A Covid-19 e o “novo normal” dos trabalhadores metalúrgicos e mineiros

É preciso que somemos esforços, em escala mundial, para obrigar governos e empresas a agirem com responsabilidade e respeito àqueles que seguem arriscando suas vidas

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, muito se fala sobre como será o “novo normal” dos mais variados setores: trabalho, estudos, lazer, vida familiar, cuidados com a saúde, etc. Para algumas categorias profissionais, já é dado como certo que o chamado “home office” veio para ficar. Mas como ficarão homens e mulheres que ganham suas vidas como metalúrgicos e mineiros?

Os números e a abrangência da pandemia são alarmantes. Países ricos, pobres e medianos ainda estão sendo afetados. Apesar de se vislumbrar para médio prazo a descoberta da vacina contra a Covid-19, até que esse momento chegue ainda veremos milhares de pessoas morrendo infectadas.

A indústria manufatureira e a mineração são setores que não podem ser interrompidos por completo, por sua importância para todo o planeta. Há toda uma cadeia de produção envolvida, mas fatores como o desemprego, a crise econômica e as mudanças no consumo pelo isolamento social afetaram diretamente a demanda por determinados produtos.

Pelo lado dos empresários, muitos deles veem a crise como uma oportunidade para substituir a mão de obra de homens e mulheres por máquinas cada vez mais complexas. Em muitos setores, a automação amplia a produtividade e diminui o risco de contágio de doenças. Pela lógica capitalista, obtém-se um lucro ainda maior.

O Fórum Intergovernamental de Mineração (IGF, na sigla em inglês) estima que, até o final de 2020, cerca de 305 milhões de trabalhadores e trabalhadoras poderão perder seus empregos, por conta dos efeitos econômicos da pandemia. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em estudo recentemente divulgado, chega a estimar uma perda de 340 milhões de vagas. O impacto social desse cenário, medido em dados como desemprego, aumento na imigração, violência, fome e ainda mais mortes é incerto.

Países como Canadá, Austrália, Brasil, África do Sul, Peru e Colômbia declararam a mineração como um setor essencial para a economia. Isso permitiu que o trabalho fosse mantido, desde que sob condições mínimas de segurança para os trabalhadores. Na prática, sabe-se que esse tipo decisão é fruto da pressão do empresariado, com pouco espaço para discussão junto aos trabalhadores e seus sindicatos.

No Brasil, estima-se que cerca de 75% dos trabalhadores da indústria automotiva tiveram seus contratos suspensos ou viram suas jornadas serem reduzidas. Devido à pandemia e a pedido das empresas, o governo flexibilizou a legislação trabalhista, sob o pretexto de evitar demissões. Com raríssimas exceções, os sindicatos ficaram alheios a essa discussão.

Em geral, o “novo normal” tem levado em conta a saúde financeira das empresas, mas aspectos como o desemprego e a saúde dos trabalhadores têm ficado à parte. Algumas perguntas permanecem sem resposta: (1) como manter a segurança mínima dos trabalhadores enquanto não houver vacina? (2) como garantir que os desempregados e os trabalhadores informais sejam minimamente assistidos pelos governos nacionais? (3) o que é necessário fazer para que os setores que seguem com lucros vultuosos em meio à crise (como os bancos e a indústria farmacêutica) arquem com o custo social da pandemia?

Sem organização e pressão social daqueles que são a real força de trabalho, os retrocessos que teremos pela frente serão ainda mais duros do que os que já estamos presenciando. É preciso que somemos esforços, em escala mundial, para obrigar governos e empresas a agirem com responsabilidade e respeito àqueles que seguem arriscando suas vidas.

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