EUA: 20 de julho, dia da greve por vidas negras

Os organizadores da Greve por Vidas Negras dizem que desejam interromper um ciclo multigeracional de pobreza perpetuado por políticas antissindicais e outras que dificultam a negociação coletiva por melhores salários e condições de trabalho.

Convocação para Greve por Vidas Negras nos EUA - Reprodução

Uma aliança nacional de sindicatos e organizações pela justiça racial e social realizará uma paralisação do trabalho no próximo dia 20 de julho, como parte de um movimento contínuo contra o racismo sistêmico e a brutalidade policial nos EUA.

Chamada de Greve por vidas negras, dezenas de milhares de trabalhadores de fast-food, motoristas de Uber, cuidadores de idosos e profissionais de aeroportos em mais de 25 cidades nos EUA devem parar o trabalho nesta data. Quem não puder parar pelo dia inteiro, poderá parar por oito minutos – o tempo gasto pelo policial branco de Minneapolis para matar George Floyd – em memória de homens e mulheres negros que morreram recentemente nas mãos da polícia.

A greve nacional também incluirá, dizem os organizadores, marchas lideradas por trabalhadores. Também ocorrerão ações abrangentes em empresas e do governo, contra o racismo sistêmico em uma economia que impede a mobilidade econômica e as oportunidades de carreira para trabalhadores negros e latino-americanos, que representam uma grande parcela entre aqueles não têm um salário digno.

Os organizadores também enfatizam a necessidade de garantia de subsídio para tratamento de saúde, cobertura de assistência médica acessível e melhores medidas de segurança para trabalhadores com baixos salários que nunca tiveram a opção de trabalhar em casa durante a pandemia de coronavírus.

“Temos que abordar essas lutas de maneira nova, mais profunda do que nunca”, disse Mary Kay Henry, presidente do Sindicato Internacional dos Empregados em Serviços, que representa mais de dois milhões de trabalhadores nos EUA e no Canadá.

“Nossos filiados estão em uma jornada para entender como se pode ter justiça econômica sem justiça racial. Esta greve pela vida dos negros é uma maneira de levar o entendimento de nossos filiados às ruas”, disse Henry.

Eles pedem que as autoridades eleitas em todos os níveis usem o poder executivo e legislativo para aprovar leis que garantam que pessoas de todas as raças possam prosperar. Querem também aumento nos salários e permissão para os trabalhadores se sindicalizarem, para negociar melhores cuidados de saúde, licenças médicas e assistência infantil.

Entre os grupos pela justiça social e racial estão March On, o Centro para Democracia Popular, a Aliança Nacional dos Trabalhadores Domésticos e o Movimento pela Vida Negra, uma coalizão de mais de 150 organizações que compõem o movimento Black Lives Matter.

Ash-Lee Woodard Henderson, organizador da greve do Movimento pelas Vidas Negras, afirma que as empresas gigantes que apoiaram o movimento BLM (Black Lives Matter) em meio a protestos nacionais contra a brutalidade policial também se beneficiaram da injustiça e desigualdade raciais.

Essas empresas “alegam apoiar vidas negras, mas exploram o trabalhador negro – distribuindo centavos como ‘salário digno’ e fingindo ficar chocados quando o Covid-19 atinge os negros que são seus trabalhadores essenciais”, disse Woodard Henderson, diretor co-executivo do Highlander Research and Education Center do Tennessee.

Trece Andrews, trabalhadora negra em um lar de idosos administrado pela Ciena Healthcare, em Detroit, disse que se sente desanimada depois de anos sendo preterida em promoções. Ela tem 49 anos de idade e acredita que a discriminação racial teve um papel na estagnação de sua carreira.

“Tenho 20 anos de carreira e ganho apenas US$ 15,81 por hora”, disse. Mãe solteira de uma filha de 13 anos e cuidadora de seu pai, sobrevivente de um câncer, Andrews disse que equipamentos de proteção individual inadequados a deixam com medo de levar o coronavírus para casa.

“Temos o coronavírus funcionando e, além disso, temos o racismo”, disse Andrews. “Eles estão ligados, como algum tipo de segregação, como se não tivéssemos nossos ancestrais e Martin Luther King lutando contra esse tipo de coisa. Ainda está vivo aqui, e é hora de alguém ser responsabilizado. É hora de agir.”

Os organizadores da Greve por Vidas Negras dizem que desejam interromper um ciclo multigeracional de pobreza perpetuado por políticas antissindicais e outras que dificultam a negociação coletiva por melhores salários e condições de trabalho.

A pobreza sistêmica afeta 140 milhões de pessoas nos EUA, com 62 milhões trabalhando por menos de um salário, de acordo com a Poor People’s Campaign, uma organização parceira da greve. Estima-se que 54% dos trabalhadores negros e 63% dos trabalhadores hispânicos se enquadram nessa categoria, em comparação com 37% dos trabalhadores brancos e 40% dos trabalhadores asiático-americanos.

“Se, de fato, vamos enfrentar a violência policial que mata, então certamente temos que enfrentar a violência econômica que também mata”, disse o Reverendo William Barber II, co-presidente da Campanha dos Pobres.

Os organizadores disseram que alguns trabalhadores em greve farão mais do que parar em 20 de julho. No Missouri, os participantes se reunirão em um McDonald’s em Ferguson, um marco importante no movimento de protesto desencadeado pela morte de Michael Brown, um adolescente negro morto pela polícia em 2014. Marcharão para um memorial no local onde Brown foi baleado e morto.

Em Minneapolis, onde Floyd foi morto em 25 de maio, os trabalhadores das casas de repouso participarão de uma caravana que incluirá uma parada no aeroporto. Eles receberão atendentes de cadeiras de rodas e faxineiros que exigem um salário mínimo de US$ 15 por hora.

Angely Rodriguez Lambert, 26 anos, trabalhadora do McDonald’s em Oakland, Califórnia, e líder na luta por US$ 15 e por um sindicato, disse que ela e vários colegas deram positivo para Covid-19 porque os funcionários não receberam, inicialmente, equipamento de proteção. Como imigrante de Honduras, Lambert disse que também entende a luta urgente da comunidade negra contra a brutalidade policial.

“Nossa mensagem é que somos todos humanos e devemos ser tratados como seres humanos. Exigimos justiça para vidas negras e latinas”, disse. “Estamos tomando medidas porque as palavras não trazem os resultados que precisamos. Agora é o momento de ver mudanças”, acrescentou.

Fonte: Peoples´s World

Tradução: José Carlos Ruy

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