Como Bolsonaro militarizou os Correios e precipitou a greve

Com ao menos 14 oficiais da reserva em cargos de alto escalão na ECT, no Postalis e na Postal Saúde, entidades reclamam de falta de diálogo e “autoritarismo” da diretoria com os funcionários

Bolsonaro dá posse ao general Floriano Peixoto nos Correios: militarização crescente

Uma gestão autoritária e privatista – que busca vender os Correios sem dialogar com os trabalhadores – é o pano de fundo da greve dos trabalhadores ecetistas. Conforme reportagem publicada nesta quarta-feira (26) pelo jornal Valor Econômico, o presidente Jair Bolsonaro militarizou o setor. Desde o início de seu governo, 14 militares da reserva assumiram cargos de alto escalão.

As indicações beneficiaram nove oficiais do Exército, três da Marinha e dois da Aeronáutica, que foram nomeados na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), no Postalis (fundo de pensão dos empregados) e na Postal Saúde (operadora própria dos planos médicos). À frente da ECT, por exemplo, está o general Floriano Peixoto, ex-ministro da Secretaria-Geral.

Já o general quatro estrelas Paulo Humberto de Oliveira, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, preside o Postalis. “Os conselhos da ECT, do Postalis e da Postal Saúde têm coronéis, brigadeiros e capitães de mar e guerra entre seus titulares”, informa o Valor.

Com uma postura intransigente e autoritária, esses 14 militares evitam o diálogo com sindicatos e associações de trabalhadores – o que ajudou a precipitar a paralisação nacional nos Correios. A decisão de retirar direitos históricos, consagrados nas convenções e nos acordos coletivos da categoria, foi a gota d´’água.

“Com esse novo perfil de gestão, chegou a prática militar de não falar com subalternos”, afirmou ao Valor a presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Maria Inês Capelli. Apesar dos vários pedidos, Maria Inês jamais foi recebida em audiência pelo general Floriano. “Nossa batalha era para acabar com o aparelhamento e reerguer a empresa, mas ficamos frustrados e o clima é de insatisfação. Falta interlocução. Ele tem se negado a falar com qualquer entidade representativa.”

Segundo as entidades, enquanto o governo tenta retirar benefícios dos empregados, a estatal e suas coligadas ganharam diversas assessorias especiais. No dia 13 de março deste ano, o conselho deliberativo da Postal Saúde aprovou “proposta de ampliação do quantitativo de funções de Assessores da Diretoria Executiva para no máximo sete”, com validade até outubro de 2023.

O órgão tem três conselheiros, sendo dois militares – e ambos avalizaram a medida. O outro conselheiro, o funcionário de carreira aposentado Jorge Luiz Gonzaga Ribeiro, deu voto contrário. O salário bruto é de R$ 15.975, mas o custo mensal de cada membro do conselho é de R$ 26,4 mil.

Em acordo judicial homologado em julho, a ECT recebeu para ter 16 cargos de assessores especiais, com salários de R$ 19.454. Oito devem ser empregados da própria casa, mas os outros oito podem ser ocupados por indicações políticas. Na opinião dos sindicatos, essa despesa, desnecessária, contradiz o discurso oficial de enxugamento.

A greve

Desde o dia 18 de agosto, os trabalhadores dos Correios, de todo o País, estão em greve. A paralisação conta com adesão em todos os estados e nas 36 unidades sindicais, que representam os trabalhadores. Considerada essencial durante a pandemia da Covid-19, a categoria denuncia a ausência de negociação por parte da ECT e do governo federal, que retirou ou reduziu, de forma unilateral, 70 dos 79 pontos do acordo coletivo, após obter liminar na justiça.

Houve cortes no tempo de licença-maternidade (de 180 dias para 120 dias); no pagamento de adicional noturno e de horas extras; na indenização por morte; no auxílio para filhos com necessidades especiais; no auxílio-creche, entre outros. Além disso, a empresa não apresentou proposta de reajuste anual para a data-base da categoria.

Para a Federação dos Trabalhadores em Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Fentect), as medidas de redução no custo com funcionários e o enxugamento da empresa visam facilitar o processo de privatização dos Correios – uma das prioridades do governo Bolsonaro.  Além disso, há negligência na proteção da saúde dos funcionários, com falta de Equipamentos de Proteção Individual, guichês de proteção no atendimento. Quase 100 trabalhadores já morreram de Covid-19.

Com informações do Valor Econômico e do Brasil de Fato

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