De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Um novo tratado entre Estados Unidos, México e Canadá – USMCA – em substituição ao Nafta é o destaque da análise de hoje da cientista política Ana Prestes, que destaca também a reunião de cúpula do Mercosul. A pandemia do coronavírus é analisada também. A Covid-19 continua se expandido muito nos EUA, enquanto o Vietnã é exemplo de sucesso no combate à doença e cresce a possibilidade concreta de uma vacina. Tensões entre Alemanhã e EUA, deste com o Irã e o recuo de Israel na ocupação da Palestina também estão entre as questões analisadas.

Na América do Norte, o NAFTA, acordado em 1994, foi enterrado de vez e entrou em vigor ontem (1) o USMCA ou T-MEC. Um tratado econômico de livre comércio entre México, EUA e Canadá. A realização de um novo tratado no subcontinente foi uma das promessas de campanha de Trump. Antes da pandemia, o fluxo comercial entre os três países representava quase 30% do PIB mundial, segundo veiculado na imprensa internacional, e teria alcançado 1,2 trilhão em 2019. Muitas das medidas de livre comércio que já constavam no Nafta continuam no T-MEC, mas houve mudanças importantes nas regras para a indústria automotiva, principalmente na garantia da proveniência de peças e insumos dos EUA. Mudanças também no sistema de negociação de controvérsias e modernização do sistema de certificação e despacho de mercadorias. Com o acordo, os EUA protegem seus trabalhadores e também sua indústria de aço e alumínio. No México, a Secretaria de Economia se pronunciou dizendo que o acordo é “um elemento central da política comercial do México”. O presidente López Obrador, apesar de criticado por ter aceitado vários aspectos de interesse exclusivo dos EUA no plano, disse que “é um acontecimento importante, sobretudo no terreno econômico e comercial” e agradeceu muito ao legislativo mexicano que é composto em ampla maioria por seu partido MORENA. Uma reunião sobre o tratado está prevista para o próximo dia 8 de julho nos EUA. López Obrador já confirmou que vai, Justin Trudeau ainda não.

Acontece hoje (2) por videoconferência a 56ª. edição da Cúpula de Chefes de Estado do MERCOSUL e Estados Associados. A reunião foi precedida, ontem, pela reunião ordinária do Conselho do Mercado Comum, no nível de ministros e com poder decisório. Termina a presidência do Paraguai e inicia a presidência do Uruguai. A reunião ocorre em meio a uma crise na condução da política externa do Uruguai, sendo que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Talvi, renunciou ontem ao seu mandato, após quatro meses no cargo, desde o início do governo de Lacalle Pou. Em sua carta de renúncia ele diz que sua intenção “era continuar na Chancelaria até o fim do ano, durante a presidência pro tempore do Uruguai no Mercosul”, mas desde o começo de junho já era considerado demissionário como relatei nas notas de ontem. Seu substituto será o atual embaixador do Uruguai na Espanha, Francisco Bustillo, diplomata de carreira e que foi embaixador por bastante tempo na Argentina. Bom lembrar que Talvi foi candidato a presidente na eleição que elegeu Lacalle Pou. Representando o Partido Colorado, ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições de 2019. Seu apoio a Lacalle Pou, do Partido Nacional, foi fundamental para a derrota da Frente Amplio por uma margem extremamente pequena de votos.

Os EUA viveram ontem (1) um de seus piores dias como país na pandemia do novo coronavírus. Segundo o epidemiologista Anthony Fauci, pode se chegar ao número de 100 mil novas infecções/dia. Ontem foram registrados 52 mil novos casos. Segundo Fauci, “basta olhar os números, as pessoas estão adotando a abordagem do tudo ou nada quando se trata de distanciamento social e uso de máscaras”. Enquanto isso, o país comprou quase toda a produção até setembro do medicamento remdesivir. A fábrica Gilead Sciences vai fornecer 100% de sua produção de julho e 90% de sua produção de agosto e setembro para os EUA. Por enquanto, o remdesivir é o único medicamento aprovado por autoridades norte-americanas e europeias para o tratamento da covid-19.

Em entrevista por videoconferência realizada ontem (1) na sede da OMS, o diretor geral, Tedros Adhanom, disse que “alguns países adotaram uma abordagem fragmentada. Esses países têm um caminho longo e difícil pela frente”. Nesta mesma conferência foi anunciado que a organização enviará dois especialistas de sua sede para a China onde se juntará a equipes que tentam analisar as origens do vírus.

Neste momento há pelo menos três vacinas “competitivas” na corrida mundial por um imunizante para o coronavírus. Uma da empresa BioNTech em parceria com a Pfizer, que acabou de realizar seus primeiros testes. Uma da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca que já está na fase 3 de testes e está sendo testada no Brasil. E outra da chinesa Sinovac Biotech que tem parceria com o Instituto Butantan e também será testada no Brasil com cerca de 9 mil voluntários.

O anúncio de Trump de retirar soldados americanos da Alemanha foi transformado em um plano apresentado esta semana pelo secretário de Defesa, Mark Esper, e o chefe do Estado-Maior do Exército, Mark Milley. Serão remanejados 9500 soldados. Presentes naquele país europeu desde o final da Segunda Guerra, hoje somam mais de 30 mil militares. Trump alega que os alemães se beneficiam da presença militar norte americana sem contrapartidas, mas na verdade a medida está no bojo de uma série de disputas com a potente Alemanha, que acaba de assumir a presidência pro tempore da UE. Entre as disputas estão a aproximação dos alemães com a China, a construção do gasoduto NordStream 2 com a Rússia e as diferenças em relação ao Irã.

O tão propalado anúncio por parte de Israel do plano de anexação de territórios da Palestina estava previsto para ontem (1). Mas a pressão internacional parece estar surtindo efeito. Os comentários gerais são de que Netanyahu aguarda um sinal verde de Trump. O premiê britânico Boris Johnson se pronunciou ontem e disse ser contrário ao plano. Há divisões internas no próprio governo israelense também. Uma ex-chanceler e ex-ministra da justiça israelense, Tzipi Livni, se somou aos que tentam demover o premiê da anexação. Segundo ela, em entrevista à CBC, “a ideia de uma anexação parcial que manteria os palestinos em enclaves com a faixa de gaza rodeada por territórios israelenses não é sustentável (…) seria preferível manter a rota para a paz aberta (sic) e não tomar medidas que nos levariam a todos ao ponto de não retorno”.

Um pedido dos EUA na ONU foi embargado esta semana por Rússia e China no Conselho de Segurança da entidade. O pedido dos americanos era de prorrogação do embargo de armas contra o Irã que vai expirar em outubro. O bloqueio proíbe o Irã de adquirir armamentos no mercado internacional e também de vender suas armas. O embaixador chinês na ONU, Zhang Jung, disse que desde que saíram do acordo com o Irã, em 2018, os EUA não têm mais poder para exigir da ONU sanções contra aquele país. A representação da Rússia, Vassili Nebenzia, também disse que não é possível aceitar a tentativa dos EUA de “legitimar por meio da ONU sua política de pressão máxima”. O secretário de estado, Mike Pompeo, abandonou a videoconferência da reunião antes da fala do ministro de relações exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif.

Foto: voanews.com

O Vietnã continua surpreendendo o mundo em sua política prevenção e cuidados com relação à Covid-19. O país simplesmente não teve óbitos provocados pela doença, seis meses após o início dos casos na China em dezembro de 2019. Está em toda a imprensa hoje que um piloto escocês de 42 anos passou 68 dias hospitalizado com um respirador no país. Mais precisamente em Ho Chi Minh city. Ele foi o último paciente a estar em uma UTI no Vietnã por conta da doença e também o caso mais grave. Ficou conhecido como “paciente 91”. Um dos cuidados que ele recebeu foi através de uma máquina Ecmo que retira sangue do paciente, coloca oxigênio no sangue e volta para o paciente.

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