Crianças estão morrendo de síndrome rara após contágio por Covid-19

Ministério da Saúde registrou 117 casos da síndrome inflamatória, que ataca apenas crianças e adolescentes e pode surgir semanas depois da contaminação pelo coronavírus

Crianças também são atingidas pela Covid-19 e podem desenvolver complicações

O Ministério da Saúde está monitorando o aumento para 117 casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P ou MIS-C) no Brasil, embora haja suspeita de subnotificação. A doença, potencialmente relacionada à Covid-19, levou pelo menos nove crianças e adolescentes à morte no Brasil. O número de óbitos triplicou desde julho, quando eram três registros, todos eles no Rio de Janeiro.

O aumento de casos da síndrome serve de alerta para pais que estão pensando em mandar crianças e adolescentes para a escola, conforme governos começam a liberar o funcionamento das escolas. Estas mortes também não são incluídas entre óbitos por Covid-19, embora sejam suspeitas de estarem associadas como consequência dela.

Há ainda a confusão com a Síndrome de Kawasaki, menos grave que a SIM-P, que não precisa ser notificada pelas instituições, mas médicos afirmam que tem aumentado os casos. Por ser rara, ela se confunde com casos de dengue, por exemplo. Atinge apenas crianças e pode estar relacionada com a imunologia contra Covid-19, também.

A SIM-P, registrada pela primeira vez em abril deste ano na Inglaterra, e posteriormente em outros países, costuma causar alguns de seus primeiros sintomas após o contágio por coronavírus. No entanto, ainda não há confirmação científica da relação entre as duas.

As secretarias estaduais de saúde começam a ficar atentas à notificação destes casos de SIM-P, cuja vigilância se tornará universal – ou seja, todos os municípios terão a responsabilidade de notificar os casos. A notificação incluirá os casos de pacientes com idade de até 21 anos. Como muitos casos não levam à internação, podem ser confundidos com viroses comuns em crianças e também reforçar a subnotificação.

Notificação

De acordo com dados do Ministério da Saúde, atualizados no dia 8 de agosto, outros estados já registram óbitos agora: há uma morte na Bahia, duas no Pará, duas no Ceará e uma em São Paulo. O número de registros da síndrome também aumentou, passando dos 71 de julho a 117 na segunda semana de agosto.

Em Minas Gerais, há seis casos de suspeita da síndrome sendo investigados pelo Ministério, e nenhum óbito suspeito. Atualmente, a capital mineira monitora dois casos de crianças com dois anos de idade com boa evolução, de acordo com a prefeitura do município. 

A maioria dos pacientes no Brasil têm até 4 anos de idade — foram 48 crianças dessa faixa etária, e seis delas morreram. A seguir, vêm as crianças que têm entre 5 e 9 anos — foram 36 atingidas, com um óbito confirmado. Outras 28 pessoas, dos 10 aos 14 anos, desenvolveram a síndrome e duas meninas morreram. Já entre adolescentes dos 15 aos 19 anos não houve registro de óbitos e há notificação da síndrome em apenas cinco meninos. A maior parte dos pacientes é do gênero masculino: são 69. 

Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica

A relação entre a SIM-P e a Covid-19 ainda não é totalmente clara para cientistas. A síndrome, considerada rara, causa uma inflamação generalizada no corpo e pode levar à morte. Uma das hipóteses científicas para explicá-la é que, após a resposta do corpo à Covid-19, o sistema imunológico ataque o próprio organismo. 

A síndrome atinge apenas crianças e adolescentes e surge até quatro semanas depois da contaminação pelo coronavírus, ainda que a pessoa não tenha manifestado sintomas da Covid-19. O quadro é similar ao da também rara Síndrome de Kawasaki — o Ministério da Saúde não tem um registro nacional do número de casos da síndrome, pois ela não é uma das doenças que Estados são obrigados a notificar. 

No caso da Síndrome de Kawasaki, a criança tem febre com duração de mais de três dias e sintomas como olho vermelho, mão inchada, cansaço com dificuldade para fazer atividades habituais, sintomas gastrointestinais, como diarreia, vômito e náusea. Os sintomas podem se confundir outras doenças, como dengue, por isso o diagnóstico demanda exames laboratoriais para indicar se há inflamação no corpo. Também é importante saber se a criança testou positivo para Covid-19 ou teve contato com casos confirmados da doença nos últimos 30 dias. Como a Síndrome de Kawasaki, a SIM-P tem tratamento, geralmente à base de corticoides e imunoglobulina (anticorpos). 

Confira os Estados onde houve registro da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica:

  • Bahia: 11 casos e um óbito
  • Rio Grande do Norte: quatro casos
  • Distrito Federal: quatro casos
  • Pernambuco: cinco casos
  • Piauí: três casos
  • Rio de Janeiro: 22 casos e três óbitos
  • Pará: 13 casos e dois óbitos
  • Ceará: 41 casos e dois óbitos
  • São Paulo: 14 casos e um óbito.

Pelo mundo

No fim de abril, a Sociedade de Cuidado Intensivo Pediátrico do Reino Unido emitiu um alerta para o aumento no número de crianças com esse quadro. Parte delas havia testado positivo para a Covid-19. Uma semana depois, no dia 4 de maio, o departamento de saúde da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, registrou a mesma condição em 15 crianças internadas nos hospitais da cidade. Até o dia 12 de maio, estima-se que 100 crianças norte-americanas tenham sido identificadas com essa mesma inflamação, possivelmente associada ao novo coronavírus.

Na China, o primeiro artigo científico a descrever os sintomas não-respiratórios da Covid-19 em crianças verificou que, em cinco pacientes, de 2 meses a 5 anos de idade, com sinais inflamatórios, todos haviam sido expostos ao novo coronavírus. E um estudo maior, realizado na Itália, e divulgado pela revista científica Lancet no último dia 13 de maio, percebeu um aumento de 30 vezes na incidência dos sintomas semelhantes à doença de Kawasaki no último mês.

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