vacina ou faz exposição em público promovendo aglomeração

(Foto: Reprodução do YouTube)

O epidemiologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na Amazônia Jesem Orellana avaliou como preocupante a superlotação de praias no país durante o feriado desta segunda-feira (7), o Dia da Independência. “Nós temos uma sensação de que a epidemia está controlada e talvez boa parte dos brasileiros possa imaginar que o coronavírus estava de férias ou de folga por ser um feriado brasileiro”, ironizou o pesquisador numa live do Portal Vermelho nesta terça-feira (8).

Para ele, o presidente Bolsonaro contribui para esse clima quando fala sobre a não obrigatoriedade da vacina ou faz exposição em público no mesmo dia promovendo aglomeração. Além do presidente, desempenham o mesmo papel personalidades do mundo empresarial e esportivo que “diariamente contribuem para essa falsa situação de controle da pandemia no Brasil”.

“E o resultado é isso que nós estamos vendo: alto quantitativo de pessoas infectadas, doentes e sobretudo mortas. Hoje aproximadamente 130 mil mortes confirmadas e pelo menos 50 mil a 60 mil por síndrome respiratória grave que podem estar associadas a Covid-19”, afirmou.

O cientista avaliou que ainda não é o momento de flexibilizar as medidas protetivas, sobretudo devido o perigo da ocorrência de uma segunda onda de mortalidade da Covid-19 como está acontecendo em Manaus (AM). Na capital, uma equipe de pesquisadores apresentou ao MPE (Ministério Público Estadual) um estudo que apontava o início da segunda onda de mortalidade caso não fosse adotado lockdown de no mínimo duas semanas.  

“O primeiro e mais contundente alerta foi dos pesquisadores que projetaram um aumento no número de mortes na segunda onda já a partir de agosto, isso foi completamente ignorado e não poderia ser diferente. Porque se nós paramos para pensar, na realidade, o melhor momento para implantar o lockdown em Manaus deveria ser antes de maio, portanto, em abril”, lembrou.

Segundo ele, desde o dia 1º de junho, quando o governo estadual iniciou o ciclo gradual de abertura da economia, foram registradas 700 mortes por Covid-19. “Você sabe quantas mortes foram tornadas públicas pela FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) nesse mesmo período? Menos de 110%”, criticou.

Ele acusou a FVS-AM de tentar de “forma vil” deturpar as estatísticas da Fiocruz que faz análise com base nos óbitos por ocorrência, mas que a FVS diz que são dados de notificação de mortes por síndrome respiratória grave. “Então, eles ficam fazendo esse joguinho para tentar ludibriar para tentar confundir a opinião pública e, temos que admitir, eles obtiveram bastante sucesso com essa estratégia”, disse.

Com base nessa argumentação, Orellana diz que é falsa a justificativa da FVS-AM para o aumento do número de mortes no estado como aparece na divulgação do consórcio de imprensa. De acordo com a FVS são ajustes em junho, feitos pela prefeitura de Manaus, das notificações por mortes de síndrome respiratórias ocorridas em abril e maio.

“O caldeirão da morte por covid-19 em Manaus aumentou de tal forma que não há mais como você colocar panos quentes para tentar esconder isso. Porque ele está realmente extravasando. Claro que não vai ser um padrão de mortalidade semelhante ao que ocorreu em abril e maio, mas é um padrão que já nos cobrou pelo menos 700 vidas. Eu pergunto: Essas 700 vidas? Quem vai pagar por elas? Quem será responsabilizado por isso? Essas mortes eram todas evitadas em teoria”, argumentou.

Exemplo internacional

O pesquisador da Fiocruz destacou que o caso de Manaus está servindo como exemplo negativo para Inglaterra onde os cientistas usam o caso da abertura das escolas na capital amazonense para defenderem o fechamento dos seus estabelecimentos.  

“A abertura das escolas coincide com o quarto e último ciclo de reabertura da economia do estado do Amazonas e, em particular, de Manaus. O aumento da mortalidade especifica por covid-19 em Manaus acontece justamente de quatro a seis semanas depois do quarto ciclo de abertura e, particularmente, do retorno às aulas da rede privada, lembrando que foram mais de 140 mil pessoas que voltaram em plena atividade entre alunos e serviços essenciais e não essenciais”, afirmou.

O pesquisador faz referência a diversas atividades que foram reabertas com o funcionamento das escolas como lanchonetes, papelarias e outros que funcionam na dinâmica dos estabelecimentos de ensino. “Você tem esse momento bastante triste. Esse capitulo triste da história da saúde: a abertura precipitada e equivocada foi um dos vetores do recrudescimento, se não o principal para aumento da mortalidade por covid-19 em Manaus”, diz.

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