Luciana Santos: Desmascarar Bolsonaro, levar a mensagem da esperança

Para dirigente, PCdoB deve defender, na campanha eleitoral, as bandeiras da vida, da democracia e do emprego

Luciana Santos, presidenta do PCdoB

A 80 dias das eleições municipais de 2020, o desafio é “desmascarar as manobras do bolsonarismo”, afirmou a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, nesta sexta-feira (28), em informe à Comissão Política Nacional (CPN) do Partido. Segundo Luciana, no lugar do projeto autoritário do presidente Jair Bolsonaro e seus candidatos, é preciso “levar a mensagem da esperança, da retomada e da construção de um momento melhor”.

A reunião da CPN ocorreu no momento em que se completam pouco mais de seis meses do primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil. Na opinião de Luciana, embora Bolsonaro tenha atravessado “a fase mais aguda da crise política”, seu governo ainda é marcado por “contradições e dilemas”. Essa característica dá margem ao fortalecimento da “estratégia da frente ampla” e também “do nosso projeto eleitoral”.

Luciana lembrou que, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil já destinou um valor equivalente a 11,8% do PIB (Produto Interno Bruto) para tentar amenizar a crise. Mesmo assim, a economia segue na berlinda. “Bolsonaro não tem um projeto claro e objetivo destinado a retomar a atividade econômica”, diz a dirigente.

“O governo procura construir hoje um arremedo, às pressas, por razões eleitorais – e, mesmo assim, é a dificuldade que vemos nos noticiários”, agrega. “O que existe são intentos de desmonte e venda do nosso patrimônio, flexibilização de direitos e conquistas. O quadro é dramático.”

Com a combinação entre a política ultraliberal do ministro Paulo Guedes (Economia) e os impactos da pandemia – agravados pela negligência de Bolsonaro –, o País acumula recordes negativos: queda de 11% do PIB no segundo trimestre (Banco Central), 715 mil empresas fechadas até o início de junho (IBGE), 13,7% de taxa de desocupação em julho, 12,8 milhões de desempregados, 19 milhões de desalentados e 16,3 milhões de pessoas que assinaram acordos com redução de jornada e de salários (Pnad).

Assim, o auxílio emergencial ganhou centralidade na conjuntura e ajudou a capitalizar a aprovação e Bolsonaro, ainda que o governo fosse contrário ao valor proposto pela oposição – de R$ 600. “Em um país com tamanha desigualdade como o Brasil, nunca existiu um auxílio que atingisse um número tão grande de brasileiros e em um valor tão robusto como é a renda emergencial. Mas também pesou a contenção temporária do presidente, que agora oculta, tanto quanto pode, seu caráter e intenções autoritárias.”

Cerca de 66,2 milhões de brasileiros são atendidos pelo benefício hoje. Em julho, 4,4 milhões de lares sobreviveram apenas com a renda do auxílio emergencial. Estima-se que o auxílio possa reduzir a retração econômica do Brasil em 2020 – de -9% para -6%.

“O problema é que, quando o auxílio emergencial acabar, teremos ainda mais desemprego estrutural, dificuldades para a retomada econômica e depressão do setor de serviços. Uma crise mais grave comprometerá o campo bolsonarista já nas eleições 2020”, afirma Luciana. “Bolsonaro terá de revisar o teto de gastos – que já tende a ser ultrapassado, neste ano, em R$ 15 bilhões. Se ele mantiver o teto como tal, terá de desistir de governar e de tomar iniciativas políticas.”

A base bolsonarista

Vendo que necessitará cada vez mais do Congresso Nacional, Bolsonaro tenta recompor a base. “Não se trata de uma base de apoio homogêneo – seus elementos estão em constante movimento. As forças que se aproximam de Bolsonaro têm interesses objetivos como o uso dos instrumentos da máquina pública”, diz Luciana.

De acordo com a presidenta do PCdoB, o governo “sempre foi um consórcio de interesses contraditórios”. Bolsonaro perdeu o apoio do “Partido da Lava Jato” – que também se enfraqueceu com os recentes reveses do ex-juiz Sergio Moro. O “fiasco” da política econômica liderada por “um expoente do mercado”, Paulo Guedes, também afeta o governo. “São bravatas, análises grandiloquentes, distorcidas da realidade, que não resultaram em nenhum resultado concreto para a economia.”

Como os erros do governo estenderam a vigência da pandemia no País, não há perspectiva de retomada econômica em curto e médio prazo. A crise social também se prolongará. “Se não existir uma ação coordenada, assistiremos a uma evasão escolar comparável à de um país em estado de conflito. O sistema de saúde corre o risco de funcionar à beira do colapso, sob elevado estresse. Podemos ver nas ruas cenas de expansão da violência e desagregação social”, afirma Luciana.

Mas, enquanto as pesquisas indicarem uma melhora na popularidade de Bolsonaro, haverá movimentos de forças políticas atrás de seu apoio nas eleições municipais. “Sem partido e sem compromisso nenhum com o sistema político, Bolsonaro vai flertar com um amplo espectro político – do bolsonarismo raiz a pré-candidatos como Márcio França, em São Paulo, e a família Sarney, no Maranhão”, diz Luciana.

Eleições 2020

Além da influência do bolsonarismo, a disputa nas cidades será marcada pelas novas regras eleitorais – como o fim das coligações proporcionais –, pela dispersão de forças e pelos desdobramentos da pandemia. “Será uma eleição com forte judicialização e intensa luta política”, afirma Lucina.

Segundo ela, a “a bandeira da frente ampla continua hasteada e nos distingue no campo político. É o nosso lugar político nas eleições – o campo da vida, da democracia, do emprego. Não há futuro soberano, democrático e desenvolvido com Bolsonaro à frente do Brasil”.

Sob o contexto da crise do novo coronavírus, o PCdoB, diz Luciana, deve aproveitar os debates eleitorais para defender a vida, o fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde) e “um plano robusto para enfrentar a evasão escolar”. A isso se soma a batalha pela geração de emprego. A dirigente destaca, nesse sentido, o Plano Emergencial de Empregos Celso Furtado, que foi anunciado pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), em 20 de agosto, e que prevê R$ 558 milhões de investimentos em obras e compras públicas.

As principais pré-candidaturas do PCdoB às prefeituras em 2020 também abraçam essa pauta. Em Porto Alegre (RS), Manuela D’Ávila defende um mutirão por emprego, educação e saúde. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) – que concorrerá a prefeito de São Paulo – igualmente priorizará a criação de postos de trabalho. “Há lugar para a luta política, há lugar para as nossas ideias. O campo da vida e da democracia e do emprego tem como vencer”, concluiu Luciana.

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