Copom reduz taxa Selic para 2,25% ao ano, menor da série histórica

O Banco Central (BC) diminuiu, pela oitava vez consecutiva, os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic para 2,25% ao ano, com corte de 0,75 ponto percentual.

Sede do Banco Central em Brasília

A decisão era esperada por analistas financeiros. Segundo a pesquisa Focus do BC dessa semana, a maior parte dos agentes econômicos aguardava uma redução dos juros básicos para o patamar de 2,25%.

Em comunicado, o BC informou que a redução dos juros decidida nas últimas reuniões é compatível com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus e que, para as próximas reuniões, poderá haver um “ajuste residual” no estímulo monetário. No entanto, a manutenção da taxa em patamares reduzidos, no médio prazo, vai depender da trajetória dos gastos do governo no ano que vem, tendo em vista os altos investimentos em recursos para conter os efeitos da pandemia.  

“O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, afirmou o BC, em nota à imprensa.  

Com a decisão desta quarta-feira (17), a Selic está no menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho de 2019.

Inflação

A Selic é considerado pela ortodoxia econômica o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Quanto mais pressão inflacionária, mais o BC aumenta a taxa de juros para reduzir o crédito e desestimular o consumo. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a cair. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo.

Nos 12 meses terminados em março, o indicador fechou em 3,3%, o menor resultado acumulado em 12 meses desde outubro do ano passado.

A inflação, que tinha subido no fim do ano passado, por causa da alta da carne e do dólar, agora deve cair mais que o previsto por causa das interrupções da produção e do consumo provocadas pela pandemia da covid-19.

Para 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu meta de inflação de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderá superar 5,5% neste ano nem ficar abaixo de 2,5%. A meta para 2021 foi fixada em 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.

No Relatório de Inflação divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia o ano em 2,6%. A projeção, no entanto, ficou defasada diante da pandemia de covid-19. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgadas pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 1,97%, mas as estimativas deverão continuar a cair nos próximos levantamentos.

Crédito mais barato

A redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo em um cenário de baixa atividade econômica. No último Relatório de Inflação, o BC projetava crescimento zero para a economia neste ano. No entanto, a previsão tinha sido feita antes do agravamento da crise provocada pelo coronavírus.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.

Empresariais aprovam queda

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o acesso ao crédito em meio à pandemia de covid-19 é fundamental para atravessar a crise. “Mais este corte na taxa Selic certamente contribuirá para a queda do custo de financiamento das empresas e, também, da população, que, mais do que nunca, necessita de crédito para atravessar a fase aguda da crise econômica decorrente da pandemia da covid-19”, disse o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, em nota. 

Para a entidade, a decisão do Copom não compromete o alcance da meta para a inflação e funcionará como estímulo à retomada da atividade econômica. A entidade justifica que a retração na atividade causada pela crise do novo coronavírus provocou queda nos preços de diversos bens e serviços. Com isso, as projeções de inflação para 2020 encontram-se bem abaixo do centro da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4% ao ano.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também entende que a nova redução da taxa básica de juros vai na direção correta. “Esse resultado [da inflação baixa] decorre, sobretudo, da forte queda da demanda e massa salarial por conta dos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Ademais, dados do segundo trimestre indicam que a contração da atividade econômica poderá ser significativamente superior à prevista anteriormente”, disse a entidade, em nota divulgada à imprensa.

De acordo com a Firjan, há necessidade de menor rigidez nas condições de oferta de crédito, para que seja possível se adequar ao novo cenário causado pela covid-19. “As instituições financeiras precisam dar celeridade à sua contribuição para destravar os financiamentos neste período crítico de crise sanitária. Só assim será possível preservar empregos e garantir a retomada mais rápida da atividade econômica”, defendeu a Firjan.

Juros ao consumidor e poupança

A Selic é a taxa básica da economia e serve de referência para outras taxas de juros (financiamentos) e para remunerar investimentos corrigidos por ela. Ela não representa exatamente os juros cobrados dos consumidores, que são muito mais altos.

Com os juros baixos, a poupança rende menos devido a uma regra criada em 2012. Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança é de 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais TR (Taxa Referencial). Porém, quando a Selic é igual ou menor que 8,5%, a poupança passa a render 70% da Selic mais TR.

Com informações da Agência Brasil

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