Derrotar Bolsonaro e batalhar pela vitória eleitoral do PCdoB

Neste sábado (15), a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, fez uma análise de conjuntura durante o Encontro Nacional de Comunicação do Partido, em que constatou o papel decisivo da comunicação, das redes sociais e da própria televisão nesta “atípica, singular e única” eleição de 2020, que encontra-se em fase final de pré-campanha.

Luciana Santos é presidenta nacional do PCdoB l Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara)

O encontro, conforme lembrou a dirigente, reuniu especialistas para analisar estratégias eleitorais e ideias para a plataforma política das cidades, com o objetivo de oferecer instrumentos para a disputa eleitoral de 2020 e contribuir com o plano de estruturação partidário.

Leia abaixo partes da síntese política apresentada pela dirigente:

Um quadro em transformação

O quadro político brasileiro é complexo, marcado por uma intensa luta política em defesa da vida e do destino do Brasil como Nação. O ambiente político, econômico e social continua sendo marcado pela pandemia e seus múltiplos efeitos. Já superamos as 100 mil mortes, são em média 1000 óbitos por dia. E apesar de tudo, a pandemia se encontra longe se ser solucionada. Há 167 vacinas em desenvolvimento para o coronavírus, sendo que seis delas em fase final de testes. Se bem esperançosas, demorarão algum tempo para atingirem a toda a população.

Travamos uma luta cotidiana contra o obscurantismo, o negacionismo e o cinismo. É preciso cuidar de salvar vidas, e ao mesmo tempo fazer a luta política. A disputa com as forças de extrema direita que chegaram ao centro do poder no Brasil é de folego, persistência e sagacidade. É uma luta pela vida que travamos no seguinte cenário:

Situação econômica é delicada

A situação econômica do país continua grave. A prévia do PIB feita pelo Banco Central nesta semana, indica um tombo de 11% no 2º trimestre e o início de recessão. Apesar disto, há uma lenta retomada da atividade econômica em alguns setores, que se deve ao fato de que os meses que marcam o segundo trimestre foram os períodos de maior distanciamento social e medidas sanitárias mais duras. Mesmo assim as projeções para a queda do PIB em 2020 oscilam entre 6% a 9%.

Segundo a PNAD, a taxa de desocupação chegou a 13,7% na quarta semana de julho, atingindo 12,9 milhões de pessoas. Na primeira semana de maio, quando a pesquisa teve início, 9,8 milhões estavam sem trabalho. O grupo de pessoas que necessita trabalhar, mas não procurou emprego, devido à pandemia ou por falta de trabalho na localidade em que vive, ficou em 18,5 milhões. São 27,2 milhões de pessoas na informalidade.

Há muita indefinição. A principal incerteza neste momento é sobre o fim dos efeitos na atividade do fim do auxílio emergencial pago pelo governo a desempregados, informais e beneficiários do Bolsa Família. Saindo este estímulo, o que teremos é um desemprego estrutural, dificuldades para a retomada econômica, e o setor de serviços deprimido. Não há projeto de poder que resista a um cenário destes. É dentro deste quadro que Bolsonaro analisa as opções a serem adotadas.

Mutações do governo Bolsonaro

Tudo o que Bolsonaro faz tem um único objetivo, 2022. O projeto de poder é o que baliza Bolsonaro.

Aparenta que chegou à conclusão de que é necessário fazer algumas flexões táticas para dar fôlego e perspectiva a seu projeto político, de natureza autoritária. Não há em essência, mudança na natureza e no conteúdo de Bolsonaro, há sim, o interesse em continuar sendo um polo de atração de poder, em dar perspectiva de poder. Mais à frente, em situação normalizada, seus intentos contra as instituições, seu caráter autoritário, brotarão novamente.

Para conseguir chegar a 2022 com condições de disputa, terá que apresentar algo. Percebeu que é importante ter a seu dispor, os elementos de gastos em despesas públicas para realizar o seu governo.

Qualquer iniciativa que seja tomada, por mínima que seja, seja ela renda emergencial, seja ela adoção de um programa como o Plano Brasil, irá requerer uma revisão do teto de gastos. Sem nenhuma nova iniciativa, o teto já tende a ser ultrapassado em 15 bilhões. Se mantiver o teto como tal, terá que desistir de governar, terá que desistir de tomar iniciativas políticas.

O custo atual da renda emergencial é de aproximadamente 50 bilhões ao mês. O que pedem para o programa de obras Pró-Brasil, para todo a gestão são 39 bilhões, algo insignificante, e, mesmo assim, tem tido resistência de Guedes e sua turma.

O dilema anunciado

O governo Bolsonaro sempre foi um consórcio de interesses contraditórios. Nestes quase dois anos, estas contradições se expressaram de inúmeras maneiras. Há meses, um impasse está marcado, e seu desfecho aparenta estar se aproximando. A essência da política econômica irá alterar. Não a do Bolsonaro. Guedes é descartável, como foi descartável Moro.

O fato é que, tanto o diagnóstico, quanto a abordagem e as propostas de Guedes para a economia são um fracasso, que já foi demonstrado no ano passado com o pífio crescimento que tivemos, e com suas bravatas inusitadas no decorrer do enfrentamento à pandemia.

Paulo Guedes, mais do que um expoente da elite financeira internacional é um jogador de poker, um homem que fez fortuna na mesa de operações da jogatina financeira. E sua atuação ao longo do governo é marcada por essas bravatas, que mais parecem de um jogador de truco, o popular jogo, onde blefar é a principal arma.

Bolsonaro, dentro de sua imprevisibilidade, é previsível. Ele está fazendo com Guedes o que fez com Moro; está testando a maré das águas, está avaliando como o mercado reage a uma possível saída de Guedes do governo, e como poderia recompor com os donos do dinheiro, a partir de uma repactuação. Pode ser agora ou depois, mas Guedes tende a sair, ou ficar com sua agenda desconfigurada.

Bolsonaro nas pesquisas

O enfrentamento ao governo da extrema direita é algo que se deve ver como uma batalha de folego. Não nos intimidemos com fotografias momentâneas. Os números da última pesquisa Datafolha expressam o momento ápice da adoção dos benefícios econômicos da renda emergencial, e do armistício político adotado por Bolsonaro a partir do momento que Fabrício Queiroz foi preso.

Bolsonaro está com a melhor avaliação desde que começou o seu mandato. Segundo o Datafolha, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% que o achavam na pesquisa anterior. Também caiu a sua rejeição: de 44% para 34% dos que o consideravam ruim e péssimo no período. Consideram o governo regular, por sua vez, 27%, ante 23% em junho.

Em certa medida, não poderia ser distinto. Em um país com tamanha desigualdade como o Brasil, nunca existiu um auxílio emergencial que atingisse um número tão grande de brasileiros em um valor tão robusto como é a Renda Emergencial. Porém, também pesa a contenção temporária do presidente, que agora oculta, tanto quanto pode, seu caráter e intenções autoritárias. Ultimamente, em vez de participar de atos que pedem o fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro deu para viajar país afora inaugurando obras. Busca também se desresponsabilizar pelas profundas mazelas da Covid-19

A essência da nossa orientação política não sofre alterações. O projeto de Bolsonaro não serve para o Brasil e para a nossa gente. Devemos construir um projeto alternativo, claro, factível e que responda às necessidades das pessoas.

Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB

Explorar as contradições do bolsonarismo

É necessário explorar o consórcio de contradições que é o governo Bolsonaro e sua novíssima base de apoio. Não se trata de uma base de apoio homogênea; e seus elementos estão em constante movimento.

As forças que se aproximam de Bolsonaro no Parlamento, possuem interesses objetivos. Estão com Bolsonaro, enquanto este expressar perspectiva de poder;, enquanto puderem fazer uso dos instrumentos da máquina pública. É certo que, hoje, com a indicação de um novo líder do governo, o bolsonarismo está mais organizado no Parlamento.

Contudo, ampliam-se as contradições com o seu núcleo duro, os setores chamados olavistas e próximos do clã. Estes, sempre colocaram como inimigos, tanto as instituições, como as forças políticas tradicionais. Com a aproximação com o mundo da política, somado ao possível descarte de Guedes, Bolsonaro vai se desfazendo de suas bandeiras eleitorais. Conseguirá manter viva e mobilizada a força jacobina que o chama de Mito?  Conseguirá viabilizar o Renda Brasil, e manter mobilizada essa nova base social?

Há, é certo, uma parcela para quem , independentemente do que ele faça, o irá apoiar. Este campo é uma minoria, e não mudou. Existem grupos de pessoas mais pobres e outras vinculadas às elites do país. Estes podem se mover. Ficaram com Bolsonaro enquanto se sentirem beneficiados por suas ações políticas.

É bom estarmos atentos, pois o crescimento de Bolsonaro nas últimas pesquisas terá impactos na disputa eleitoral. Muitos buscarão disputar o apoio do presidente, que hoje sem partido, sem compromisso algum com o sistema político, possui plena liberdade para flertar com um amplo espectro político. Isto vai do bolsonarismo raiz, a expoentes como Marcio França, do PSB de São Paulo.

Qual é o nosso papel diante deste quadro?

Nosso desafio é desmascarar o governo Bolsonaro. Bolsonaro escolheu não combater a doença, mas sim, preferiu confrontar-se com os fatores políticos e sociais que poderiam atrapalhar o seu futuro eleitoral. A disputa pela verdade sobre o combate à pandemia não se esgotará na análise das curvas de popularidade do presidente ou no impacto da covid-19 nas eleições municipais.

O nosso campo nesta eleição é o da vida, da democracia, dos que estão inconformados com o atual estado das coisas.

Até novembro, há um bom percurso a ser seguido. Devemos fazer o bom combate, apresentar nossas propostas. O Brasil precisa de um projeto alternativo ao que está ai. Nosso país não tem futuro com Bolsonaro a frente.

As cidades, são em essência, as pessoas. E são elas as mais atingidas pelos impactos da pandemia. Propor medidas excepcionais, governar em estado de urgência social e econômica. Nosso embate político deve ser marcado pela defesa do emprego e da renda, do fortalecimento do SUS, e da política de assistência. Por cobrarmos as responsabilidades do governo Federal com a pandemia e com as cidades. 

O PCdoB possui um projeto eleitoral modesto, mas significativo. Nossas candidaturas em Porto Alegre, São Luís, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campina Grande, Olinda, Fortaleza, entre outras, são instrumentos do fortalecimento e da estruturação partidária. Lideramos em todos os cenários com nossa Manuela. As campanhas são o momento nobre do debate de ideias, momento para apresentarmos nossos caminhos e propostas.

Vamos à disputa eleitoral. A comunicação, nestes tempos, é o principal instrumento da luta política. Dediquemos tempo e recursos para extrairmos o melhor que podemos. São tempos de lutas, batalhas memoráveis teremos nos próximos meses. Tenho a certeza que a fibra dos comunistas irá fazer a diferença na atual disputa municipal.

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