Empregados do Banco Mundial pedem suspensão da indicação de Weintraub

Carta aberta critica atos como ofensas à China e declaração de que odeia o termo “povos indígenas” e alerta que comportamento é “totalmente inaceitável” na instituição.

(Foto: Reprodução)

A associação de empregados do Banco Mundial mandou uma carta para a comissão de ética da entidade criticando a indicação de Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, para uma diretoria do banco.

A informação foi publicada pelo jornalista Kennedy Alencar, colunista do UOL, que divulgou a íntegra do documento. Segundo o colunista, uma cópia da carta foi enviada a todos os funcionários e a repercussão interna da indicação de Weintraub tem sido muito negativa.

O documento expressa preocupação com comportamentos e atos de Weintraub, como a zombaria e ofensas ao povo chinês, a revogação da portaria prevendo diretrizes para a inclusão de afrodescendentes e povos indígenas em programas de pós-graduação e a fala em que o ex-ministro disse odiar o termo “povos indígenas”.

Eis a íntegra da carta:

Carta Aberta ao Conselho sobre o novo diretor-executivo brasileiro

24 de junho de 2020

A carta a seguir foi enviada ao presidente e vice-presidente do Comitê de Ética do Conselho. Refere-se à recente nomeação pelo Brasil do Sr. Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, como diretor-executivo interino da EDS15 (Brasil, Colômbia, Filipinas, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Equador e Suriname).

Caros Sr. Schoenleitner e Sra. Shuaibu,

A Associação dos Funcionários do Banco Mundial deseja chamar à atenção do Comitê de Ética da Diretoria o registro do Sr. Abraham Weintraub, que deve começar a trabalhar no Banco Mundial na qualidade de diretor-executivo interino da EDS15.

Muitos funcionários ficaram profundamente perturbados ao saber o seguinte:

De acordo com várias fontes, Weintraub publicou um tuíte de acusação racial que zomba do sotaque chinês, culpando a China pelo novo coronavírus e acusando-os de “dominação mundial”, levando o Supremo Tribunal Federal a abrir uma investigação sobre acusações de racismo (crime no Brasil). Weintraub sugeriu que os juízes da Suprema Corte fossem presos.

Weintraub deu declarações públicas contra a proteção dos direitos das minorias e a promoção da igualdade racial (seu último ato como ministro da Educação foi revogar diretrizes para promover cotas para afrodescendentes e povos indígenas no ensino superior). Ele já disse odiar o termo “povos indígenas”.

Embora sua indicação tenha sido condenada por vários países clientes, a Associação dos Funcionários entende que a escolha deste diretor-executivo é do Brasil e somente do Brasil. Dito isto, podemos e devemos garantir que o comportamento e as ações de nossos membros efetivos modelem o Código de Conduta para Funcionários do Conselho —exigindo os mais altos padrões de integridade e ética em sua conduta pessoal e profissional— e alinhados com nossas políticas operacionais, como nossa política de povos indígenas.

Portanto, solicitamos formalmente ao Comitê de Ética que reveja os fatos subjacentes às múltiplas alegações, com vistas a (a) suspender sua indicação até que essas alegações possam ser revisadas e (b) garantir que o Sr. Weintraub seja avisado de que o tipo de comportamento pelo qual ele é acusado é totalmente inaceitável nesta instituição.

O Grupo Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do Conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos. Confiamos que o Comitê de Ética do Conselho compartilhe essa visão e faremos tudo ao seu alcance para aplicá-la.

Atenciosamente, Assembleia Delegada da Associação de Funcionários do Banco Mundial.

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