De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A análise internacional da cientista política Ana Prestes tem como destaque principal o ambiente tenso em que se encontra o Líbano após a explosão no porto de Beirute, ocorrida há uma semana. Entre os outros temas abordados estão, as novas medidas de Donald Trump contra a China, a eleição em Belarus, os 75 anos da explosão da bomba em Nakasaki e a crescente tensão na Bolívia.

Foto: REUTERS/Hannah McKay

O primeiro ministro libanês, Hassan Diab, anunciou no sábado (8) que vai propor eleições parlamentares ao país. Em discurso pela televisão, o governante disse que “apenas eleições antecipadas podem permitir a saída da crise estrutural” e se colocou à disposição de liderar o processo eleitoral. O anúncio ocorreu em meio a muitas manifestações populares, especialmente nas ruas de Beirute. A população está enraivecida tanto com a explosão do porto, que pode ter ocorrido por negligência do governo, quanto com a condução da crise pós-explosão no país. Os protestos populares foram duramente reprimidos com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Houve tentativa de invasão do prédio do parlamento e outros prédios públicos pela população. Alguns edifícios foram efetivamente invadidos, como o do ministério das Relações Exteriores, onde os manifestantes queimaram a foto do presidente Michel Aoun, também o ministério da Energia e o ministério da Economia. Mais de 60 pessoas encontram-se desaparecidas após a explosão e a cada dia diminui a esperança de encontrar alguém com vida. A população também está fortemente envolvida no recolhimento dos escombros, na coleta dos vidros das ruas e na ajuda aos desabrigados e feridos que não conseguiram vagas em hospitais. Desde setembro do ano passado, na Praça dos Mártires, em Beirute, reúnem-se grandes manifestações contra o governo de facções religiosas que dirige o Líbano. Somente a pandemia do novo coronavírus foi capaz de aplacar um pouco a fúria das ruas. Enquanto a situação política se deteriora, parlamentares e ministros estão renunciando a seus cargos. A primeira a renunciar foi a ministra das comunicações, Manal Abdel Samad, seguida do ministro do meio ambiente, Damianos Kattar, da ministra da justiça, Marie-Claude Najm e de nove parlamentares. Se sete dos 20 ministros renunciarem, o governo é obrigado a renunciar. Uma conferência de doadores internacionais ocorreu ontem (9) e resultou na promessa de 253 milhões de euros para o país. Os custos da tragédia são estimados em 5 bilhões de dólares. A conferência foi organizada e conduzida pelo presidente francês Macron, cuja ofensiva para ajudar o país tem sido vista por muitos como uma postura colonial e imperialista de tutela. Macron foi o primeiro líder estrangeiro a pisar no local da explosão um dia depois da tragédia.

O ex-presidente Michel Temer, filho de libaneses, foi escolhido por Jair Bolsonaro para levar a ajuda brasileira ao Líbano. Um avião KC-390 vai sair de Guarulhos na próxima quarta-feira (12) com alimentos, suprimentos médicos, remédios e equipe de ajuda técnica médica e para investigação da explosão. Não está claro se Temer, caso autorizado pela justiça brasileira, viajará nesse voo ou em outro. O Brasil possui a maior comunidade libanesa fora do Líbano. São 10 milhões de brasileiros com ascendência libanesa.

Matéria da BBC da sexta (7) revelou como as 2750 toneladas de nitrato de amônio, apontado como o explosivo que detonou o porto de Beirute foi parar lá há seis anos. Tudo ocorreu, segundo a reportagem, quando o navio cargueiro MV Rhosus, capitaneado pelo russo Boris Prokoshev e com bandeira da Moldávia, fez uma parada de emergência no porto de Beirute em 2013 devido a problemas técnicos. O navio saiu da Geórgia e carregava justamente 2750 toneladas de nitrato de amônio com destino a Moçambique. Inspecionado pelas autoridades libanesas, o navio foi impedido de retomar sua rota por não pagar taxas portuárias. Segundo o capitão Prokoshev, em entrevista a uma rádio esta semana, o dono do navio era o russo Igor Grechushkin, que na época ignorou os pedidos da tripulação e dos advogados envolvidos para pagar as taxas exigidas pelas autoridades portuárias libanesas. Os compradores da carga também não se prontificaram a pagar as taxas. Na época, o capitão e mais três quatro tripulantes chegaram a ser presos. O barco foi dado por “abandonado por seus proprietários”. Em estado precário, afundou pouco tempo depois. Porque a carga permaneceu no porto de Beirute é a pergunta que muitos se fazem agora. 

A chefe do poder executivo de Hong Kong, Carrie Lam e outras 10 autoridades tiveram seus bens americanos congelados pelo Departamento do Tesouro dos EUA. Também serão penalizadas qualquer transação financeira dos EUA com os 11 funcionários, todos com altos cargos na hierarquia política de Hong Kong. Segundo o secretário de Estado Mike Pompeo “as medidas enviam uma mensagem clara de que as ações das autoridades de Hong Kong são inaceitáveis”. Um dia antes dessas medidas, Trump havia imposto restrições contra os aplicativos chineses TikTok e WeChat e deu aos americanos 45 dias para finalizar qualquer negócio com essas plataformas. O TikTok é hoje um dos aplicativos mais acessados nas redes sociais, especialmente por jovens, e conta com 2 bilhões de usuários em todo o mundo. Em resposta, a China determinou sanções a 11 americanos, incluindo os senadores Marco Rubio e Ted Cruz. Segundo o porta-voz do ministério das relações exteriores da China, Zhao Lijian, “a China decidiu impor sanções a certas pessoas que se comportam mal em determinadas questões vinculadas a Hong Kong”.

Ontem (9) foi dia de eleição presidencial em Belarus. Foi reeleito com 80% dos votos Alexander Lukashenko que governa o país há 26 anos. A oposição a Lukashenko foi representada na eleição pela aliança de três mulheres que substituíram candidatos que foram presos ou exilados durante o processo. As três se reuniram em torno da candidatura de Svetlana Tikhanovskaya. O presidente Lukashenko foi surpreendido pela popularidade dos comícios realizados pelas três na reta final da campanha e as chamou de “incêndio no coração de Minsk”. Houve grandes protestos na capital Minsk e cerca de 30 cidades do país após a divulgação do resultado, com forte repressão policial. Uma pessoa morreu, dezenas ficaram feridas e cerca de 3000 foram presas.

Neste domingo, 9 de agosto, foi dia de relembrar da bomba atômica que atingiu Nagasaki no Japão há exatos 75 anos. A bomba de Nagasaki veio três dias após a explosão da bomba em Hiroshima. As atividades deste domingo foram restritas pelas condições impostas pelo coronavírus. Ocorreram na Igreja Urakami, perto do local do bombardeio e no Parque da Paz da cidade. Às 11h02, horário exato da explosão, os sinos tocaram no Memorial da Paz. Segundo relatos de sobreviventes, crianças e adolescentes na época, o que as pessoas atingidas mais pediam era água, por isso a maioria das homenagens envolve o oferecimento de recipientes com água nos memoriais e as lanternas flutuantes nos rios nas noites que antecedem as fatídicas datas de 6 e 9 de agosto.

Continua bastante tensa a situação na Bolívia, com a terceira tentativa do governo de fato de Añez de adiar as eleições, originalmente marcadas para 3 de maio. O final de semana foi de protestos e bloqueios de vias pela oposição. Añez propôs um diálogo mediado pela ONU e que foi iniciado no sábado (8), mas não frutificou, ficou no impasse. Hoje as eleições estão previstas pelo Tribunal Eleitoral para 18 de outubro, um ano após as eleições golpeadas de outubro passado que reelegeu Evo Morales. O MAS, partido de Evo, e forças sociais, como a COB (Central de Trabalhadores) exigem eleições antes de 18 de outubro. O candidato do MAS, Luis Arce, lidera todas as pesquisas desde o início dos levantamentos eleitorais. O presidente do TSE, Salvador Romero, diz que a data de 18 de outubro para as eleições é “definitiva, imóvel e inadiável”.

Matéria do Estadão de hoje mostra como a Colômbia vem assumindo o lugar do Brasil em termos de liderança regional no quesito meio ambiente. Após encontro promovido por Duque, em Letícia, com líderes dos países vizinhos para tratar das queimadas de 2019 no Brasil, Bolívia e Paraguai, ainda sediou o Dia Mundial do Meio Ambiente em junho e está envolvida na próxima COP 15 de Biodiversidade. Recebeu recentemente 350 milhões de dólares de países como Alemanha, Noruega e Reino Unido. Sendo os dois primeiros os antigos financiadores do Fundo Amazônia, com repasses suspendidos após a chegada de Bolsonaro.

O final de semana também foi de protestos em Israel. Milhares se reuniram em frente à residência de Netanyahu. A taxa de aprovação popular do premiê está abaixo de 30% segundo fontes da imprensa, como a Reuters.

Dois americanos envolvidos nos ataques costeiros à Venezuela em maio foram condenados a 20 anos de prisão no país.

Um protesto para denunciar a vulnerabilidade das comunidades indígenas ao coronavírus no Brasil foi organizado em Londres em frente a National Gallery na Trafalgar Square. Um dos objetivos do ato foi articular recursos para a APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

Foram encontradas as caixas pretas do Boeing 737 que fazia o transporte de 191 pessoas entre Dubai e Calicute, na Índia, e caiu na sexta (7) deixando 18 mortos e 120 feridos.

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